São Paulo, quarta-feira, 25 de agosto de 2010

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CRÍTICA POP

Wilson acha lugar para o rock em Gerswhin

Líder dos Beach Boys é respeitoso com o ídolo, mas não resiste a incluir guitarras no repertório romântico

THALES DE MENEZES
EDITOR-ASSISTENTE DA SÃOPAULO

George Gershwin, com ajuda das letras do irmão Ira, definiu a canção popular americana dos anos 1920 e 1930. Brian Wilson a redefiniu na década de 1960. Agora, dez anos avançados no século seguinte, a reunião deles não revoluciona, mas produz um grande disco.
A primeira surpresa em "Reimagines Gershwin" é ouvir Wilson cantando tão bem, com seus 68 anos muito vividos (uma boa parte deles numa cama, derrubado por conta do consumo de drogas e da esquizofrenia).
Na turnê de "Smile", que incluiu apresentações no Brasil em 2004, a voz dele não estava tão poderosa.
Claro que ferramentas de correção vocal ajudam no estúdio, mas atire a primeira pedra o cantor pop que não está recorrendo a elas nestes tempos. E não é apenas com Pro Tools que Wilson consegue uma interpretação arrepiante do clássico "Summertime". Janis Joplin iria amar.
O choque de gêneros que o repertório de um poderia impor ao estilo do outro não é tão estrondoso. Aqui não se trata de algo como o Kiss interpretando músicas de Sinatra. Gershwin e Wilson estão unidos pelo impecável domínio da harmonia. Ao lado de Paul McCartney, formariam um triunvirato supremo das canções assobiáveis.
Assim, Wilson não transgride em momento algum as criações de seu ídolo. Ele procura nelas brechas que possa rechear com as marcas registradas dos Beach Boys. Quando as encontra, como em "I Got Plenty O" Nuttin'", guitarras e harmônicas fazem o ouvinte imaginar as garotas californianas de biquíni. Outras canções, como "I Loves You Porgy" ou "It Ain't Necessarily So", são tão irretocáveis que só resta a Wilson tentar (e conseguir) versões belas e respeitosas.
Wilson recebeu da família Gershwin músicas inacabadas e ele terminou duas para o disco. "The Like In I Love You", escolhida o primeiro single do álbum, acabou saindo "mais Gershwin", melosa mesmo, e deve virar peça de repertório de cantores românticos pelo planeta.
"Nothing But Love", a outra inédita, ficou Beach Boys na veia e só não ganha versão em single se a gravadora marcar bobeira. É mais uma que gruda no ouvido.
É engraçado que Wilson, com repertório alheio, tenha registrado aqui faixas que lembrem tanto sua banda. "They Can't Take That Away From Me" e "I Got Rhythm" entram numa coletânea de sucessos dos Beach Boys sem causar a mínima estranheza.
Mais do que mostrar um gênio do rock em fase feliz e criativa, as canções de Gershwin reimaginadas por Brian Wilson formam um álbum romântico e irrepreensível.


REIMAGINES GERSHWIN

ARTISTA Brian Wilson
GRAVADORA Walt Disney Records
QUANTO R$ 30, em média
AVALIAÇÃO ótimo




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