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TELEVISÃO
Ministro da Justiça diz que punição pode ser considerada "censura prévia'; apresentador não depõe na Câmara
Bastos diz ser contra a suspensão de Gugu
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DA ENVIADA ESPECIAL A BRASÍLIA
O ministro da Justiça, Márcio
Thomaz Bastos, disse ontem ser
contra a suspensão prévia do programa "Domingo Legal", de Gugu Liberato. Engrossando a polêmica sobre a decisão judicial que
proibiu a veiculação, o ministro
defendeu que a punição deve
acontecer "a posteriori".
Caso contrário, pode ser caracterizada a "censura prévia" -vedada pela Constituição de 88.
"O sistema condicional [legal]
brasileiro prevê o controle a posteriori e não a censura prévia",
afirmou Bastos em entrevista à rádio CBN. Procurado para se manifestar, o ministro divulgou a íntegra da sua fala à radio.
A estratégia do governo, segundo apurou a Folha, é monitorar a
próxima edição do programa. Se
não houver mudanças no conteúdo, a Secretaria Nacional de Justiça pode alterar a classificação indicativa e recomendar a exibição
somente após as 21h.
A recomendação representaria
um baque nas contas do SBT, que
fatura cerca de R$ 1 milhão a cada
domingo com a atração. Com a
mudança de horário, em vez de
disputar com o "Domingão do
Faustão", similar exibido pela
Globo, Gugu enfrentaria o "Fantástico", tradicional campeão de
audiência em seu horário.
O programa de Gugu que iria ao
ar no domingo passado não foi
transmitido por decisão liminar
da Justiça federal.
No último dia 7, foi exibida uma
entrevista com supostos membros da facção criminosa PCC
(Primeiro Comando da Capital),
na qual dois homens encapuzados fizeram ameaças a autoridades e artistas.
Na avaliação de Bastos, o SBT
foi punido por um programa que
não foi ao ar. E não pela edição
anterior, em que ocorreu a entrevista. "Não gosto da idéia de suspender um programa previamente. Acredito que a fixação da responsabilidade tem que ser a posteriori, do ponto de vista legal."
Na prática, o Ministério da Justiça não pode "punir" o SBT pela
veiculação do programa. A Secretaria Nacional de Justiça pode
apenas recomendar o horário de
exibição com base no conteúdo.
Ao avaliar os programas, a secretaria detecta a presença de cenas de sexo ou violência. Se houver imagens desse tipo, há ainda
uma segunda peneira, de acordo
com o grau de exposição do tema.
Caso viole a lei, o SBT pode responder administrativamente ao
Ministério das Comunicações por
ser uma concessão pública. A comissão jurídica da pasta divulga
hoje a sua avaliação sobre a entrevista. Só então será decidido se
haverá processo administrativo
contra a emissora.
Procurada, a assessoria do SBT
diz que não comenta o caso.
Na Câmara
Em carta enviada ontem à Câmara, Gugu Liberato afirmou que
o episódio foi um "acidente grave" e se disse disposto a discutir
com os deputados os "riscos de
censura na televisão".
Gugu havia sido convidado para depor na Comissão de Direitos
Humanos. Ontem, a comissão
aprovou novo requerimento convidando o apresentador.
Na carta, enviada por fax, Gugu
se desculpa por não comparecer à
reunião e diz que, por respeito à
polícia de São Paulo, que investiga
o caso, irá conversar antes com as
autoridades paulistas.
No Senado
Senadores de vários partidos
criticaram a decisão judicial. Para
tentar sensibilizar os colegas a favor do SBT, Marcelo Crivella (PL-RJ) levou ao plenário José Luis
Soares, um garoto de dez anos
que é portador de deficiência física e é atendido pelo Teleton
-programa levado ao ar pelo
SBT para arrecadar recursos para
ações de atendimento a crianças
portadores de deficiência.
Líderes do PMDB, Renan Calheiros (AL), do PFL, José Agripino (RN), e do PDT, Jefferson Péres (AM), condenaram a entrevista, mas se disseram preocupados
com a suspensão do programa.
(IURI DANTAS, RAQUEL ULHÔA E LILIAN CHRISTOFOLETTI)
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