São Paulo, terça-feira, 25 de setembro de 2001 |
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Marcelo D2 produz álbum com dez artistas/bandas do movimento underground carioca Hip hop em erupção
Com distribuição alternativa, "Hip Hop Rio" será vendido nas bancas de jornal do país como CD-revista
PEDRO ALEXANDRE SANCHES DA REPORTAGEM LOCAL Depois dos Racionais MC's e seu selo Cosa Nostra, depois de Lobão e seu selo virtual Universo Paralelo, depois até de Maria Bethânia (recém-contratada pela gravadora independente carioca Biscoito Fino), é a vez do rap carioca dispensar intermediários multinacionais para se expressar nacionalmente. Produzido por Marcelo D2, 33, também líder do Planet Hemp, o disco "Hip Hop Rio" acaba de sair do prelo, apresentando nacionalmente dez artistas/bandas do movimento underground carioca. O esquema alternativo é o mesmo que Lobão usou para vender 50 mil cópias de seu "A Vida É Doce" há dois anos: "Hip Hop Rio" está chegando às bancas de jornal do país, como CD-revista, pelo preço fixo de R$ 14,90. Quem pilota a idealização do disco é o recém-instituído selo Coletivo, do próprio D2, em sociedade com o produtor e poeta carioca Bruno Levinson, 33. Quem viabiliza o lançamento é outro selo independente carioca, Net Records, fundado no ano passado a partir da experiência com Lobão, com o objetivo de incrementar a distribuição alternativa, fora das lojas (e das garras das grandes gravadoras). Dado curioso é o modo como se levantou o investimento para o "Hip Hop Rio". Leonardo Bourbon, 29, um dos donos da Net Records, tem raízes no mercado financeiro carioca e conseguiu congregar um grupo de 16 investidores -pessoas físicas, em geral jovens que atuam como operadores de câmbio e ouro em bancos. Cada investidor adquiriu de cinco a 20 cotas de R$ 1.000. Em apenas três dias, R$ 110 mil haviam sido reunidos, graças às relações de Bourbon no mercado e ao exemplo de rentabilidade deixado pelo "A Vida É Doce", de Lobão. O CD-revista "Hip Hop Rio" precisa vender 14 mil cópias para se pagar, e a prensagem inicial é de 30 mil exemplares. "Os investidores são nossos sócios, na prática. Assumem os riscos de perda e auferem lucros com o sucesso. Ninguém está olhando se o hip hop é subversivo ou não, todo mundo quer retorno financeiro", descreve Bourbon. Marcelo D2 e Bruno Levinson vinham trabalhando no disco, em estúdio, havia três anos. "Fomos produzindo e, na hora de viabilizar, nos associamos à Net Records", conta Levinson. A base é a festa/show Hip Hop Rio, organizada pela dupla e apresentada por D2 na Lapa desde 97. "A ambiência ao vivo que aparece no disco foi feita em estúdio, para reproduzir o clima da festa", afirma Levinson. D2 define a importância que sonha que "Hip Hop Rio" venha a adquirir: "Acho que é um começo legal para a nova geração das bandas de hip hop do Rio. Uma coletânea anterior, "Tiro Inicial", foi feita há uns dez anos". Armando o recomeço, D2 fala das diferenças entre o hip hop carioca e o paulista, que até aqui tem dominado essa cena no Brasil: "A diferença principal é o BPM. As batidas no Rio são mais rápidas. Mas em São Paulo já aparecem bandas que se diferenciam do rap paulista, mais lentão, como SNJ, SP Funk, Rappin" Hood, Xis. A linguagem das letras também é diferente, tentamos fazer uma parada do bem, sem tiro, para levantar a moral da galera". Outra especificidade do CD é a presença da Negaativa, segundo D2 uma das duas únicas bandas de hip hop de meninas no Rio. Selo próprio à parte, D2 diz que continua na Sony, a quem o Planet Hemp ainda deve dois discos. Diz que o selo Coletivo não é balão de ensaio para uma possível carreira independente dele ou do grupo, mas não suaviza críticas ao modelo multinacional: "Nas grandes gravadoras, é tanta gente fazendo tão pouca coisa. É tudo glamour, limusine, hotel cinco estrelas. Esse esquema é uma furada, acho que a saída vai ser a independência mesmo". Texto Anterior: Programação de TV Próximo Texto: Crítica: Disco traz balanço e bom humor Índice |
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