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"Aviador" lidera Oscar com 11 indicações
"Diários de Motocicleta" concorre em roteiro adaptado e canção
SÉRGIO DÁVILA
DA CALIFÓRNIA
Vai ser uma briga de cachorro
grande -e idoso. A 77ª edição do
Oscar, que anunciou seus concorrentes na madrugada de ontem
em Los Angeles, colocou dois pesos-pesados na luta pela estatueta
de diretor: os veteranos Martin
Scorsese, 62, por "O Aviador", e
Clint Eastwood, 74, por "Menina
de Ouro".
Por enquanto, o ítalo-americano sai na frente: sua cinebiografia
do milionário texano Howard
Hughes (1905-1976) foi a recordista do dia, com 11 indicações,
entre elas filme, ator (Leonardo
DiCaprio, no papel-título), roteiro original e ator e atriz coadjuvantes. "Menina" vem atrás, com
sete possibilidades, empatado
com o fraco "Em Busca da Terra
do Nunca".
Scorsese lidera porque é um
eterno desprezado pela Academia; foi indicado quatro vezes como diretor ("Touro Indomável",
1980, "A Última Tentação de Cristo", 1988, "Os Bons Companheiros", 1990, e "Gangues de Nova
York", 2002) e duas como roteirista ("Companheiros" e "A Época da Inocência", 1993), todos melhores que "Aviador" -e perdeu
sempre. Um prêmio agora seria
pelo conjunto da obra, um Oscar
honorário, na cerimônia de entrega, que acontece em Los Angeles
no dia 27 de fevereiro.
E porque Clint Eastwood, que
surpreendeu ao pegar também a
vaga de melhor ator que todos esperavam ser de Paul Giamatti pelo independente "Sideways - Entre Umas e Outras", já teve sua cota de prêmios. Levou filme e direção pelo impecável "Os Imperdoáveis" (1992), um prêmio pelo
conjunto da obra em 1995 e melhor filme no ano passado, pelo irrepreensível "Sobre Meninos e
Lobos". "Sempre me perguntam
se faço um filme pensando em
prêmios, e a resposta é sempre a
mesma: não, é uma conseqüência", disse Scorsese em entrevista
à Folha dada semanas antes da indicação de ontem.
Já o Brasil, depois das quatro indicações que "Cidade de Deus"
recebeu no ano passado, volta ao
Oscar, ainda que por vias tortas.
"Diários de Motocicleta", dirigido
pelo brasileiro Walter Salles, concorre em duas categorias: melhor
roteiro adaptado, com o porto-riquenho José Rivera, e canção original, com o uruguaio Jorge Drexler, pela bela "Al Otro Lado del
Río". "Fico muito feliz por Jorge e
José, ambos tão talentosos", disse
Salles. "No caso de José, não era
fácil ganhar uma indicação logo
no primeiro roteiro escrito para
cinema."
Na categoria filme estrangeiro,
"Olga", de Jayme Monjardim, o
indicado oficial do governo brasileiro a uma das cinco vagas, foi superado pelo sueco "As It Is in
Heaven" (Como É no Céu), sobre
a volta de um maestro famoso à
cidadezinha natal, o francês "A
Voz do Coração", o sul-africano
"Yesterday", sobre uma soropositiva que tem o nome do título, o
polêmico alemão "Downfall", do
mesmo diretor de "A Experiência", que mostra os últimos dias
de Hitler (interpretado por Bruno
Ganz), e o favorito "Mar Adentro", do espanhol Alejandro Amenábar, com Javier Bardem no papel de um tetraplégico.
Entre os atores, ironia e déjà vu.
No ano em que o segundo governo Bush tenta reverter as ações
afirmativas, que garantem cotas
para afro-americanos nas escolas,
negros conquistaram 25% das indicações, respondendo por cinco
das 20 vagas possíveis em ator e
atriz principais e coadjuvantes.
São eles Morgan Freeman (um
eterno desprezado, em sua quarta
chance, por "Menina de Ouro"),
Don Cheadle e Sophie Okonedo
("Hotel Rwanda") e Jamie Foxx,
já o favorito na categoria principal, pelo musical "Ray", e com
chances como coadjuvante, por
"Colateral".
E Hilary Swank e Annette Bening voltam a brigar pela mesma
estatueta cinco anos depois. Em
2000, a primeira levou a melhor,
ao bater a atriz de "Beleza Americana" por seu papel como a homossexual de "Garotos Não Choram". Dessa vez, Hilary é a boxeadora de "Menina de Ouro", e Annette, a atriz decadente de "Being
Julia". Ambas ganharam o último
Globo de Ouro, mas em categorias diferentes (drama e comédia). Hillary, 30, pode ser prejudicada pela reincidência, mas está
melhor que Annette, que pode ser
beneficiada pelo ineditismo (nunca foi oscarizada em sua carreira)
e idade (tem 45 anos).
Por fim, os 6.000 votantes da
Academia assinam embaixo da
acusação feita pelos conservadores logo após a eleição que deu
mais quatro anos a George W.
Bush, de que a indústria do entretenimento não está em sintonia
com a "América profunda".
Pode ser: essa "América" deu
US$ 370 milhões (cerca de R$ 991
milhões) de bilheteria ao polêmico "A Paixão de Cristo", de Mel
Gibson, que ontem só levou indicações técnicas (fotografia, maquiagem e trilha original).
Por outro lado, a América liberal também saiu de mãos abanando: "Fahrenheit 11 de Setembro",
de Michael Moore, com seus US$
120 milhões, não concorre a nada.
Os dois filmes representam a divisão por que o país passa no momento e foram os mais importantes de 2004. Hollywood não quer
nada com eles.
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