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Diretor recria Bacon no cinema
ISABEL VERSIANI
de Londres
Ao fazer o filme "Love Is the Devil" (O Amor É o Diabo), o diretor
John Maybury afirmou que sua intenção era, mais do que falar sobre
a vida do artista, reproduzir para a
tela o seu universo estético.
E, de fato, o que mais impressiona no filme, que estreou esta semana no Reino Unido, são as imagens
e as sensações que elas sugerem.
Como as pinturas de Bacon, muitas das cenas de "Love Is the Devil"
são distorcidas, claustrofóbicas e
até angustiantes.
O papel título é vivido por Derek
Jacobi, ator de teatro inglês conhecido no Brasil por suas participações em "Hamlet" e "Voltar a Morrer", do diretor Kenneth Branagh.
O fio condutor do roteiro é o relacionamento que Bacon manteve
com o inglês George Dyer (Daniel
Craig), que também era garoto de
programa.
Como mostra o filme, Dyer entrou na vida de Bacon, em 1964, literalmente pelo telhado. Em uma
tentativa malsucedida de assaltar a
casa do pintor, ele atravessou o teto de vidro e caiu no meio do estúdio do artista.
Bacon, que era homossexual, o
encontrou no meio das telas e potes de tintas e os dois iniciaram, na
mesma noite, um romance que durou sete anos.
Apesar de levar uma vida um
tanto degradante -Bacon era viciado em álcool, drogas e jogo-, o
artista era inteiramente comprometido com o seu trabalho e, como
parece sugerir o filme, isso o fazia
uma pessoa um tanto impaciente
emocionalmente.
"Eu espero continuar pintando
-enquanto bebo e jogo- até cair
morto e eu espero morrer trabalhando", disse uma vez o pintor.
Seu relacionamento com Dyer,
que era depressivo, toxicômano e
masoquista, foi muito conturbado
e, depois de algumas tentativas
frustradas, o assaltante acabou se
suicidando em um quarto de hotel
em Paris, em 1971.
Nascido em Dublin, Bacon não
teve nenhum treinamento formal
em pintura e iniciou sua carreira
artística em 1927, depois de ver
uma exposição de Pablo Picasso
em Paris.
Depois de alguns fracassos, desistiu da carreira e se tornou decorador de interiores e designer.
Voltou a pintar apenas em 1944,
No ano seguinte, ganhou fama ao
expor, em Londres, sua série "Três
Estudos para Figuras na Base de
uma Crucificação". As obras, hoje
expostas na Tate Gallery, em Londres, tem como referência uma cena do filme "O Encouraçado Potemkin", de Sergei Eisenstein.
Suas figuras retorcidas e animalescas chocaram a cena artística do
Reino Unido e transformaram Bacon no artista mais polêmico do
país. "Love Is the Devil" faz referência à obra ao mostrar Bacon assistindo a uma cena do filme de Eisenstein.
Bacon morreu em Madri, no dia
28 de abril de 1992, quando visitava um amante seu na capital espanhola.
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