São Paulo, quarta-feira, 25 de novembro de 2009

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Escola de teatro custará R$ 8 mi/ano

Valor de manutenção supera o montante investido pelo Estado de SP em seus principais programas de artes cênicas

Profissionais questionam modo como projeto foi conduzido; governo afirma que comissão de artes cênicas foi consultada


LUCAS NEVES
DA REPORTAGEM LOCAL

A SP Escola de Teatro, ambicioso projeto do governo estadual para a formação de profissionais de artes cênicas, abre as portas hoje, no Brás (região central de São Paulo), com show, performance, exposições e as presenças de governador e secretariado. Mas já planeja uma mudança de endereço.
A sede definitiva da instituição, a ser erguida a um custo de R$ 4,2 milhões, funcionará na praça Roosevelt, também no centro. Segundo a secretaria de Cultura, as obras começaram em 21 de outubro. A promessa é entregar o prédio em agosto, para que as aulas do segundo semestre já aconteçam ali.
A Oficina Cultural Amácio Mazzaroppi, que abrigará a SP Escola de Teatro durante nove meses, atualmente sedia projetos de inclusão social pela arte.
O governo estadual gastou R$ 500 mil para pintar, fazer consertos na rede elétrica e no sistema hidráulico e adaptar o edifício de 1911 a portadores de necessidades especiais.
"A reforma era necessária para a oficina. Será aproveitada também depois que a escola sair de lá", diz o secretário de Estado da Cultura, João Sayad.
O governo afirma que foi necessário abrir uma sede provisória para que o centro de formação seguisse o calendário letivo padrão, ou seja, com aulas a partir de fevereiro.
Cabe lembrar, entretanto, que, caso decida concorrer à Presidência, em outubro de 2010, o governador José Serra precisa deixar o cargo até o começo de abril. Confirmada sua candidatura ao Planalto, ele não mais seria o titular da administração estadual quando da abertura da sede definitiva da escola, em agosto.
A manutenção anual da escola consumirá R$ 8 milhões, liberados pela secretaria e geridos pela OSC (organização social de cultura) Associação Amigos das Oficinas Culturais do Estado de São Paulo.
Esse valor supera o montante que o governo estadual destinou, em 2009, a seus principais projetos teatrais. As quantias investidas nos editais do ProAC (Programa de Ação Cultural), na campanha "Vá ao Teatro", no Festival Nacional de Teatro Infantil de Salto (noroeste de SP) e nos braços teatrais do Circuito Cultural Paulista e da Virada Cultural Paulista somam R$ 7,1 milhões.
"Estamos fazendo um investimento, o que é diferente de um custeio", justifica Sayad.

Névoa
A condução do projeto da escola pelo governo estadual suscita questionamentos no meio teatral. Em 2005, após tomar conhecimento do trabalho de formação de técnicos mantido pelo grupo Os Satyros no Jardim Pantanal (leste) e da existência de um prédio abandonado na praça Roosevelt, ao lado da sede da companhia, o então prefeito José Serra sugeriu que a trupe pensasse numa iniciativa semelhante para o local.
O projeto ganhou de fato corpo na esfera estadual no último ano. O tema foi tratado em duas ocasiões no conselho de teatro da secretaria de Cultura, que pediu para ver o projeto pedagógico, mas não o recebeu.
"A ideia fica envolvida em névoa, pois parece vir diretamente do gabinete do governador, ser fruto da proximidade de um grupo com ele", diz o diretor de uma das principais companhias paulistanas, que pediu para não ser identificado. "O estranho é que não houve consulta ampla a universidades, debate para conceber a escola. Fica um ar de camaradagem."
O secretário de Cultura responde: "Apresentei a ideia à comissão de teatro da pasta e propus parceria a uma OS (organização social), que topou."
Para Ney Piacentini, presidente da Cooperativa Paulista de Teatro, "o modo [como o projeto foi conduzido] é questionável, mas Satyros e Parlapatões [os dois grupos que respondem pelo grosso dos cargos de direção e coordenação] estão capacitados."
Ele reconhece que faltam técnicos nas salas de teatro, carência que os cursos de iluminação e sonoplastia tentarão suprir, mas teme que os formandos das habilitações artísticas da escola (dramaturgia, atuação etc.) não achem vagas.
Sayad responde: "Não somos uma secretaria de formação profissional. Não sei se mercado é critério".


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