São Paulo, sábado, 25 de outubro de 2008

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Coreógrafa Maguy Marin discute o individualismo

Em "Umwelt", espetáculo de 2004 inspirado por textos de Beckett, francesa aborda comportamento humano

Companhia de Lyon apresenta seu discurso engajado em duas únicas apresentações em SP, hoje e amanhã no Sesc Pinheiros


ADRIANA PAVLOVA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Aos 57 anos, a coreógrafa francesa Maguy Marin poderia estar à frente de qualquer grande companhia de dança nas principais capitais mundiais.
Em vez disso, há 24 anos, quando explodia como artista, decidiu trabalhar com o grupo que leva o seu nome num subúrbio de Paris. De lá, em 1998, mudou-se para outro subúrbio, Rilleux-la-Pape, desta vez em Lyon, onde, enquanto tenta se aproximar de um público arredio, continua a criar obras de forte impacto político e social.
Em "Umwelt" (ambiente de percepção), espetáculo de 2004 que tem duas únicas apresentações hoje e amanhã no Sesc Pinheiros, ela volta a discutir o comportamento humano, amparada por textos de Samuel Beckett. Trata-se do mesmo autor que inspirou "May B", obra de 1981 que a projetou.
"Em 1981, ainda existia uma forma de vida mais comunitária, até mesmo na política", disse Marin à Folha, em entrevista por telefone, de sua casa, em Lyon. "Hoje, o individualismo ganhou força. "May B" mostra uma comunidade que, mesmo com dificuldades e egoísmo, tenta viver junta. "Umwelt" é o testemunho de uma situação em que os indivíduos estão cortados uns dos outros."

Repetição exaustiva
Durante mais de uma hora de espetáculo, os bailarinos entram e saem de uma série de portas, que se confundem com espelhos, e repetem atividades comuns, cotidianas. Eles comem, mudam de roupa, brigam, embalam bebês e até tocam instrumentos, em uma repetição exaustiva.
"As pessoas fazem suas atividades enquanto o mundo está enlouquecendo. Continuamos a fazer tudo e só paramos se formos atingidos pessoalmente. É como se não víssemos nada", explica Marin. "Eu tento mostrar, com os meus trabalhos, algumas coisas que acontecem com os outros. É um drama, uma catástrofe terrível, a destruição total da nossa vida atual."
O discurso engajado faz parte do dia-a-dia da companhia no subúrbio de Lyon onde está localizado o centro coreográfico dirigido por Marin -um dos muitos espalhados pela França, com apoio do Ministério da Cultura. Dez anos depois de sua instalação ali, o trabalho de aproximação com a comunidade não é fácil.
"Muitos adultos, principalmente os homens e algumas mulheres, passam ao largo. É difícil, as pessoas não têm dinheiro, a situação social é cada vez mais complicada", diz a coreógrafa, que, no entanto, jamais se arrependeu desta escolha. "Me sinto melhor aqui do que em qualquer outro lugar."

UMWELT
Quando: hoje às 21h, amanhã às 18h; únicas apresentações
Onde: Sesc Pinheiros (r. Paes Leme 195, tel. 0/xx/11/3095-9400)
Quanto: R$ 3,50 a R$ 15
Classificação: não indicado a menores de 10 anos



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