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Comentário
Autor de vanguarda não faz concessões
IRINEU FRANCO PERPETUO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Se Flo Menezes pode ser acusado de alguma coisa, não é de
excesso de humildade. Vejamos, por exemplo, o que, logo
no início de seu recém-relançado "Música Eletroacústica
-História e Estéticas", de 1996,
ele afirma sobre seu livro anterior, "Apoteose de Schönberg".
Menezes afirma que, "poupando-me de uma eventual pálida modéstia", a obra constitui
"uma pedra fundamental, um
marco na análise da música de
nosso século".
A partir daí, parece fácil partir para o lado da ironia, e dizer
que, do alemão Karlheinz Stockhausen (1928-2007), com o
qual ele travou uma relação
próxima e afetuosa, o que Menezes tem em comum é o ego.
Seria, contudo, uma maneira
maldosa, simplificadora e injusta de descartar tanto o livro,
quanto seu organizador. A segunda edição de "Música Eletroacústica", 13 anos depois, é
mais do que bem-vinda. O livro
traz textos de autores fundamentais do século 20, como
Edgar Varèse, Boulez e Schaeffer. E acompanha, ainda, um
CD que faz um panorama sucinto das tendências da música
eletroacústica no período.
Não menos relevante é "Apoteose de Rameau", no qual Menezes, em parceria com Mauricio Oliveira Santos, traduz textos do belga Henri Pousseur
(1929-2009), seu orientador de
doutorado e um dos nomes
fundamentais da música eletrônica na década de 1950.
Não se trata de livros de leitura fácil; falamos de obras escritas por músicos, e para músicos -o que não lhes reduz o valor nem a importância.
O trabalho teórico não tem
diminuído nem o vigor nem a
inserção da lida musical de Flo
Menezes. Já foi tocado pelo
Quarteto Arditti (o principal
quarteto de cordas do planeta
na área de música contemporânea), e, no Brasil, teve obras estreadas pela Osesp, na Sala São
Paulo, e pela Orquestra Experimental de Repertório, no Teatro Municipal de São Paulo.
Esses feitos parecem mais
relevantes se levarmos em conta que Menezes foi aceito nesses "templos" tradicionais da
música erudita brasileira sem
fazer nenhum tipo de concessão estética. Quando mesmo os
principais nomes das vanguardas brasileiras dos anos 1960
praticam um "retorno" à tonalidade, ele não quer saber de
"nova simplicidade": sua música continua sendo radical, especulativa e vanguardista. Não
se presta à escuta acomodada,
no trânsito engarrafado ou salas de espera: Menezes não veio
para "relaxar", e, sim, para provocar. Ainda bem.
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