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Obra costura relação com Sérgio Cardoso
DA REPORTAGEM LOCAL
"Um rapazinho magro, moreno, usando óculos fininhos de aro
de prata, uma boina preta e cachecol cinza." Nydia Licia é minuciosa ao lembrar o primeiro encontro com Sérgio Cardoso, em 1948,
quando o ator e o elenco daquele
mitológico "Hamlet" carioca visitaram o Museu de Arte de São
Paulo, trazidos por Paschoal Carlos Magno.
Na noite seguinte, a peça seria
apresentada no Municipal e embasbacaria a todos com a interpretação de Cardoso (1925-72),
então um jovem advogado, para o
príncipe dinamarquês da tragédia
de William Shakespeare.
Em "Ninguém se Livra de Seus
Fantasmas", a autora costura sua
relação com Cardoso, com quem
foi casada por dez anos (1950-60)
e teve uma filha, Sylvia.
"Sérgio foi um dos homens
mais charmosos que conheci, mas
seu gênio era muito inconstante.
Passava facilmente da maior alegria ao mau humor mais profundo. Fechava-se em mutismos totais, que me deixavam completamente angustiada e insegura. E
tudo isso começou a afetar meu
equilíbrio emocional", descreve.
A criação da cia. Nydia Licia-Sérgio Cardoso, em 1956, é um
dos momentos mais marcantes
da união. Artistas do palco tornam-se empresários. Ela, mais
dada a comédias. Ele, a papéis introspectivos, soturnos.
O ator canaliza todas as suas
energias para a remontagem de
"Hamlet", agora assinando também como diretor.
Os dois anos que antecedem a
construção do teatro Bela Vista, a
busca de recursos e o processo de
criação do espetáculo aumentam
a tensão.
Não são poucas as vezes em que
Cardoso explode diante do elenco
que traz nomes como a própria
Nydia (rainha Gertrudes), Carlos
Zara (rei Cláudio) e Berta Zemel
(Ofélia), esta pisando descalça o
palco frio como o inverno daquele distante 1956.
Um rico material iconográfico,
com cerca de cem imagens, reforçam a autobiografia de uma
Nydia bela, ontem e hoje.
(VS)
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