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Crítica/"Atirador"
Diretor faz elogio sem ironia à vingança pelas próprias mãos
PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA
Conspiração, paranóia,
perda de identidade e
patriotismo em xeque:
"Atirador" mais parece um
compêndio de assuntos em voga em Hollywood, temas obrigatórios para que os filmes de
ação ganhem um engajamento
político supostamente capaz de
lhes conferir legitimidade.
Mas é pura cortina de fumaça. Em "Atirador" -muito mais
do que em "A Identidade Bourne" e "A Supremacia Bourne",
que, aliás, são muito semelhantes-, o "engajamento" e os temas "nobres" são usados como
álibis para uma forma radicalmente conservadora.
O filme é todo construído para desaguar em um final fatídico, desesperançado, que nega
qualquer possibilidade de justiça e aplaude, sem qualquer ironia, a vingança feita com as próprias mãos.
Antoine Fuqua (de "Assassinos Substitutos" e "Dia de Treinamento") elege como vilões
categorias que, segundo a atual
cartilha, cabem como uma luva
no papel: políticos e militares.
Um vil senador está por trás
das barbaridades que levam
Bob Lee Swagger (Mark Wahlberg) a engendrar uma caçada
para descobrir quem lhe preparou uma armadilha e, mais
adiante, executar uma vingança pessoal em nome de crimes
contra a humanidade.
Ao lado do senador, está o coronel Isaac Johnson (Danny
Glover), clássico vilão de voz
suave que não se cansa de repetir: "Eu venci, mais uma vez".
Terror
Diante de um mundo em que
a confiança nas estruturas de
poder é impossível, só resta a
possibilidade do terror. A idéia
que parece ser contra o poder é,
na verdade, um reforço às avessas desse mesmo poder, justificando arbitrariedades sem fim.
Muitos filmes de ação americanos lidam com essa idéia de forma irônica e subversiva, mas
não é o caso aqui.
Em seu primeiro papel depois da indicação ao Oscar por
"Os Infiltrados", Mark Wahlberg volta às caras e bocas do
"bad boy" de bom coração.
Fuqua não economiza nas indefectíveis imagens em que o
herói caminha em direção à câmera em marcha lenta, depois
de uma explosiva seqüência de
ação. Fuqua reinterpreta de
forma preguiçosa um personagem clássico (o justiceiro solitário) e um gênero recorrente
no cinema americano, reforçando clichês e, em vários momentos, alcançando um riso involuntário que tanto pode ser
produto de um certo autodeboche como de um ridículo não-intencional.
ATIRADOR
Direção: Antoine Fuqua
Quando: em cartaz nos cines Tamboré,
Unibanco Arteplex e circuito
Avaliação: Ruim
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