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TRADIÇÃO NATALINA
DANÇA
Composto por Tchaikovski, espetáculo foi da Rússia czarista ao panteão do horário nobre do maior feriado do ano
Charme preserva ícone de "Quebra-Nozes"
NICHOLAS FOX WEBBER
DO "NEW YORK TIMES"
"O Quebra-Nozes", balé que é
um ritual de Natal para os norte-americanos todas as religiões e
culturas, levou a dança clássica do
domínio exclusivo da aristocracia
abastada para os auditórios dos
colégios de ensino médio.
O fascinante "Nutcracker Nation", de Jennifer Fischer, explora
os motivos para que a criação de
Tchaikovski (1840-1893), que estreou em 1892 no Balé Imperial de
São Petersburgo, tenha se tornado um eterno favorito dos EUA.
Ela amplifica o significado dessa
posição em uma sociedade na
qual a televisão é o principal veículo para a cultura. "Nutcracker
Nation" garimpa a infinidade de
maneiras pela qual um único trabalho de arte pode penetrar na vida cotidiana e refletir os valores
de todo um país.
Ivan Vsevolozhsky, diretor dos
teatros imperiais russos, baseou
seu libreto em "O Quebra-Nozes e
o Rei Camundongo", um conto
escrito por E.T.A. Hoffman em
1816 e recontado por Alexandre
Dumas, pai. Marius Petipa, que
coreografou a peça, desenvolveu
ainda mais a história.
Piótr Ílich Tchaikovski, já famoso como compositor, recebeu instruções precisas para a partitura:
"Oito compassos de música misteriosa e terna", "48 compassos de
música com um crescendo grandioso". O balé pode ser um feito
tão maravilhoso de trabalho de
equipe quanto uma catedral gótica. Quando Tchaikovski compôs
a música, estava de luto pela morte da irmã. Fischer aponta que o
adágio no segundo ato se assemelha a uma oração dos serviços fúnebres da Igreja Ortodoxa Russa.
Mesmo assim, Tchaikovski supostamente detestava a partitura
-não a considerava uma rival
digna de "A Bela Adormecida",
composta por ele dois anos antes,
e os críticos de 1892 tampouco
mostraram qualquer predisposição favorável.
Boa parte da reação inicial derivava do desempenho insatisfatório das crianças, especialmente a
cena de guerra com soldados de
brinquedo -interpretados por
alunos de uma academia militar- que provavelmente se assemelhava a uma das hilariantes
produções de acampamentos de
verão que fazem os pais rirem e
chorarem ao mesmo tempo.
O balé da era czarista tinha
charme suficiente para sobreviver
à Revolução Russa e ressurgir em
versão atualizada, sociopolítica,
durante os primeiros anos da era
comunista. Seu futuro foi assegurado quando Serge Diaghilév, Anna Pavlova e Vaslav Nijinski se
envolveram em produções de "O
Quebra-Nozes". O mais importante é que George Balanchine,
em sua juventude, dançou a peça
no teatro Mariínsk, onde o balé tivera sua estréia mundial duas décadas antes.
Ainda que "O Quebra-Nozes"
tivesse sua primeira produção
americana integral realizada pelo
balé de San Francisco em 1944, a
peça entrou no panteão cultural
dos EUA quando Balanchine dirigiu uma versão para o Balé da Cidade de Nova York, em 1954.
O filme "Fantasia", produzido
em 1940 por Walt Disney, que incluía trechos animados de "O
Quebra-Nozes", com música sob
a regência de Leopold Stokowsky,
ajudou no processo, mas foi o Balé da Cidade que compreendeu
sua extraordinária possibilidade
de encantar a todos.
Fisher, que ensina história, teoria e etnologia da dança no Pomona College e na Universidade da
Califórnia, não percebe a importância do sucesso desse produto
cultural tão tipicamente russo numa época em que a Guerra Fria e
as audiências de McCarthy apontavam para a União Soviética como o bastião do mal.
Mas ela ainda assim oferece
muitos testemunhos sobre as ramificações culturais do grande
entretenimento. Ao descrever a
trajetória do balé, de São Petersburgo ao horário nobre do maior
feriado do ano, ela demonstra de
que maneira "O Quebra-Nozes"
se tornou um ícone.
Tradução Paulo Migliacci
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