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Encenador Régy dispensa a aura do diretor intelectual
DA REPORTAGEM LOCAL
Homem de feições simples,
Claude Régy, 78, dispensa a aura
de diretor intelectual que sua trajetória possa suscitar.
Embora pensador, com livros
publicados (como "L'État d'incertitude", 2002), ele se sente mais à
vontade na pele de encenador. "O
teatro que faço não traz soluções
nem para a sociedade nem para as
teorias do teatro", filosofa.
Desde pelo menos o final dos
anos 60, quando montou "A
Amante Inglesa", adaptação do
romance homônimo de Marguerite Duras, ele segue a via do não-espetáculo, da não-direção.
Explica: "A representação não
existe em si. A maioria dos diretores se equivoca porque não há
uma obra. O teatro é um terreno
vasto, vazio e ao mesmo tempo
pleno em ancestralidades. Seu objetivo não se limita ao palco, deve
alcançar a alma do espectador.
Somos todos co-autores, o dramaturgo, o ator, o diretor e finalmente o público", afirma Régy,
com sua fala pausada.
Em mais de 40 anos de palco,
acostumou-se ao epíteto de subversivo da linguagem.
"Em nossa época, é uma palavra
muito associada à violência, mas,
no teatro, a subversão convém
para se descobrir, por exemplo,
qual a verdadeira natureza da violência", diz.
É assim que deseja proceder em
"4.48 Psychose", peça que se opõe
ao simulacro da fé, da política, do
sexo, do afeto, da realidade cotidiana, da vida, enfim. "Não se pode ser de acordo com o mundo
em que vivemos", diz Régy. "Um
mundo doente, de falsidades e
manipulações."
Mundo que, segundo o encenador, a britânica Sarah Kane (1971-99), diante da "insanidade crônica dos sãos de espírito", borrou as
fronteiras para transfigurá-lo em
poesia dramática.
Em sua turnê brasileira, Régy
assistiu ao espetáculo "Apocalipse 1,11", do grupo Teatro da Vertigem, no presídio desativado do
Hipódromo, em São Paulo.
Para ele, o grupo de Antônio
Araújo é antípoda. "Ele está no
sul, eu no norte, mas habitamos o
mesmo planeta. Em comum, não
nos ocupamos do realismo psicológico, como a maioria do teatro
contemporâneo o faz, procedimento contra o qual [o ator e pensador francês Antonin" Artaud
reagia com força, o mesmo Artaud que Sarah Kane lamentava
ter conhecido tão tarde."
Para Régy, a base do trabalho
teatral é saber que a linguagem
não é capaz de dizer tudo que se
quer. "Cada texto tem algo de mudo, de não-dito, que é de certa forma uma voz essencial." (VS)
ENCONTRO COM CLAUDE RÉGY -
Onde: teatro Sesc Anchieta (r. Dr. Vila
Nova, 245, SP, tel. 0/xx/11/3234-3000).
Quando: hoje, às 16h. Quanto: entrada
franca (retirar ingresso com uma hora de
antecedência).
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