São Paulo, segunda-feira, 26 de fevereiro de 2007

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Scorsese é o melhor diretor e seu "Os Infiltrados", o melhor filme

Helen Mirren, de "A Rainha", é eleita melhor atriz; Forest Whitaker, de "O Último Rei da Escócia", é o melhor ator

SÉRGIO DÁVILA
ENVIADO ESPECIAL A LOS ANGELES

O diretor norte-americano Martin Scorsese ganhou, enfim, seu Oscar de melhor diretor. Seu filme "Os Infiltrados" foi também escolhido o melhor, ontem, em Los Angeles. Eterno desprezado pela academia, Martin Scorsese concorria ontem a seu sexto Oscar como diretor. Aos 64 anos, o nova-iorquino perdeu antes por "O Aviador" (2005), "Gangues de Nova York" (2003), "Os Bons Companheiros" (1991), "A Última Tentação de Cristo" (1989) e "Touro Indomável" (1981).
Scorsese perderia ainda duas vezes como co-autor de roteiros adaptados, com "A Era da Inocência" (1994) e "Companheiros". Até ontem, fazia parte de um time que incluia grandes como Alfred Hitchcock, Orson Welles, Stanley Kubrick e Howard Hawks.
Rumo às três dezenas de prêmios pelo mesmo papel, a britânica Helen Mirren coletou o mais importante de todos na madrugada de hoje, ao ser escolhida melhor atriz por sua interpretação de Elizabeth em "A Rainha". Era a favorita, não houve surpresa. Da mesma forma Forest Whitaker, de "O Último Rei da Escócia", favorito a ator, levou mesmo a estatueta.
A surpresa veio com o veterano Alan Arkin, 72, que Oscar de melhor ator coadjuvante por sua interpretação do avô junkie de "Pequena Miss Sunshine", ontem em Los Angeles. O favorito na categoria era Eddie Murphy, por sua interpretação para James "Thunder" Early para "Dreamgirls - Em Busca da Fama".
O filme ganharia ainda roteiro adaptado. Já na versão feminina da categoria deu o esperado: a favorita Jennifer Hudson foi escolhida atriz coadjuvante por seu trabalho no musical. "Dreamgirls", que concorria em sete categorias, mas não a melhor filme, levou ainda edição de som.
"O Labirinto do Fauno", a fábula que se passa durante a ditadura de Franco, na Espanha, dirigida pelo mexicano Guillermo Del Toro, acumulava o maior número de prêmios: direção de arte, maquiagem e direção de fotografia. Mas o alemão "A Vida dos Outros" estragaria sua festa, ao ganhar filme estrangeiro. No clipe em homenagem à categoria, aliás, estava a produção franco-ítalo-brasileira "Orfeu Negro" (1959), de Marcel Camus.

Al Gore
De resto, foi Al Gore o tempo todo. Além de ganhar "Uma Verdade Inconveniente" na categoria documentário e em melhor canção, no meio da cerimônia o ex-vice-presidente democrata subiu ao palco com o ator Leonardo DiCaprio para anunciar que a cerimônia era oficialmente "verde", ou seja, que a academia havia adotou medidas para diminuir seu impacto sobre o meio ambiente.
Provocado duas vezes, de brincadeira, se não queria aproveitar o momento para anunciar algo, o vitorioso do voto popular de 2000 e hesitante pré-candidato a 2008 finalmente puxou um papel, mas foi interrompido pela orquestra. Tudo ensaiado, claro, e de brincadeira.
Antes, nas duas horas que antecederam a cerimônia de ontem, um dos mais solicitados para entrevistas no tapete vermelho era ele, que chegou acompanhado da mulher, Tipper.
O democrata, vencedor nas urnas nas eleições de 2000, que o republicano George W. Bush acabaria ganhando depois de uma decisão da Suprema Corte, foi aplaudido de pé ao subir ao palco para receber o prêmio. "O aquecimento global é uma questão bipartidária", diria depois aos jornalistas, nos bastidores. "E essa é a campanha à qual foi me dedicar", não à presidencial.
Ao receber o prêmio de melhor canção, e derrotar as favoritas de "Dreamgirls", a música Melissa Etheridge agradeceria à mulher e ao ex-vice-presidente, "por nos inspirar mostrando que se preocupar com o planeta não é algo republicano ou democrata, não é azul ou vermelho, mas verde."

Elogio inesperado
Horas antes, Gore havia recebido um elogio inesperado do presidente em exercício de Cuba, Raúl Castro. Texto publicado pelo jornal dominical da Juventude Comunista informava que o irmão de Fidel "reconheceu o esforço do ex-vice-presidente em denunciar o aquecimento global", durante reunião realizada na sexta com jovens líderes. O canal de televisão estatal cubano já havia exibido, em horário nobre, o documentário do ex-candidato.

Estética YouTube
A cerimônia, que começou às 17h30 locais (22h30 de Brasília), no Kodak Theatre, em West Hollywood, na Grande Los Angeles, foi conduzida pela primeira vez por Ellen DeGeneres. A comediante, gay assumida e apresentadora de um talk-show vespertino na TV aberta norte-americana, fez um monólogo inicial parecido com seus shows.
Nele, citou sua orientação sexual, ao pedir mais tolerância. "Se não houvesse negros e gays, não haveria o Oscar. Aliás, nem pessoas chamadas Oscar", brincou. Começou os trabalhos depois de um clipe com os indicados, que agradeceram em pé no abrir das cortinas, um fato inédito nos prêmios. O clipe imitava a estética YouTube e os comerciais da Apple. A idéia era rejuvenescer uma cerimônia que vem envelhecendo e perdendo audiência.
O 79º Oscar foi marcada pela ausência de filmes favoritos, resultado da pulverização das indicações, e um índice inédito de indicados não-americanos, com predomínio de mexicanos e britânicos, ou de minorias.


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