|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CRÍTICA
Moore acredita que pode mudar o mundo
DO CRÍTICO DA FOLHA
Em entrevista recente à Folha, Susan Sontag definiu os
EUA como um país "surreal". "O
que me impressiona é a quantidade de gente louca que vive por lá",
disse. "Tiros em Columbine" é o
retrato preciso de um dos aspectos não-racionais dos Estados
Unidos: o amor pela violência.
O cineasta Michael Moore poderia ter feito de "Tiros em Columbine" uma sátira vazia, seguindo um punhado dos donos
de armas malucos e provocando
na platéia boas risadas. Mas seu
filme é bem mais ambicioso e chega a conclusões pertinentes.
Moore é um documentarista
que leva ao pé da letra o clichê da
"câmera como arma". Às vezes
sua militância política atropela
sua argumentação, às vezes fatos
históricos são embaralhados sem
rigor. Mas o fato é que raras vezes
o cinema americano foi capaz de
olhar para o próprio umbigo de
forma tão lúcida.
O que há de mais provocativo
no cinema de Moore não são as
críticas fáceis a George Bush e à
política militarista dos EUA, mas
sua cara-de-pau ao recorrer à
chantagem e ao sentimentalismo
para chegar onde quer.
A câmera de Moore não mata,
mas humilha. O cineasta recorre,
enfim, à manipulação emocional,
algo que também é parte indissociável do cinema americano. Se
tem o direito de fazer isso em nome de suas convicções e do que
acha justo, bom, essa é a grande
questão do cinema documental.
Moore, pelo menos, ainda acredita que pode mudar o mundo
com o cinema. Existe beleza aí,
apesar de tudo.
(PEDRO BUTCHER)
Tiros em Columbine
Direção: Michael Moore
Produção: EUA, 2002
Quando: primeira sessão no dia 3/10,
16h30, no cine Estação Botafogo 1; mais
informações no site www.festivaldoriobr.com.br
Texto Anterior: Violência Próximo Texto: Mônica Bergamo Índice
|