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Herbie Hancock comanda noite de pianistas de jazz
Com Stefano Bollani e Ahmad Jamal, jazzista se apresenta sexta no Auditório Ibirapuera, com ingressos esgotados
Quem não identifica Hancock por suas gravações com Miles Davis, o conhece
como autor do hit mundial "Cantaloup Island"
CARLOS CALADO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Não é preciso organizar uma
enquete entre o público do Tim
Festival para se descobrir por
que os ingressos para a noite de
abertura, em São Paulo (nesta
sexta-feira, no Auditório Ibirapuera), esgotaram-se em apenas três dias, mais de um mês
atrás. No programa dessa noite
tão disputada, ao lado dos aqui
pouco conhecidos pianistas
Ahmad Jamal e Stefano Bollani, está o nome de Herbie Hancock. Um dos músicos de jazz
mais populares nos últimos 40
anos, ele também vai se apresentar em Vitória, no sábado, e
no Rio, no domingo.
Quem não identifica Hancock pelos discos que gravou
com as inventivas bandas do
trompetista Miles Davis durante grande parte dos anos 60, ou
por suas incursões pelo jazz-rock e pelo funk com a banda
The Headhunters, nos anos 70,
provavelmente o conhece como autor de "Cantaloup Island", que a banda inglesa de
acid jazz Us3 transformou em
hit mundial, na década passada.
"Uma das melhores características do jazz é a de ser aberto,
de ser inclusivo", disse Hancock, 66, em entrevista à Folha, por telefone, de Los Angeles (EUA). Seus diálogos com
outros gêneros musicais já lhe
renderam prêmios e recordes
de vendagem mas também narizes torcidos de críticos e fãs
mais conservadores.
O caso mais recente foi o álbum "Possibilities", que Hancock lançou em 2005. Nele, o
pianista e tecladista aparece
em duos com diversos nomes
da música pop, como Christina
Aguilera, Annie Lennox, Sting,
Santana e Joss Stone.
"É um álbum diferente de tudo que eu fiz antes. Em termos
sonoros, não se trata de um trabalho de vanguarda, mas a concepção desse álbum é realmente nova. Tenho muito orgulho
desse trabalho", diz ele, rebatendo as críticas que acusaram
o projeto de ser excessivamente comercial.
A boa notícia para os fãs que
desaprovaram esse álbum é
que Hancock não pretende reproduzi-lo no Tim Festival, até
porque nem poderia contar
com as presenças de seus convidados. "Provavelmente, vou
tocar uma combinação de jazz
acústico e elétrico", diz ele, deixando essa definição para minutos antes dos shows.
Hancock é um daqueles que
têm detectado uma onda de
conservadorismo na cena do
jazz norte-americano durante
as últimas décadas. "Felizmente, isso não acontece no país todo. Não vejo esse conservadorismo, por exemplo, no grupo
de Wayne Shorter, que está
rompendo fronteiras com sua
música", diz referindo-se ao saxofonista e ex-parceiro na banda de Miles Davis.
Conhecido desde os anos 70
como um entusiasta dos recursos eletrônicos e das novas tecnologias na música, o tecladista
não esconde o tom irônico
quando se refere à crise enfrentada pela indústria fonográfica
tradicional.
"Tentei avisar aos responsáveis pela indústria musical que
deveriam prestar mais atenção
à internet e à tecnologia que
permite transmitir música diretamente ao público por meio
de um servidor, mas eles não se
mexeram. Agora a indústria de
computadores tomou conta
dessa atividade. Eu sabia que
isso ia acontecer", afirma.
Hancock encara esse novo
modelo de distribuição de música como uma mudança bastante favorável aos artistas.
"Um novo modo de se pensar o
negócio da música se abriu para
os músicos, que agora têm a
chance de ser donos de seus
próprios negócios. Agora podem vender sua música por
websites ou podem fazer seus
próprios CDs", comenta.
Trabalho em grupo
Ao saber que vai dividir a noite com o veterano pianista Ahmad Jamal, Hancock se anima.
"Adoro a música dele, que comecei a escutar quando ainda
era muito jovem. Jamal exerceu uma grande influência sobre mim, assim como exerceu
sobre Miles Davis. Adoro a
abertura que ele tem em relação à música", diz.
Depois de se dedicar por cinco décadas ao jazz, como Hancock o encara hoje? "O jazz é a
música que ainda expressa o
melhor do espírito humano.
Ele tem a ver com a idéia de
compartilhar e não com a de
competir. O jazz tem a ver com
trabalho em grupo."
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