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Crítica/"Última Parada 174/ruim
Longa simplifica desordem do mundo e absolve personagem
Filme define protagonista como vítima e trata sua morte como uma sucessão de acasos
CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA
A
primeira imagem de
"Última Parada 174" é
de uma novela da Globo
intitulada "Paraíso". Mas isso
só descobrirá o espectador que
decidir ler os créditos do filme
até o final. De algum modo, a
informação retardada indica
que a citação da novela não pretende ser uma ironia com a vida
infernal que veremos.
É por contaminação de outro
efeito que ela ganha importância e anuncia o que virá a seguir.
O diálogo adocicado e a música
melosa da ficção da TV extrapolam o aparelho e passam a
integrar a cena de violência trágica na qual os personagens
centrais são apresentados.
Essa mistura dos sons e das
imagens serve para enfatizar
que estamos, seja na TV ou
dentro do barraco, no terreno
do melodrama.
A cena marca a ruptura de
um laço familiar e a entrada de
Sandro no crime. Daí até o fim,
o filme definirá para o personagem uma trajetória de vítima,
evitando apontar evidências
sobre os responsáveis por sua
exclusão, definido-a, antes, como uma sucessão de acasos.
A estratégia está na essência
do melodrama, gênero no qual
a simplificação extrema da desordem do mundo converte o
fracassado em vítima de um
complô que o isenta de culpa.
Trata-se de uma ficção, pode-se
alegar, o que o poupa de comparação com a estratégia de José
Padilha no documentário "Ônibus 174", no qual se desenha o
percurso de Sandro a partir da
matriz da injustiça social.
Mesmo que a equação "favela
+ tráfico" faça parte do filme,
Bruno Barreto evita expor razões sociais, preferindo ocupar-se em converter em boas
imagens o roteiro turbinado de
Bráulio Mantovani, no qual as
situações da vida de Sandro se
sucedem como se tivessem sido
regidas por um destino contra o
qual não adianta lutar.
Desse modo, a culminação de
sua trajetória com o seqüestro
do ônibus isenta o espectador
de qualquer sentimento de responsabilidade. E satisfaz uma
parcela de público que intimamente apóia a solução "bandido bom é bandido morto".
Avaliação: ruim
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