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Surto político
Caso de censura de obra a favor
do PT e acusação da OAB de
apologia ao terrorismo
turbinam início, hoje, da 29ª Bienal
Daniel Marenco/Folhapress
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Autorretratos de Gil Vicente assassinando figuras célebres
SILAS MARTÍ
DE SÃO PAULO
Quando armar uma fogueira com barras de gelo no
gramado do Ibirapuera hoje
de manhã, o artista Paulo
Bruscky vai resumir de forma
sutil um debate que incendeia esta Bienal de São Paulo, aberta agora ao público.
São labaredas congeladas
que desaparecem com o tempo, marcando sem gritos a
forte tensão entre estética e
suas dimensões políticas.
Em situação mais nervosa,
a 29ª Bienal, que discute a
natureza política da arte, teve uma obra censurada após
um alerta da Justiça Eleitoral
e um pedido da Ordem dos
Advogados do Brasil para a
remoção de outra peça.
Roberto Jacoby, artista argentino que fez em pleno pavilhão uma espécie de campanha por Dilma Rousseff,
candidata petista à Presidência, teve o trabalho tapado.
Segundo a Procuradoria
Regional Eleitoral, é proibido
fazer campanha em prédios
públicos e em eventos que recebem dinheiro do governo,
caso da Bienal de São Paulo.
"Não se pode fazer política
na Bienal de política", disse
Jacoby no dia em que cobriram seu trabalho. "Talvez a
Bienal devesse falar de decoração, seria mais sincero."
Outro artista, Gil Vicente,
mostra uma série de autorretratos em que aparece assassinando líderes políticos e religiosos, entre eles o presidente Lula e George Bush.
"Minha questão era muito
direta, era expurgar a raiva
que tinha", diz Vicente. "Não
entendo de arte e também
não leio nada sobre arte."
No caso, a OAB de São
Paulo acusou o artista de fazer apologia ao terrorismo.
É uma discussão que ronda até agora só a casca polêmica dessas obras, mas turbinou o debate sobre o que
significa arte política hoje.
Passada essa barreira do
óbvio, outros artistas, que
por enquanto chamaram menos a atenção, mostram que
política se traduz em estética
de outros modos.
"É óbvio para qualquer débil mental que um desenho
numa Bienal não incita o terrorismo", diz Nuno Ramos,
artista que montou um viveiro de urubus no vão central
do pavilhão de Niemeyer.
"Mas há obras políticas explícitas que preservam a ambiguidade", afirma. "A questão é um pouco o quanto a
obra consegue e quanto uma
obra deve ser ambígua."
Seus urubus enjaulados,
que voam ao som de "Bandeira Branca" e "Carcará",
não apontam armas nem enfiam a faca na garganta do
presidente, mas parecem fazer críticas numa frequência
um tanto mais discreta.
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