São Paulo, sábado, 26 de fevereiro de 2011

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Muntadas ataca utopia de Alphaville

Artista espanhol compara cidade controlada do filme de Godard a complexos imobiliários de metrópoles atuais

Em retrospectiva na Estação Pinacoteca, vídeos e instalações também refletem sobre a natureza da imagem

SILAS MARTÍ
DE SÃO PAULO

Alphaville é um lugar escuro, onde o amor é proibido. É também um mundo de felicidade e sonhos, onde a vida é cercada de tranquilidade.
Está no contraste entre a distopia cinzenta de Jean-Luc Godard e as promessas dos complexos imobiliários o ponto central do novo trabalho do artista Antoni Muntadas, tema de uma retrospectiva na Estação Pinacoteca.
Cenas do filme francês costuram comerciais de televisão dos condomínios fechados nos arredores de São Paulo, também em versão preto e branco. Muntadas contrasta sonho e pesadelo numa grande instalação, que estampa no chão uma vista aérea de Alphaville rodeada de grades e arame farpado.
Isso porque segurança, ou isolamento, parece ser a única promessa em comum entre os conjuntos imobiliários das metrópoles modernas e a cidade controlada do filme clássico da nouvelle vague.
No vídeo projetado no museu, algumas das cenas embaralham mesmo os dois espaços, que abusam de cercas e dispositivos de controle. É nesse ponto que o artista espanhol retoma suas ideias sobre o poder da imagem.
"Existe um paradoxo", diz Muntadas à Folha. "Imagens ajudam a acreditar, mas não quer dizer que estejam certas, podem ser construídas."
Num trabalho dos anos 70, que também está na mostra, Muntadas enviou fotografias publicadas na revista "Life" a críticos de arte espalhados pelo mundo, pedindo que descrevessem o que viam.
Transformou então fotografias em artefatos, inventando uma espécie de "museu antropológico da imagem", sublinhando a visão com o peso das palavras.
Na sala ao lado, uma nova versão de uma obra dos anos 80 reforça essa ideia. Uma espécie de estádio cenográfico faz par com imagens de estádios reais do mundo todo, entremeados de projeções de feitos históricos e esportivos.
Entre os fotogramas, enumera uma série de palavras. Muntadas faz aqui um paralelo entre a arquitetura dos espaços de espetáculo e o tecido semântico arquitetado na tensão entre palavra e imagem, signo e referente.
Em relatos nas fronteiras entre México e Estados Unidos e Espanha e Marrocos, também explora como a imagem pode estar a serviço da construção do medo, como as cercas de Alphaville.

ANTONI MUNTADAS

QUANDO abre hoje, às 11h30; ter. a dom., das 10h às 17h30; até 8/5
ONDE Estação Pinacoteca (lgo. Gal. Osório, 66, tel. 0/xx/11/ 3335-4990)
QUANTO R$ 6 (grátis sáb.)


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