São Paulo, quarta-feira, 26 de janeiro de 2005

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"Aviador" lidera Oscar com 11 indicações

"Diários de Motocicleta" concorre em roteiro adaptado e canção

SÉRGIO DÁVILA
DA CALIFÓRNIA

Vai ser uma briga de cachorro grande -e idoso. A 77ª edição do Oscar, que anunciou seus concorrentes na madrugada de ontem em Los Angeles, colocou dois pesos-pesados na luta pela estatueta de diretor: os veteranos Martin Scorsese, 62, por "O Aviador", e Clint Eastwood, 74, por "Menina de Ouro".
Por enquanto, o ítalo-americano sai na frente: sua cinebiografia do milionário texano Howard Hughes (1905-1976) foi a recordista do dia, com 11 indicações, entre elas filme, ator (Leonardo DiCaprio, no papel-título), roteiro original e ator e atriz coadjuvantes. "Menina" vem atrás, com sete possibilidades, empatado com o fraco "Em Busca da Terra do Nunca".
Scorsese lidera porque é um eterno desprezado pela Academia; foi indicado quatro vezes como diretor ("Touro Indomável", 1980, "A Última Tentação de Cristo", 1988, "Os Bons Companheiros", 1990, e "Gangues de Nova York", 2002) e duas como roteirista ("Companheiros" e "A Época da Inocência", 1993), todos melhores que "Aviador" -e perdeu sempre. Um prêmio agora seria pelo conjunto da obra, um Oscar honorário, na cerimônia de entrega, que acontece em Los Angeles no dia 27 de fevereiro.
E porque Clint Eastwood, que surpreendeu ao pegar também a vaga de melhor ator que todos esperavam ser de Paul Giamatti pelo independente "Sideways - Entre Umas e Outras", já teve sua cota de prêmios. Levou filme e direção pelo impecável "Os Imperdoáveis" (1992), um prêmio pelo conjunto da obra em 1995 e melhor filme no ano passado, pelo irrepreensível "Sobre Meninos e Lobos". "Sempre me perguntam se faço um filme pensando em prêmios, e a resposta é sempre a mesma: não, é uma conseqüência", disse Scorsese em entrevista à Folha dada semanas antes da indicação de ontem.
Já o Brasil, depois das quatro indicações que "Cidade de Deus" recebeu no ano passado, volta ao Oscar, ainda que por vias tortas. "Diários de Motocicleta", dirigido pelo brasileiro Walter Salles, concorre em duas categorias: melhor roteiro adaptado, com o porto-riquenho José Rivera, e canção original, com o uruguaio Jorge Drexler, pela bela "Al Otro Lado del Río". "Fico muito feliz por Jorge e José, ambos tão talentosos", disse Salles. "No caso de José, não era fácil ganhar uma indicação logo no primeiro roteiro escrito para cinema."
Na categoria filme estrangeiro, "Olga", de Jayme Monjardim, o indicado oficial do governo brasileiro a uma das cinco vagas, foi superado pelo sueco "As It Is in Heaven" (Como É no Céu), sobre a volta de um maestro famoso à cidadezinha natal, o francês "A Voz do Coração", o sul-africano "Yesterday", sobre uma soropositiva que tem o nome do título, o polêmico alemão "Downfall", do mesmo diretor de "A Experiência", que mostra os últimos dias de Hitler (interpretado por Bruno Ganz), e o favorito "Mar Adentro", do espanhol Alejandro Amenábar, com Javier Bardem no papel de um tetraplégico.
Entre os atores, ironia e déjà vu. No ano em que o segundo governo Bush tenta reverter as ações afirmativas, que garantem cotas para afro-americanos nas escolas, negros conquistaram 25% das indicações, respondendo por cinco das 20 vagas possíveis em ator e atriz principais e coadjuvantes.
São eles Morgan Freeman (um eterno desprezado, em sua quarta chance, por "Menina de Ouro"), Don Cheadle e Sophie Okonedo ("Hotel Rwanda") e Jamie Foxx, já o favorito na categoria principal, pelo musical "Ray", e com chances como coadjuvante, por "Colateral".
E Hilary Swank e Annette Bening voltam a brigar pela mesma estatueta cinco anos depois. Em 2000, a primeira levou a melhor, ao bater a atriz de "Beleza Americana" por seu papel como a homossexual de "Garotos Não Choram". Dessa vez, Hilary é a boxeadora de "Menina de Ouro", e Annette, a atriz decadente de "Being Julia". Ambas ganharam o último Globo de Ouro, mas em categorias diferentes (drama e comédia). Hillary, 30, pode ser prejudicada pela reincidência, mas está melhor que Annette, que pode ser beneficiada pelo ineditismo (nunca foi oscarizada em sua carreira) e idade (tem 45 anos).
Por fim, os 6.000 votantes da Academia assinam embaixo da acusação feita pelos conservadores logo após a eleição que deu mais quatro anos a George W. Bush, de que a indústria do entretenimento não está em sintonia com a "América profunda".
Pode ser: essa "América" deu US$ 370 milhões (cerca de R$ 991 milhões) de bilheteria ao polêmico "A Paixão de Cristo", de Mel Gibson, que ontem só levou indicações técnicas (fotografia, maquiagem e trilha original).
Por outro lado, a América liberal também saiu de mãos abanando: "Fahrenheit 11 de Setembro", de Michael Moore, com seus US$ 120 milhões, não concorre a nada. Os dois filmes representam a divisão por que o país passa no momento e foram os mais importantes de 2004. Hollywood não quer nada com eles.


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