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Coreógrafa Maguy Marin discute o individualismo
Em "Umwelt", espetáculo de 2004 inspirado por textos
de
Beckett, francesa aborda comportamento humano
Companhia de Lyon
apresenta seu discurso
engajado em duas únicas
apresentações em SP, hoje e
amanhã no Sesc Pinheiros
ADRIANA PAVLOVA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Aos 57 anos, a coreógrafa
francesa Maguy Marin poderia
estar à frente de qualquer grande companhia de dança nas
principais capitais mundiais.
Em vez disso, há 24 anos, quando explodia como artista, decidiu trabalhar com o grupo que
leva o seu nome num subúrbio
de Paris. De lá, em 1998, mudou-se para outro subúrbio, Rilleux-la-Pape, desta vez em
Lyon, onde, enquanto tenta se
aproximar de um público arredio, continua a criar obras de
forte impacto político e social.
Em "Umwelt" (ambiente de
percepção), espetáculo de 2004
que tem duas únicas apresentações hoje e amanhã no Sesc Pinheiros, ela volta a discutir o
comportamento humano, amparada por textos de Samuel
Beckett. Trata-se do mesmo
autor que inspirou "May B",
obra de 1981 que a projetou.
"Em 1981, ainda existia uma
forma de vida mais comunitária, até mesmo na política", disse Marin à Folha, em entrevista por telefone, de sua casa, em
Lyon. "Hoje, o individualismo
ganhou força. "May B" mostra
uma comunidade que, mesmo
com dificuldades e egoísmo,
tenta viver junta. "Umwelt" é o
testemunho de uma situação
em que os indivíduos estão cortados uns dos outros."
Repetição exaustiva
Durante mais de uma hora de
espetáculo, os bailarinos entram e saem de uma série de
portas, que se confundem com
espelhos, e repetem atividades
comuns, cotidianas. Eles comem, mudam de roupa, brigam, embalam bebês e até tocam instrumentos, em uma repetição exaustiva.
"As pessoas fazem suas atividades enquanto o mundo está
enlouquecendo. Continuamos
a fazer tudo e só paramos se
formos atingidos pessoalmente. É como se não víssemos
nada", explica Marin. "Eu tento
mostrar, com os meus trabalhos, algumas coisas que acontecem com os outros. É um drama, uma catástrofe terrível, a
destruição total da nossa vida
atual."
O discurso engajado faz parte
do dia-a-dia da companhia no
subúrbio de Lyon onde está localizado o centro coreográfico
dirigido por Marin -um dos
muitos espalhados pela França,
com apoio do Ministério da
Cultura. Dez anos depois de sua
instalação ali, o trabalho de
aproximação com a comunidade não é fácil.
"Muitos adultos, principalmente os homens e algumas
mulheres, passam ao largo. É
difícil, as pessoas não têm dinheiro, a situação social é cada
vez mais complicada", diz a coreógrafa, que, no entanto, jamais se arrependeu desta escolha. "Me sinto melhor aqui do
que em qualquer outro lugar."
UMWELT
Quando: hoje às 21h, amanhã às 18h;
únicas apresentações
Onde: Sesc Pinheiros (r. Paes Leme
195, tel. 0/xx/11/3095-9400)
Quanto: R$ 3,50 a R$ 15
Classificação: não indicado a menores
de 10 anos
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