São Paulo, quinta-feira, 25 de agosto de 2011

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CRÍTICA DRAMA

Relações de trabalho rendem boa sátira em "O Contrato"

Espetáculo narra o embate entre um chefe controlador e sua funcionária

LUIZ FERNANDO RAMOS
CRÍTICO DA FOLHA

O drama como espelho dos costumes. "O Contrato", de Mike Bartlett, retrata ironicamente as relações profissionais em tempos de crise. Escrita em 2007 para o rádio, foi encenada em 2008 no Royal Court Theatre, em Londres, e projetou o dramaturgo inglês como uma das vozes emergentes do teatro.
A renovação dramática na Inglaterra ocorre sempre pela via dos temas e quase nunca por invenções formais. O texto de Bartlett confirma essa tradição.
Ele leva ao absurdo as invasões de privacidade cometidas na cultura empresarial dominante. No diálogo de um gerente e de uma funcionária, satiriza o controle que as corporações exercem sobre a vida afetiva dos empregados.
A princípio motivada e segura de si, a moça é aos poucos esmagada pela curiosidade intrusiva do gerente.
Entre momentos cômicos e situações quase trágicas, o autor faz sarcasmo com a degradação moral que o apego a um bom emprego gera. A encenação de Zé Henrique de Paula vai além do óbvio humor negro inerente ao original. Transforma as 14 sessões em que os dois personagens se confrontam em um jogo teatral interessante.
Nesse jogo, sobressai uma curiosa movimentação gestual, simultânea às falas, que sobrepuja a própria trama. É como se essa sutil linguagem corporal explicitasse melhor as reais relações de poder daquele ambiente. Evidente que esse resultado deve muito ao desempenho de Sergio Mastropasqua, como o chefe inquisidor, e de Renata Calmon, como a infeliz subordinada.
Por seu papel pressupor uma autoconfiança inabalável, ele traça com mais nitidez o arco do personagem. Já ela, cujo papel implica o processo de quebrar-se em pedaços para se manter empregada, nem sempre delineia bem sua transformação. A sintonia entre os dois atuantes, porém, acaba encobrindo esses hiatos.
A montagem brasileira de "O Contrato" enriquece o texto e comprova o talento de seu encenador. Ainda assim, é só mais um drama inglês discutindo os hábitos contemporâneos com sagacidade e ironia.

O CONTRATO
QUANDO sex., às 21h30; sáb,. às 21h; dom., às 19h; até 18/9
ONDE teatro Cultura Inglesa (r. Dep. Lacerda Franco, 333; tel. 0/xx/11/3814-0100)
QUANTO de R$ 20 a R$ 30
CLASSIFICAÇÃO 14 anos
AVALIAÇÃO bom


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