Material inclui biblioteca de 4.000 livros, cartas, desenhos e crônicas

DO RIO

Nesta semana, o Instituto Moreira Salles anunciou que vai receber parte do acervo pessoal de de Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) e da filha, Maria Julieta, que ainda estava em poder da família.
O material inclui uma biblioteca com 4.000 volumes, muitos deles com dedicatória, cartas, desenhos, recortes de jornal e todas as crônicas escritas pelo poeta no "Correio da Manhã" e no "Jornal do Brasil", metade ainda inédita em livro.
Quando Drummond morreu, em 1987, ele já havia doado a maior parte de seu acervo para a Fundação Casa de Rui Barbosa. Seu escritório com livros e documentos mais pessoais, no entanto, se manteve intacto. Agora, por iniciativa dos netos, vai para a sede do instituto, no Rio, em regime de comodato por dez anos.
O conjunto ajuda a conhecer melhor a história do poeta. Drummond guardou um caderno de contabilidade de seu pai, o fazendeiro Carlos de Paula Andrade, que registrou o que deu aos filhos durante a vida, para que a divisão dos bens não ficasse injusta depois de sua morte.
Drummond, que tinha cinco irmãos, herdou na mocidade um pedaço de terra em Itabira, o que o fez por algum tempo se tornar lavrador e questionar se de fato a poesia lhe daria futuro.
Sua biblioteca particular mostra um outro traço: a obsessão de arquivista. Ele numerava cada livro de acordo com a posição na estante, e costumava guardar recortes de jornal entre as páginas, para acrescentar informações ao seu conteúdo.
Um conjunto precioso no acervo são as cartas que trocou com a mãe, Julieta Augusta, e a filha, Maria Julieta. Há também a troca de cartas do poeta com seu genro, o escritor e advogado argentino Manuel Graña Etcheverry.
Em 1949, Drummond escreveu: "Maria Julieta é quase uma criança, mas, como terá visto, bastante amadurecida intelectualmente. Algumas das concepções que ela tem sobre o mundo e as coisas serão fruto deste avanço da experiência intelectual sobre a experiência propriamente humana. Caberá ao marido ajustar no mesmo plano sensibilidade e razão".
Seu neto, Pedro Drummond, que mora no apartamento que pertencia ao poeta, em Copacabana, diz que o conjunto não estava armazenado em condições ideais. "O objetivo principal da transferência é assegurar a preservação do acervo e possibilitar o acesso a ele", diz.
(MARCELO BORTOLOTI)


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