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ANÁLISE
Na TV, negros são perfeitos ou caricatos
NINA LEMOS
COLUNISTA DA FOLHA
Em tempos de Barack Obama, nada mais natural que uma
negra seja protagonista da novela das oito. A primeira-dama
dos EUA é considerada hoje
uma das mulheres mais elegantes do mundo. Foi capa até da
poderosa "Vogue América".
Michelle é "aceita" e suas roupas, copiadas mundo afora.
Normal ver Taís Araújo como a Helena da novela das oito.
Afinal (e ainda bem) todos estão acostumados com a imagem do casal Obama, acompanhado pelas fofas Sasha e Malia. A "família real" americana
parece perfeita. Assim como a
protagonista de "Viver a Vida",
uma moça bem-sucedida, boa
pessoa, linda e aparentemente
sem nenhuma falha de caráter.
O mesmo acontece com Rose, a moça batalhadora e companheira interpretada por Camila Pitanga em "Cama de Gato". Camila, vale lembrar, ainda
é considerada "quase branca"
por muitos telespectadores.
As personagens negras de
novelas ou primam pela perfeição ou pela caricatura. A ótima
Bebel, interpretada por Camila
em "Paraíso Tropical", era
prostituta.
E quase todos os negros que
vemos na TV continuam sendo
empregados ou coadjuvantes
sem grandes histórias. Como
diz uma amiga (negra), a única
pessoa que tem família em novelas é o ator Milton Gonçalves,
que costuma interpretar homens respeitáveis e com vidas
"normais".
É positivo ver que a Helena
de "Viver a Vida" tem uma família. Mas estranho perceber
que sua irmã na trama vive um
caso de amor com um bandido
(negro).
O mesmo acontece com outra minoria: os gays. Nesse caso, eles são coadjuvantes, maquiadores, cenógrafos de escola
de samba ou bookers (como o
Osmar de "Viver a Vida").
No outro extremo, estão os
gays bem-sucedidos, com relacionamentos maravilhosos e
"aceitáveis". A TV, quem diria,
também criou os gays com família margarina. Talvez um dia
eles protagonizem uma novela.
Mas será que isso só vai acontecer quando um homossexual
for eleito presidente dos EUA?
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