São Paulo, quarta-feira, 26 de março de 2008

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Crítica/erudito

Com apelo kitsch, Morricone rege concerto de clima gélido

IRINEU FRANCO PERPETUO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O concerto paulistano mais caro do milênio teve atraso, falatório e Djavan. Anteontem à noite, o público que pagou entre R$ 700 e R$ 1.500 por entrada esperou por meia hora até que, depois de discurso dos realizadores, e da rapaziada do Instituto Baccarelli cantando "Sina", o italiano Ennio Morricone finalmente subisse ao palco para executar trechos das trilhas sonoras que compôs para filmes como "Era uma Vez na América" e "A Missão".
À frente de uma Roma Sinfonietta de sonoridade não especialmente brilhante, e de um coro paulista arregimentado para a ocasião, Morricone se revelou um regente sóbrio e impassível, que passou o concerto com a cara na partitura, marcando o tempo, e não parecia se alterar muito nem com a música que emanava do palco, nem com o que se passava fora dele -a barulheira dos fotógrafos fez com que a primeiras obra do espetáculo (tema de "Os Intocáveis") ficasse virtualmente inaudível para quem estava sentado no fundo do teatro.
Sem as imagens para as quais foi concebida para acompanhar, a retórica grandiloqüente e rapsódica da música de cinema corre o sério risco de soar vazia. De qualquer forma, quem não tem sentimentos de culpa com relação ao kitsch se esbaldou com a mescla de batida pop, melodismo fácil, sentimentalismo operístico e monumentalidade wagneriana que caracterizam o universo "crossover" de Morricone, especialmente nas trilhas de "western spaghetti" que melhor parecem sintetizar sua estética.
De forte apelo sensorial, e com escassas demandas de concentração, a apresentação, de qualquer forma, teria feito muito mais sentido num domingo ensolarado no parque, com entrada franca, do que no esnobismo gélido do teatro Alfa, em uma segunda-feira à noite, a preços estratosféricos.


ENNIO MORRICONE
Avaliação:
regular

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