São Paulo, quinta-feira, 25 de setembro de 2008

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Abstracionismo de Fayga Ostrower é tema de mostra

Exposição entra em cartaz na Caixa Cultural

SILAS MARTÍ
DA REPORTAGEM LOCAL

A grande dama da gravura caminhava sozinha. Quando Fayga Ostrower (1920-2001) mostrou os primeiros sinais de ruptura com o expressionismo, em "Cabeça de Mulata", seu colega Oswaldo Goeldi, da mesma vertente, perguntou, enraivecido, onde ela queria chegar com aquilo. Ela disse, sem zombar do artista, que não sabia. Na obra, uma forma ovóide negra envolta numa avalanche de manchas brancas dá só a idéia do que seria a tal cabeça de mulata. Era 1953, no Rio, e prevalecia o expressionismo de cunho social, retrato figurativo da miséria. Numa guinada radical, ela tomou distância de Livio Abramo, Goeldi e Lasar Segall e, nessa rota solitária, virou a maior expoente do abstracionismo informal no Brasil. As gravuras "Cabeça de Mulata" e "Prometeus", peças-chave de uma mostra com 80 obras da artista aberta hoje pela Caixa Cultural, são exemplos dessa transição marcada do expressionismo para o abstrato. Na mostra, é possível acompanhar a evolução de seu trabalho, do primeiro momento em que se aproximou da expressionista alemã Kathe Köllwitz à fase mais conhecida de sua carreira, em que suas gravuras lembram Barnett Newman e Willem de Kooning, nos EUA. Mas entre Goeldi e a escola de Nova York, havia Cézanne (1839-1906). "O Cézanne vai desvendar para ela as questões de ordem formal", diz a artista e curadora da exposição, Anna Bella Geiger. As camadas de cor do artista francês e a composição dos volumes geométricos a partir dos tons sobre a tela são influências claras em "Políptico do Itamaraty" (1968). Com impressões sobrepostas, Ostrower atingiu um efeito de transparência e conseguiu traduzir para a gravura o pré-cubismo de Cézanne. Na superfície vertical de "7004", Ostrower criou as mesmas transparências, estampando camadas de cor que lembram, segundo Geiger, a "busca pelo sublime" na obra dos abstracionistas norte-americanos.

FAYGA OSTROWER
Quando: abertura hoje, às 19h30; de ter. a dom., das 9h às 21h; até 2/11
Onde: Caixa Cultural (pça. da Sé, 111, tel. 0/xx/11/3321-4400; livre)
Quanto: entrada franca



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