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Crítica/erudito
Com apelo kitsch, Morricone rege concerto de clima gélido
IRINEU FRANCO PERPETUO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
O concerto paulistano
mais caro do milênio
teve atraso, falatório e
Djavan. Anteontem à noite, o
público que pagou entre R$
700 e R$ 1.500 por entrada esperou por meia hora até que,
depois de discurso dos realizadores, e da rapaziada do Instituto Baccarelli cantando "Sina", o italiano Ennio Morricone finalmente subisse ao palco
para executar trechos das trilhas sonoras que compôs para
filmes como "Era uma Vez na
América" e "A Missão".
À frente de uma Roma Sinfonietta de sonoridade não especialmente brilhante, e de um
coro paulista arregimentado
para a ocasião, Morricone se revelou um regente sóbrio e impassível, que passou o concerto
com a cara na partitura, marcando o tempo, e não parecia se
alterar muito nem com a música que emanava do palco, nem
com o que se passava fora dele
-a barulheira dos fotógrafos
fez com que a primeiras obra do
espetáculo (tema de "Os Intocáveis") ficasse virtualmente
inaudível para quem estava
sentado no fundo do teatro.
Sem as imagens para as quais
foi concebida para acompanhar, a retórica grandiloqüente
e rapsódica da música de cinema corre o sério risco de soar
vazia. De qualquer forma,
quem não tem sentimentos de
culpa com relação ao kitsch se
esbaldou com a mescla de batida pop, melodismo fácil, sentimentalismo operístico e monumentalidade wagneriana que
caracterizam o universo "crossover" de Morricone, especialmente nas trilhas de "western
spaghetti" que melhor parecem
sintetizar sua estética.
De forte apelo sensorial, e
com escassas demandas de
concentração, a apresentação,
de qualquer forma, teria feito
muito mais sentido num domingo ensolarado no parque,
com entrada franca, do que no
esnobismo gélido do teatro Alfa, em uma segunda-feira à noite, a preços estratosféricos.
ENNIO MORRICONE
Avaliação: regular
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