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CRÍTICA POP
Wilson acha lugar para o rock em Gerswhin
Líder dos Beach Boys é respeitoso com o ídolo, mas não resiste a incluir guitarras no repertório romântico
THALES DE MENEZES
EDITOR-ASSISTENTE DA SÃOPAULO
George Gershwin, com
ajuda das letras do irmão Ira,
definiu a canção popular
americana dos anos 1920 e
1930. Brian Wilson a redefiniu na década de 1960. Agora, dez anos avançados no
século seguinte, a reunião
deles não revoluciona, mas
produz um grande disco.
A primeira surpresa em
"Reimagines Gershwin" é
ouvir Wilson cantando tão
bem, com seus 68 anos muito
vividos (uma boa parte deles
numa cama, derrubado por
conta do consumo de drogas
e da esquizofrenia).
Na turnê de "Smile", que
incluiu apresentações no
Brasil em 2004, a voz dele
não estava tão poderosa.
Claro que ferramentas de
correção vocal ajudam no estúdio, mas atire a primeira
pedra o cantor pop que não
está recorrendo a elas nestes
tempos. E não é apenas com
Pro Tools que Wilson consegue uma interpretação arrepiante do clássico "Summertime". Janis Joplin iria amar.
O choque de gêneros que o
repertório de um poderia impor ao estilo do outro não é
tão estrondoso. Aqui não se
trata de algo como o Kiss interpretando músicas de Sinatra. Gershwin e Wilson estão
unidos pelo impecável domínio da harmonia. Ao lado de
Paul McCartney, formariam
um triunvirato supremo das
canções assobiáveis.
Assim, Wilson não transgride em momento algum as
criações de seu ídolo. Ele procura nelas brechas que possa
rechear com as marcas registradas dos Beach Boys.
Quando as encontra, como
em "I Got Plenty O" Nuttin'",
guitarras e harmônicas fazem o ouvinte imaginar as
garotas californianas de biquíni. Outras canções, como
"I Loves You Porgy" ou "It
Ain't Necessarily So", são tão
irretocáveis que só resta a
Wilson tentar (e conseguir)
versões belas e respeitosas.
Wilson recebeu da família
Gershwin músicas inacabadas e ele terminou duas para
o disco. "The Like In I Love
You", escolhida o primeiro
single do álbum, acabou
saindo "mais Gershwin",
melosa mesmo, e deve virar
peça de repertório de cantores românticos pelo planeta.
"Nothing But Love", a outra inédita, ficou Beach Boys
na veia e só não ganha versão
em single se a gravadora
marcar bobeira. É mais uma
que gruda no ouvido.
É engraçado que Wilson,
com repertório alheio, tenha
registrado aqui faixas que
lembrem tanto sua banda.
"They Can't Take That Away
From Me" e "I Got Rhythm"
entram numa coletânea de
sucessos dos Beach Boys sem
causar a mínima estranheza.
Mais do que mostrar um
gênio do rock em fase feliz e
criativa, as canções de Gershwin reimaginadas por Brian
Wilson formam um álbum
romântico e irrepreensível.
REIMAGINES GERSHWIN
ARTISTA Brian Wilson
GRAVADORA Walt Disney Records
QUANTO R$ 30, em média
AVALIAÇÃO ótimo
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