São Paulo, quinta-feira, 25 de outubro de 2007

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comida

Fome de bola

Roteiro da baixa gastronomia em estádios destaca tropeiro do Mineirão e sanduíche de pernil de SP

LUCAS NEVES
MARCO AURÉLIO CANÔNICO

DA REPORTAGEM LOCAL

É certo que o futebol, dentro das quatro linhas, é dado a metáforas culinárias, do frango engolido pelo arqueiro desavisado ao chocolate aplicado no adversário. Mas se, na arquibancada, bate a fome no torcedor, o que os estádios têm a oferecer? Na reta final do Campeonato Brasileiro, a Folha foi às arenas dos líderes apurar.
Nas barracas que margeiam o Mineirão (dividido pelo terceiro colocado, Cruzeiro, e pelo Atlético-MG), o protocolar churrasquinho não é páreo para a "pièce de résistance" do "cardápio", o tropeiro -que leva feijão com farinha de mandioca, arroz, bacon, lingüiça, pernil, torresmo, couve, ovo, salsa e cebolinha. Da Barraca da Jaq, saem de 80 a 100 porções por jogo. "Os atleticanos é que gastam. Cruzeirense é chorão!", atiça Jaqueline Ferraz.
Já dentro do estádio, a clientela fiel é a azul, segundo a cozinheira Neusa Madeira, que chega a cozinhar 40 kg de feijão por partida. "Cruzeirense compra mais. O atleticano nem olha para trás se o time perde."
O tropeiro faz sucesso também entre os visitantes. "Os corintianos comem muito. E os paranaenses falam que, se fosse para lá, ganharia muito dinheiro", diz Ivanir Ferreira, da barraca em frente ao portão 13.
Quem bate ponto ali é o vigilante Sérgio Fernandes, 28, que alfineta a concorrência. "Comi o lá de dentro [do Mineirão] uma vez e estava "envenenado"." O advogado Marcelo Coura, 29, discorda: "Hoje, não almocei para vir comer o tropeirão. O de dentro é sagrado."

Pernil paulistano
Em volta do Morumbi (casa do líder, São Paulo), num "centro gastronômico" de 18 barracas, só se vê uma imagem: a da chapa em que repousa um enorme pernil de porco, base do sanduíche que é o hit dos estádios paulistanos. "O povo não muda: sanduíche de pernil é a comida do estádio. Temos de calabresa também, mas não gostam tanto", diz dona Maria, da Barraca do Orlando.
Quando um cliente pede um sanduíche, o pernil é fatiado e a seus pedaços são acrescidos tomate, repolho e cebola picados, além de um molho de limão com alho e, por fim, shoyu.
A mistura é saboreada por gente como o gráfico Luiz Carlos Souza, 38, abordado quando dizia a um amigo ir ao estádio mais pela comida do que pelo jogo em si. "O sabor da chapa usada não tem igual", explicou.
Dentro da arena, o Habib's (patrocinador do time) é a única lanchonete licenciada e oferece quibe, esfihas e torta de queijo e goiabada. Há também picolés Kibon e amendoins de todo tipo (japonês, doce, descascado), que vendedores gaiatos anunciam como "Viagra".
Malícia pouco vista nos arredores do Palestra Itália (do vice-líder Palmeiras), onde espetinhos e sanduíches de pernil e calabresa disputam a preferência com a oferta mais "substancial" dos botecos (macarrão, pizza e carnes à parmegiana), degustada e aprovada pelo estudante André Bambino, 18. "Dá para almoçar em casa e fazer o segundo tempo aqui."
No interior do estádio, o grupo Dias detém o monopólio da comercialização de alimentos (hambúrgueres, cachorros-quentes, pipoca, salgadinhos e churros). Com negócios também no Morumbi e no Pacaembu, o sócio-proprietário, Renato Dias, não se compromete: "Torço para qualquer time".

Codorna no Maracanã
Embora nenhum time carioca esteja no topo da tabela, a reportagem abriu uma exceção e visitou o Maracanã em nome da tradição do estádio. Pois foi uma decepção: o local deixa a desejar no quesito "junk food".
Ao redor do estádio, vans vendem cachorro-quente com batata palha e ovo de codorna -mas sem o purê que acompanha o lanche em SP. Barraquinhas com amendoim e coquinho (pedaços de coco) doces também pipocam aqui e ali, além dos churrasquinhos -a calabresa dá lugar ao salsichão.
Dentro do estádio, biscoitos de polvilho e o mate gelado são a pedida -que, cá para nós, está longe de encher barrigas cariocas ou visitantes.


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