São Paulo, domingo, 26 de março de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CLÁSSICO

Fritz Lang expõe gênese do noir

TIAGO MATA MACHADO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O remake americano do clássico francês "La Chienne" (1931) era para ser mais uma sátira europeizada de Ernst Lubitsch. Mas este acabou jogando a toalha: para os padrões americanos do pré-guerra, o anárquico filme original de Jean Renoir era inadaptável.
Depois da Segunda Guerra, Fritz Lang retomou o projeto. O sistema de produção hollywoodiano estava mudando (produtoras independentes, como a que Lang acabara de fundar, entravam no mercado) e as demandas do público também.
"Almas Perversas" (1945), o resultado da empreitada, pode ser visto hoje como um dos remakes mais interessantes da história, um diálogo de estilos e visões de mundo de dois gênios em tudo opostos, Lang e Renoir.
O filme de Renoir era uma sátira às instituições burguesas em que a visão social do diretor (sua utopia rousseauísta) se impunha sobre a psicologia das personagens. A versão de Lang é temperada a Freud e "filmes de rua" alemães (a semente do noir). Transformado num típico herói de "filme de rua", um burguês reprimido às voltas com perigos e seduções da vida moderna, Edward G. Robinson faz o bancário que tropeça em "almas perversas" pelo caminho.
O filme é a soma de tudo o que Lang trazia em sua bagagem de exilado -soma que resultou no gênero noir, cuja genealogia está no périplo de homens como ele, que, foragidos do nazismo, passaram pela Paris de "La Chienne" nos anos 30, antes de aportar na América dos 40.


Almas Perversas
    
Direção:
Fritz Lang
Distribuidora: Aurora (R$ 36)


Texto Anterior: DVDs- Musical: "Noviça Rebelde" volta com pacote de extras
Próximo Texto: Nas lojas
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.