São Paulo, quinta-feira, 25 de outubro de 2007

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Crítica/"À Prova de Morte"

Tarantino recupera a vibração

Com ação eletrizante, cineasta dialoga com filmes B americanos dos anos 60 e 70 em "À Prova de Morte'

PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA

Em "À Prova de Morte", Quentin Tarantino reencontrou uma vibração que se diluíra em seu filme anterior. Ainda que repleto de momentos dignos de seu talento, "Kill Bill" tinha um caráter ambicioso e enciclopédico, carregando o peso de "elevar" o cinema de gênero ao posto nobre negado pela história oficial.
Agora, já não há mais isso. Tarantino faz um tributo ao cinema que ama sem se preocupar com os "outros" (o "establishment") mas, também, sem esquecer os "outros" -o público de seus filmes. Apesar das referências ao passado, "À Prova de Morte" pode ser saboreado como um filme de ação contemporâneo da melhor qualidade, com diálogos divertidos e cenas de perseguição de carro e pancadaria eletrizantes.
"À Prova de Morte" foi inicialmente concebido para o projeto "Grindhouse", homenagem aos filmes B americanos dos anos 60 e 70 -segundo o material de divulgação, "um tempo em que a experiência de ir ao cinema não era pautada pelo multiplex ou pelas salas de arte". Assim, "À Prova de Morte" era visto com "Planeta Terror", de Robert Rodriguez, em sessão dupla de três horas.
Chega a ser "naïf" crer que uma experiência tão distante da atual forma-padrão de consumo de cinema pudesse dar certo, mas os cineastas acreditavam que sim, e, consta, ficaram frustrados com o fracasso dos filmes nos EUA. Para o mercado internacional, eles foram remontados e ganharam lançamentos independentes. O que, talvez, tenha sido positivo para descolar "À Prova de Morte" do possível ranço saudosista.
Curiosamente, o filme de Tarantino é, ele mesmo, dividido em dois. O elo se encontra no personagem Stuntman Mike (Kurt Russell), ex-dublê que passou a usar seu carro (preparado para cenas perigosas) para fins sádicos e criminosos.
A primeira parte é especialmente soturna e assustadora. Nela, Tarantino surge como o dono do bar em que Mike espreita suas presas, quatro mulheres deslumbrantes em busca de diversão. A segunda, superior, é mais divertida e solar. Quatro meninas de uma equipe de filmagem -uma delas a dublê de Uma Thurman em "Kill Bill", Zoe Bell- quase viram vítimas de Mike, mas invertem o jogo num desfecho espetacular. "À Prova de Morte" talvez seja o menor (no bom sentido) e melhor filme de Tarantino. É um filme que desliza na tela e se diverte com aquilo que o cinema tem de mais original.


À PROVA DE MORTE
Diretor:
Quentin Tarantino
Produção: EUA, 2007
Com: Kurt Russell, Zoe Bell, Rosario Dawson
Quando: hoje, às 13h30, no Espaço Unibanco 3; amanhã, à 0h, no Bombril 1
Avaliação: ótimo

Paulo Santos Lima critica "O Estado do Mundo", de seis diretores www.folha.com.br/ilustradanocinema


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