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Escola de teatro custará R$ 8 mi/ano
Valor de manutenção supera o montante investido pelo Estado de SP em seus principais programas de artes cênicas
Profissionais questionam modo como projeto foi conduzido; governo afirma que comissão de artes cênicas foi consultada
LUCAS NEVES
DA REPORTAGEM LOCAL
A SP Escola de Teatro, ambicioso projeto do governo estadual para a formação de profissionais de artes cênicas, abre as
portas hoje, no Brás (região
central de São Paulo), com
show, performance, exposições
e as presenças de governador e
secretariado. Mas já planeja
uma mudança de endereço.
A sede definitiva da instituição, a ser erguida a um custo de
R$ 4,2 milhões, funcionará na
praça Roosevelt, também no
centro. Segundo a secretaria de
Cultura, as obras começaram
em 21 de outubro. A promessa é
entregar o prédio em agosto,
para que as aulas do segundo
semestre já aconteçam ali.
A Oficina Cultural Amácio
Mazzaroppi, que abrigará a SP
Escola de Teatro durante nove
meses, atualmente sedia projetos de inclusão social pela arte.
O governo estadual gastou
R$ 500 mil para pintar, fazer
consertos na rede elétrica e no
sistema hidráulico e adaptar o
edifício de 1911 a portadores de
necessidades especiais.
"A reforma era necessária
para a oficina. Será aproveitada
também depois que a escola
sair de lá", diz o secretário de
Estado da Cultura, João Sayad.
O governo afirma que foi necessário abrir uma sede provisória para que o centro de formação seguisse o calendário letivo padrão, ou seja, com aulas
a partir de fevereiro.
Cabe lembrar, entretanto,
que, caso decida concorrer à
Presidência, em outubro de
2010, o governador José Serra
precisa deixar o cargo até o começo de abril. Confirmada sua
candidatura ao Planalto, ele
não mais seria o titular da administração estadual quando
da abertura da sede definitiva
da escola, em agosto.
A manutenção anual da escola consumirá R$ 8 milhões, liberados pela secretaria e geridos pela OSC (organização social de cultura) Associação
Amigos das Oficinas Culturais
do Estado de São Paulo.
Esse valor supera o montante que o governo estadual destinou, em 2009, a seus principais projetos teatrais. As quantias investidas nos editais do
ProAC (Programa de Ação Cultural), na campanha "Vá ao
Teatro", no Festival Nacional
de Teatro Infantil de Salto (noroeste de SP) e nos braços teatrais do Circuito Cultural Paulista e da Virada Cultural Paulista somam R$ 7,1 milhões.
"Estamos fazendo um investimento, o que é diferente de
um custeio", justifica Sayad.
Névoa
A condução do projeto da escola pelo governo estadual suscita questionamentos no meio
teatral. Em 2005, após tomar
conhecimento do trabalho de
formação de técnicos mantido
pelo grupo Os Satyros no Jardim Pantanal (leste) e da existência de um prédio abandonado na praça Roosevelt, ao lado
da sede da companhia, o então
prefeito José Serra sugeriu que
a trupe pensasse numa iniciativa semelhante para o local.
O projeto ganhou de fato corpo na esfera estadual no último
ano. O tema foi tratado em duas
ocasiões no conselho de teatro
da secretaria de Cultura, que
pediu para ver o projeto pedagógico, mas não o recebeu.
"A ideia fica envolvida em névoa, pois parece vir diretamente do gabinete do governador,
ser fruto da proximidade de um
grupo com ele", diz o diretor de
uma das principais companhias paulistanas, que pediu
para não ser identificado. "O
estranho é que não houve consulta ampla a universidades,
debate para conceber a escola.
Fica um ar de camaradagem."
O secretário de Cultura responde: "Apresentei a ideia à comissão de teatro da pasta e propus parceria a uma OS (organização social), que topou."
Para Ney Piacentini, presidente da Cooperativa Paulista
de Teatro, "o modo [como o
projeto foi conduzido] é questionável, mas Satyros e Parlapatões [os dois grupos que respondem pelo grosso dos cargos
de direção e coordenação] estão capacitados."
Ele reconhece que faltam
técnicos nas salas de teatro, carência que os cursos de iluminação e sonoplastia tentarão
suprir, mas teme que os formandos das habilitações artísticas da escola (dramaturgia,
atuação etc.) não achem vagas.
Sayad responde: "Não somos
uma secretaria de formação
profissional. Não sei se mercado é critério".
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