São Paulo, terça-feira, 25 de agosto de 2009

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Comentário

Autor de vanguarda não faz concessões

IRINEU FRANCO PERPETUO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Se Flo Menezes pode ser acusado de alguma coisa, não é de excesso de humildade. Vejamos, por exemplo, o que, logo no início de seu recém-relançado "Música Eletroacústica -História e Estéticas", de 1996, ele afirma sobre seu livro anterior, "Apoteose de Schönberg".
Menezes afirma que, "poupando-me de uma eventual pálida modéstia", a obra constitui "uma pedra fundamental, um marco na análise da música de nosso século".
A partir daí, parece fácil partir para o lado da ironia, e dizer que, do alemão Karlheinz Stockhausen (1928-2007), com o qual ele travou uma relação próxima e afetuosa, o que Menezes tem em comum é o ego.
Seria, contudo, uma maneira maldosa, simplificadora e injusta de descartar tanto o livro, quanto seu organizador. A segunda edição de "Música Eletroacústica", 13 anos depois, é mais do que bem-vinda. O livro traz textos de autores fundamentais do século 20, como Edgar Varèse, Boulez e Schaeffer. E acompanha, ainda, um CD que faz um panorama sucinto das tendências da música eletroacústica no período.
Não menos relevante é "Apoteose de Rameau", no qual Menezes, em parceria com Mauricio Oliveira Santos, traduz textos do belga Henri Pousseur (1929-2009), seu orientador de doutorado e um dos nomes fundamentais da música eletrônica na década de 1950.
Não se trata de livros de leitura fácil; falamos de obras escritas por músicos, e para músicos -o que não lhes reduz o valor nem a importância.
O trabalho teórico não tem diminuído nem o vigor nem a inserção da lida musical de Flo Menezes. Já foi tocado pelo Quarteto Arditti (o principal quarteto de cordas do planeta na área de música contemporânea), e, no Brasil, teve obras estreadas pela Osesp, na Sala São Paulo, e pela Orquestra Experimental de Repertório, no Teatro Municipal de São Paulo.
Esses feitos parecem mais relevantes se levarmos em conta que Menezes foi aceito nesses "templos" tradicionais da música erudita brasileira sem fazer nenhum tipo de concessão estética. Quando mesmo os principais nomes das vanguardas brasileiras dos anos 1960 praticam um "retorno" à tonalidade, ele não quer saber de "nova simplicidade": sua música continua sendo radical, especulativa e vanguardista. Não se presta à escuta acomodada, no trânsito engarrafado ou salas de espera: Menezes não veio para "relaxar", e, sim, para provocar. Ainda bem.

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