São Paulo, quarta-feira, 25 de agosto de 2010 |
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"Eu sou um mito", afirma Cohn-Bendit
Líder do Maio de 68 diz ser refém daquela época e fala da necessidade de refletir sobre os "erros da revolução"
Folha - Qual a diferença entre
ser jovem hoje e nos anos 60? Em 2008, a "Nouvel Observateur" o acusou de haver "se instalado" no sistema... Em 68, queria a transformação da sociedade por processo revolucionário, mas isso só é possível dentro das instituições democráticas. Por que Maio de 68 parece ser uma herança maldita na França, criticada tanto à esquerda quanto à direita? Ele foi uma resposta à sociedade dos anos 60 e hoje enfrentamos outros problemas. Não é culpa de Maio de 68 se os jovens são indisciplinados ou se há distúrbios nas periferias das grandes cidades. Maio de 68 se tornou hoje um mito e todo mundo tenta instrumentalizá-lo. O sr. se vê como um mito? Sim, em toda parte os jovens falam comigo a partir da imagem que têm de 68. E como seu filho o trata? Bem, ele é malandro: "Mas em 68 você fazia o que queria. Por que agora não quer que eu faça tal coisa?" Aprova a proibição da burca na França? Essa é uma questão inútil, que afeta pouquíssima gente. O que há, sim, é um problema com o integrismo islâmico, não com o islã em si. O Reino Unido, com sua política multiculturalista, lida melhor do que a França com a questão da diferença? Lá é o lugar que mais produz terrorismo, o que prova que o comunitarismo não tornou a sociedade britânica mais unida ou pacificada.
Porque a esquerda parece ser
hoje um fenômeno americano e não europeu?
Na Europa, está ligado ao
fracasso dos sociais-democratas em regular o capitalismo. Na América Latina, acho
que tem a ver com os efeitos
da ditadura. Mas Lula representa uma esquerda de 30
anos atrás, que defendia o
produtivismo a todo custo. O
Brasil pode pagar muito caro
por isso, pois está fracassando em sua virada ecológica.
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