São Paulo, segunda-feira, 26 de março de 2007

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Crítica/"Atirador"

Diretor faz elogio sem ironia à vingança pelas próprias mãos

PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA

Conspiração, paranóia, perda de identidade e patriotismo em xeque: "Atirador" mais parece um compêndio de assuntos em voga em Hollywood, temas obrigatórios para que os filmes de ação ganhem um engajamento político supostamente capaz de lhes conferir legitimidade. Mas é pura cortina de fumaça. Em "Atirador" -muito mais do que em "A Identidade Bourne" e "A Supremacia Bourne", que, aliás, são muito semelhantes-, o "engajamento" e os temas "nobres" são usados como álibis para uma forma radicalmente conservadora. O filme é todo construído para desaguar em um final fatídico, desesperançado, que nega qualquer possibilidade de justiça e aplaude, sem qualquer ironia, a vingança feita com as próprias mãos. Antoine Fuqua (de "Assassinos Substitutos" e "Dia de Treinamento") elege como vilões categorias que, segundo a atual cartilha, cabem como uma luva no papel: políticos e militares. Um vil senador está por trás das barbaridades que levam Bob Lee Swagger (Mark Wahlberg) a engendrar uma caçada para descobrir quem lhe preparou uma armadilha e, mais adiante, executar uma vingança pessoal em nome de crimes contra a humanidade. Ao lado do senador, está o coronel Isaac Johnson (Danny Glover), clássico vilão de voz suave que não se cansa de repetir: "Eu venci, mais uma vez".
Terror
Diante de um mundo em que a confiança nas estruturas de poder é impossível, só resta a possibilidade do terror. A idéia que parece ser contra o poder é, na verdade, um reforço às avessas desse mesmo poder, justificando arbitrariedades sem fim. Muitos filmes de ação americanos lidam com essa idéia de forma irônica e subversiva, mas não é o caso aqui. Em seu primeiro papel depois da indicação ao Oscar por "Os Infiltrados", Mark Wahlberg volta às caras e bocas do "bad boy" de bom coração. Fuqua não economiza nas indefectíveis imagens em que o herói caminha em direção à câmera em marcha lenta, depois de uma explosiva seqüência de ação. Fuqua reinterpreta de forma preguiçosa um personagem clássico (o justiceiro solitário) e um gênero recorrente no cinema americano, reforçando clichês e, em vários momentos, alcançando um riso involuntário que tanto pode ser produto de um certo autodeboche como de um ridículo não-intencional. ATIRADOR Direção: Antoine Fuqua Quando: em cartaz nos cines Tamboré, Unibanco Arteplex e circuito Avaliação: Ruim

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