São Paulo, sexta-feira, 26 de janeiro de 2007

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Inspirado em bóias-frias, Herchcovitch leva vestido de saco de lixo às passarelas

CAMILA YAHN
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O estilista Alexandre Herchcovitch vestiu uma modelo com um saco de lixo de 100 litros no seu desfile anteontem na SPFW. O look causou impacto, como a coleção inteira, inspirada em imagens de bóias-frias e trabalhadores rurais.
As referências surgiram em chapéus de palha, luvas e sobreposições que remetiam aos panos que os trabalhadores usam para se proteger do sol. O saco de lixo remete ao uso que os bóias-frias fazem do material, utilizando-o como avental.
Em entrevista, ele diz que também no lixo existe poesia.

 

FOLHA - Algumas roupas são realmente de saco de lixo?
ALEXANDRE HERCHCOVITCH -
É saco de lixo mesmo, daqueles pretos, de 100 litros. Fiz três roupas com eles: uma saia clochard, um top e um vestido. Mas as peças tinham acabamento com seda.

FOLHA - De que forma esses looks vão chegar às lojas?
HERCHCOVITCH -
Fiz um vestido com a mesma forma feito em vinil. Ele vai representar o saco de lixo por ser um tecido industrial e de moda. É um vinil superfino e revestido de algodão.

FOLHA - Os bóias-frias são fashion?
HERCHCOVITCH -
Eles criam imagens sofisticadíssimas sem saber. Vestem uma roupa por cima da outra, as golas das camisas aparecem desordenadas. Todas aquelas sobreposições, que eu acho lindas, servem para eles se abrigarem do clima austero em que trabalham. As luvas são usadas para proteger as mãos de cortes. Na minha cabeça isso vira moda. Fiz uma ilusão dessa sobreposições de peças.

FOLHA - Sua coleção é uma crítica social?
HERCHCOVITCH -
Não foi pensada dessa forma. Eu nunca quis usar meu trabalho para fazer crítica social, mas acaba virando um alerta sobre as más condições de trabalho desse povo.

FOLHA - A moda brasileira hoje está mais para luxo ou para lixo?
HERCHCOVITCH -
Sinceramente acho que a moda está para todos os lados, e o mais interessante é conseguir trabalhar com eles de uma forma harmônica. Só o luxo não tem graça. Existe poesia no lixo também.


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