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MÚSICA
"Heranças do Samba" defende a permanência do gênero e faz um mapeamento territorial de seus compositores
Livro sublinha geografia do samba carioca
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL
Um mapeamento do samba
pela ótica de seus compositores é o que se propõe a fazer
"Heranças do Samba", escrito a
seis mãos pelo compositor Aldir
Blanc e pelos jornalistas Hugo
Sukman, de "O Globo", e Luiz
Fernando Vianna, da Folha.
Dada a sua composição mista, a
obra entremeia momentos mais
poéticos (provável cortesia de
Blanc) com fundamentos de livro-reportagem -é abundante
em entrevistas com atores do
samba, material fotográfico etc.
Traz duas novidades em relação
à (pequena) bibliografia já disponível do samba. A primeira delas é
que, sem querer se deter unicamente no Rio de Janeiro, acaba
contando uma história geográfica
do samba da cidade.
Isso se dá pela criação de sete
grandes blocos que organizam os
diversos compositores em disposição quase sempre geográfica,
norteando a definição de capítulos para Serrinha (o que dá a gentil oportunidade de iniciar o texto
por Dona Ivone Lara, principal
compositora viva do gênero), Oswaldo Cruz, Vila Isabel, Mangueira, Ramos e assim por diante.
É rico para quem não seja familiarizado com as implicações territoriais na constituição dos diversos subgêneros de samba. Ali
aprende-se, por exemplo, que
Paulinho da Viola organizou uma
ponte espontânea entre o samba e
a zona sul, quando injetou em seu
bairro natal do Botafogo os saberes de Oswaldo Cruz (e da Portela). Descobre-se que a Vila Isabel
não é só chão fértil do samba carioca de Noel Rosa a Martinho da
Vila, mas abriga ainda um estuário do samba de roda baiano, de
Roque Ferreira, Edil Pacheco etc.
Dentro de tal arquitetura, o livro
fica a dever aos não-cariocas, por
não ilustrar com mapas geográficos o trânsito entre morros, bairros e zonas que o texto revela.
A segunda novidade é o esforço
por atestar a permanência do
samba, mesmo diante das ondas
diluidoras dos anos 80 e 90 -o
partido alto e o pagode da geração
Fundo de Quintal são vedetes em
"Heranças do Samba". Desemboca na movimentação atual do núcleo do Cacique de Ramos, com
nova geração que tenta dar continuidade às invenções de Zeca Pagodinho e Fundo de Quintal.
Embora não explicite um certo
empobrecimento poético resultante da supremacia dessa vertente, o livro é pródigo em apresentar
nomes que até hoje pouco atravessaram as fronteiras do Rio:
Sérgio Procópio, Fred do Salgueiro, Agrião, Márcia Moura e os ditos pragmáticos, que se dividem
entre o partido alto e o pagode romântico, como Carlos Caetano,
Adrianinho etc. Aqui a discussão
ameaça entrar no terreno da diluição do samba -e esquenta.
Informativo e objetivo, o livro
bambeia entre essas qualidades e
uma ou outra desvantagem -as
intervenções abruptas e algo confusas de textos mais livres e poéticos, a falta de espaço para aprofundar qualquer dos debates esboçados e atiçados. "Heranças do
Samba" demanda continuação.
Heranças do Samba
Autores: Aldir Blanc, Hugo Sukman e
Luiz Fernando Vianna
Editora: Casa da Palavra
Quanto: R$ 40 (168 págs.)
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