São Paulo, quinta-feira, 26 de março de 2009

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Ao mestre, com carinho

Veteranos da música internacional escolhem faixas de seu repertório e indicam artistas mais jovens para gravarem versões em CD beneficente

Shaun Best - 13.dez.03/Reuters
David Bowie durante show no Canadá

BRUNO YUTAKA SAITO
DA REPORTAGEM LOCAL

Eles são jovens, muitas vezes loucos e rebeldes. Mas, agora, se comportaram direitinho e seguiram a lição do velho professor. Com faixas gravadas por artistas da nova geração, o CD beneficente "War Child -0Heroes" é uma espécie de escola do rock em que as aulas tomam forma de músicas. São 15 "mestres", 15 "alunos" e 15 "lições".
A pedido da entidade internacional War Child, veteranos foram convidados para escolher uma música de seu repertório e um artista novo para interpretá-la. O lucro arrecadado, diz a gravadora Parlophone/EMI, vai para a instituição, que ajuda crianças em zonas de guerra no Irã, Afeganistão, Congo e em Uganda.
Além do caráter "do bem", que sensibilizou nomes do porte de Bob Dylan, "War Child -0Heroes" tem alto valor artístico e faz um "quem é quem" da música. Como são escolhas personalizadas, é possível traçar uma genealogia do pop e entender as relações de influência e identificação.
Nome maior do folk, Dylan, 67, deixou de lado os inúmeros cantores do gênero que pipocam mundo afora. Ele preferiu o também americano Beck, 38, para "Leopard-Skin Pill-Box Hat". Sempre identificado com a vanguarda, Beck tem um lado acústico menos inspirado; sua dançante versão segue a primeira via, com graves distorcidos e sons inusitados.
Algumas escolhas são óbvias, mas não menos interessantes, como "Search and Destroy", do Stooges, feita por Peaches, 40 -Iggy Pop, 61, já fez parcerias com a cantora. Já ao escolher a TV on the Radio, banda experimental de Nova York, David Bowie,62, legitima o grupo como seu herdeiro espiritual de ousadias. Eles fazem uma versão eletrônica minimalista de "Heroes".
Na mesma linha segue o colorido Scissor Sisters em "Do the Strand", do Roxy Music. Ambas dividem uma paixão pela ambiguidade sexual. "Obviamente, eles já devem ter assistido a muitos musicais da Broadway", diz o vocalista Bryan Ferry, 63, no site da War Child.

Família roqueira
Outras ligações estão no DNA. Pode soar estranho que os remanescentes do Clash, a banda mais politizada da primeira geração do punk britânico, tenham escolhido uma cantora tão pop como Lily Allen.
"Joe Strummer [1951-2002; líder do grupo] era o melhor amigo do meu pai, mas eu o chamava de Tio Joe; ele sempre andava com uma garrafa de uísque", disse Allen, 23, ao site Pitchfork. Ela é filha do ator e comediante Keith Allen, e canta "Straight to Hell" em levada mais contida, respeitosa à original, ao lado do também cantor do Clash Mick Jones, 53.
Causa surpresa que Paul McCartney, 66, tenha escolhido o Wings, e não o Beatles (nem ele deve mais aguentar covers de Beatles). Sua eleita foi Duffy, 24, cantora comparada a Amy Winehouse, que faz "Live and Let Die". A grandiloquência da música, que já foi trilha de James Bond, dá espaço a um elegante soul.
A lamentar apenas o fato de que a versão brasileira é a mesma do Reino Unido; a americana tem uma faixa a mais: "Take This Waltz", de Leonard Cohen, 74, interpretada pelo seu filho, Adam, 36. Ao menos desta vez os veteranos não têm como reclamar das homenagens em forma de cover que muitas vezes viram presente de grego.


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