São Paulo, domingo, 25 de setembro de 2011

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VANESSA VÊ TV

VANESSA BARBARA - vanessa.barbara@uol.com.br

Politicamente cruel

No dia 16 de setembro, estreou no Brasil o filme "Glee 3D", que conta os bastidores da turnê musical pelos EUA dos protagonistas da série.
Prenunciando o fracasso de bilheteria do longa, o astuto produtor do filme soltou um comunicado à imprensa, supostamente escrito pela vilã da série Sue Sylvester, a treinadora das líderes de torcida e arquirrival do clube de canto que dá nome ao show.
"Diga não a essa experiência cinematográfica insignificante", ela bradou. "Seu rosto vai derreter e seus filhos irão chorar sobre o cadáver desfigurado."
De forma absolutamente inadequada, lembrei do escritor argentino Jorge Luis Borges, que clamava pelo direito de escrever uma crítica impiedosa contra si mesmo, pois ninguém conhecia melhor do que ele os próprios defeitos.
Egocêntrica e mesquinha, Sue Sylvester é um dos acertos da série, com tiradas difamatórias, o invariável abrigo de ginástica e o costume de empurrar as crianças no corredor.
Ela é um complemento perfeito à sinceridade tocante do diretor Figgins, que é capaz de dizer coisas como: "Infelizmente, Fulano não pôde comparecer por desinteresse".
Certa vez, ele anunciou pelos alto-falantes: "Os alunos que comeram o ravióli hoje e não estão em dia com a vacina de tétano devem ir à enfermaria imediatamente".
Sue Sylvester não perde para Figgins em franqueza -ela é autora do best-seller "Eu Sou Uma Campeã e Você
É Gordo" e gosta de se referir aos membros do Clube Glee como "perdedores que brincam de druidas e gnomos".
Seu método pedagógico se traduz num "estado de medo constante, um ambiente de terror irracional e aleatório". Seu bordão: "Vocês acham isso difícil? Experimentem a tortura por afogamento".
Num momento raro de ternura, Sue confessa que não deseja fazer as pazes com o diretor do clube de canto Will Schuester, mas golpeá-lo com uma pá.
Anota todos os planos malévolos num diário, como quando falhou em trocar as cadeiras da escola por traves afiadas. O que resultou, no entanto, "numa retumbante derrota em minha guerra contra sentar".
Uma pérola: "Se você atrasar um minuto, irei ao abrigo de animais e lhe trarei um gatinho. Deixarei que você se apaixone pelo filhote. E aí, numa noite escura e fria, invadirei a sua casa só para surrá-lo".
Chega de vilões sentimentais. O mundo precisa de uma nova Cruella Cruel.


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