São Paulo, terça-feira, 25 de setembro de 2007

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comentário

"Se Jack Bauer pode, por que não nós?"

SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

Separar a obra de arte do "zeitgeist" político em que ela foi concebida e está inserida é como dizer que a cineasta nazista Leni Riefenstahl (1902-2003) era uma documentarista com queda pela película em preto-e-branco.
"24 Horas" é, sim, o reflexo mais bem-feito, bem-acabado e de maior repercussão em formato de seriado de TV das liberdades jurídicas que o governo Bush vem tomando em relação a conceitos como habeas corpus e direito a julgamento justo desde o ataque de 11 de Setembro.
Seu sucesso e os dilemas éticos que propõe podem ser medidos tanto pelo curso que agora é oferecido na faculdade de Washington quanto por declarações recentes que vão do ex-presidente Bill Clinton (que gosta de "24 Horas") ao professor de Harvard Alan Dershowitz (que defende que, se na vida real a tortura é inevitável, que pelo menos sua aplicação seja supervisionada por um juiz, como em Israel).
Mas é o aspecto "vida imita arte que imita vida" -primeiro narrado por uma jornalista da revista "New Yorker"- que mais impressiona. Há alguns meses, o militar que comanda a principal escola de formação de oficiais dos EUA pediu uma reunião com o produtor-executivo da série, Joel Surnow, um estranho no ninho de Hollywood, por suas convicções conservadoras.
Queria pedir que os roteiristas "maneirassem" nas cenas de tortura entre Jack Bauer e os suspeitos de terrorismo, pois começavam a ouvir dos recrutas algo como "Se ele pode, por que não nós?". De fato, ampliada, é a pergunta que se impõe a milhões no mundo ao ouvir falar de Guantánamo, das comissões militares especiais, dos "vôos secretos" da CIA, do tratamento "não-convencional" a prisioneiros: se os americanos podem, por que não o resto?


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