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CRÍTICA
"Quem Matou Daniel Pearl?" é contrário à paixão do ódio
BETTY MILAN
ESPECIAL PARA A FOLHA
A capa do original francês é
preta. Como uma mortalha
estendida sobre os restos de Daniel Pearl, sequestrado e degolado
em 2002, em Karachi. Por ser ele
jornalista, judeu e americano? Da
perspectiva dos assassinos, espião, inimigo israelita e portador
dos pecados do mundo.
Cem vezes, nos dias de cativeiro,
o sequestrado disse uma mesma
verdade. Que, se existisse um só
americano e um só judeu para
lhes estender a mão, que, se houvesse um só homem para recusar
a guerra de civilizações e insistir
na paz com o Islã, o homem era
ele, Daniel Pearl, americano hostil
ao que a América tem de arrogante, judeu de esquerda, progressista, amigo dos deserdados.
O repórter do "Wall Street Journal" foi morto por querer descobrir se Bin Laden tinha ou não armas capazes de alterar radicalmente as relações de força entre
Oriente e Ocidente. Por saber demais sobre uma organização que,
a qualquer momento, podia acionar o fanatismo islâmico.
Antes de chegar a essas conclusões, Bernard Henri-Lévy ousou
entrar num mundo de paixões
sangrentas, manipulações perigosas e mentiras de Estado. Arriscou
a vida para responder a duas
questões: Quem matou Daniel
Pearl? Que segredo ia ele revelar
quando foi degolado?
Para ir além da versão oficial,
Henri-Lévy passou meses escutando pessoas e visitando diferentes lugares nos EUA, Inglaterra,
Paquistão e Índia.
A obra expõe o assassinato como a expressão da tragédia da
guerra de civilizações, criticando
o antiamericanismo, o anti-semitismo e a islamofobia.
"Quem Matou Daniel Pearl?" é
um livro contrário à paixão do
ódio, que levará os americanos a
se perguntarem porque são odiados e o que devem fazer para reconquistar a confiança dos outros
povos e do próprio.
Quem quiser saber "como funciona o demoníaco hoje", por que
"a abjeção se tornou desejo e destino", precisa ler este texto, que
analisa a vontade planetária de
vingança e dá sentido à expressão
direitos humanos. Tanto mostra a
importância do papel do jornalista quanto do filósofo, que faz da
atualidade o seu tema e do movimento a condição da sua filosofia.
O filósofo que, na grande tradição
de Montaigne, sai da torre de
marfim para o mundo.
Avaliação:
Betty Milan é escritora, psicanalista e
autora de "A Paixão de Lia", entre outros
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