São Paulo, sábado, 26 de fevereiro de 2011

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CRÍTICA BIOGRAFIA

"Churchill" revela "resumão" correto sobre o estadista

Perfil escrito por Paul Johnson apresenta o político para o público jovem

RICARDO BONALUME NETO
DE SÃO PAULO

Dizer que o jornalista e historiador popular britânico Paul Johnson é uma figurinha polêmica e controversa é tão óbvio quanto dizer que o Sol nasce todo dia.
Foi de esquerda quando jovem. Hoje é queridinho dos conservadores e neoconservadores americanos. Recebeu medalha de George Bush filho e idolatra a ex-premiê Margaret Thatcher e o ex-presidente americano Ronald Reagan (1911-2004).
Octogenário, disse e continua dizendo besteiras federais: o ditador chileno Augusto Pinochet (1915-2006) era um "herói", o escândalo do abuso de crianças por padres católicos é exagerado. Mas acredite, leitor, ele acerta em muitas coisas.
Acerta ao defender as grandes virtudes do Ocidente: democracia, liberdade, tolerância. Ele certamente acertou ao fazer esta "biografia de bolso" do maior estadista do século 20, o britânico Winston Leonard Spencer-Churchill (1874-1965).
Johnson afirmou que o livro foi uma encomenda da editora para apresentar Churchill para jovens.
Ok, o livro faz isso; mas também apresenta Johnson para a rapaziada, com tudo o que tem de bom e de ruim. O "resumão" dos 90 anos de vida do grande estadista em geral é correto.
E existe muito para resumir, além do seu conhecido e imortal papel como líder da Grã-Bretanha na Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
Churchill foi militar e correspondente de guerra quando jovem, participou da última grande carga da cavalaria britânica na batalha de Omdurman, no Sudão, contra fanáticos islâmicos, em 1898.
Cobriu conflitos em Cuba, África do Sul, Índia. Iniciou as duas guerras mundiais no mesmo posto: primeiro lorde do almirantado, o chefe da Marinha Real britânica.
Era um homem de ação, detestava ficar atrás da escrivaninha. Antes da Primeira Guerra, passou mais tempo no mar do que em terra inspecionando a Marinha. Na Segunda Guerra, viajou milhares de quilômetros para visitar frentes de batalha e ter encontros de cúpula.
Dos "três grandes" líderes aliados -além do presidente americano Franklin D. Roosevelt (1881-1945) e o líder soviético Josef Stálin (1878-1953)- foi o único a visitar a capital dos outros dois.
Moralista extremo, criticou hábitos sexuais de intelectuais de esquerda e de outros oponentes. O maior problema do livro é a grande ignorância do autor da historiografia militar mais recente. Ele repete clichês e mitos antigos.
Por exemplo, ele elogia o envio de tropas britânicas para a Grécia invadida pelos alemães. Foi um erro militar completo de Churchill, apesar de um belo gesto político.
Além de não impedir a tomada do país pelos nazistas, o envio das tropas enfraqueceu o exército na África do Norte, permitindo um contra-ataque ítalo-germânico.
Johnson afirma também que isso atrasou o ataque alemão à União Soviética. Outro mito, demonstrado anos atrás pelo historiador israelense Martin van Creveld.
Não foram "hidroaviões", e sim aviões de porta-aviões, que atacaram a frota italiana em Taranto em 1940 (ok, esse pode ser um erro de tradução). História militar é crucial para entender Churchill, e essa lacuna é a maior falha do livro.
A edição brasileira poderia ter explicado melhor para o leitor uma série de termos e expressões. O que é um "privy counsellor", por exemplo? A edição brasileira poderia explicar que são assessores do monarca.
E as fotos não têm legenda! Custava explicar que, na foto logo no começo do livro, Winston está usando uma roupinha de marinheiro, e que o ano é 1881, e que ele adorava brincar com navios e soldadinhos de chumbo?

CHURCHILL

AUTOR Paul Johnson
EDITORA Companhia das Letras
TRADUÇÃO Gleuber Vieira
QUANTO R$ 34,90 (160 págs.)
AVALIAÇÃO bom


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