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BLACK SOUL BROTHERS
Autor de "Mandamentos Black" fala da onda de música negra no início dos 70, agora resgatada
Soldado, King Combo viu Caetano e Gil presos
DO ENVIADO AO RIO
A seguir, Gerson King Combo
lembra que era soldado em Realengo, em 68, quando Caetano e
Gil foram presos pelo regime militar.
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)
Folha - Vocês eram contra o regime militar?
Gerson - Eu não era contra nada
nem ninguém, vivia até muito feliz. Não era a favor também, mas
eu era militar na época. Encontrei
Caetano e Gil presos no Realengo,
carecas, magrinhos. Eu era pára-quedista lá, essa era a tropa de elite mais brava que havia. Tinha
idéia de quem eles eram, era muito esquisito. Mas cabeça de soldado é feita para obedecer, não tem
quem é quem, errado ou certo.
Quando comecei a entender
certas coisas, vi que o povo não
era nada, principalmente os
crioulos. Era o momento do
"black is beautiful", Elis Regina
cantou uma música falando isso.
Negro estava na moda, a branca
estava querendo comer o negão.
Mexia com o negro, mas superficialmente. Socialmente, foi se dar
com o black Rio, de botar sapato
mais abusado, cabelo já mais saliente, deixar de ver a sociedade
com aquele olhar submisso.
Folha - Por que artistas brancos
como Elis, Roberto, Erasmo e Marcos Valle foram fazer soul music?
Gerson - Eles tomaram carona.
Roberto Carlos gravava rock,
soul, mas tudo lá da matriz. Não
dá para dizer que criamos, porque
foi a matriz que criou os sons e ritmos. Nós criamos samba. Aliás,
aquela música de Martinho da Vila que dizia "ô, compadre, mete o
dedo na viola" foi feita para mim.
Detesto. Não dá, sambista é muito
radical. Eles não admitem você
cantar rock. Entrei no Império
Serrano para mostrar a eles que
sou um bom ritmista.
Folha - "Refavela" (77), de Gilberto Gil, foi uma carona ou um disco
importante para o movimento?
Gerson - Foi importante, mas
para o black Bahia. Em São Paulo,
houve o segundo Black Brasil, e ali
o movimento nunca parou. No
Rio, parou completamente. As
gravadoras achavam que não havia mais mercado. Vieram a discothèque, os Travoltas da vida,
para tapar a tampa do caixão do
black Rio. A turma não teve força,
não achou mais motivo. Fui morar no limbo. Passei a trabalhar
com serviço social na Prefeitura
do Rio, pegando mendigo, criança de rua. Ganho uma mixaria,
mas é o que me segura desde 88.
Sou recompensado quando chego ao palco, ninguém faz idéia
desse lado. Em São Paulo, diziam
que eu havia morrido. Os rappers
começaram a procurar, regravaram "Mandamentos Black". Reapareci em shows deles, tem gente
que chora, se ajoelha. Estou no caminho para lançar um CD, falta
muito pouco. Estou com gás, preciso aproveitar.
Folha - E Getúlio, não volta?
Getúlio - Sim. Não morri ainda,
não. Há um projeto, não sei se
posso falar porque não é meu, é
do Leno (da dupla com Lilian).
Ele quer lançar um tributozinho,
modéstia à parte. Quer reunir
Erasmo, Zé Ramalho, Luiz Melodia, Wanderléa, cada um gravando uma música minha. O principal nós temos, que são os artistas.
Só não temos quem banque.
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