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Vanessa se firma como referência para nova geração
Novo patamar da artista foi conquistado graças à conjunção de potencial radiofônico e prestígio artístico
Novo disco sai em 2011, ano em que a compositora também estreia na literatura e inaugura uma casa de shows em SP
MARCUS PRETO
ENVIADO ESPECIAL A SALVADOR (BA)
Noite de sábado passado,
Concha Acústica do Teatro
Castro Alves, em Salvador. Sentada no centro do palco estava
Dona Ivone Lara, 87, primeira
mulher da história a compor
um samba-enredo. Ajoelhadas
em volta, as novinhas Mariana
Aydar, 29, e Mallu Magalhães,
17, faziam coro, chorando.
Vanessa da Mata, 34, também chorava. Ela representava
ali o elo entre as três, naquele
primeiro dos seis shows que faz
neste e no próximo mês por cidades brasileiras, sempre como
anfitriã de colegas da nova e da
velha guarda (leia quadro).
Cheio de outros símbolos importantes (as conquistas da
precursora Dona Ivone refletidas na novata Mallu, a consagração de uma linguagem feminina de composição etc.), a
apresentação aponta que, agora
não há mais dúvida, Vanessa da
Mata alcançou nova estatura
entre as artistas brasileiras.
Tornou-se o símbolo do artista que reúne o melhor de
dois mundos: aquele capaz de
produzir hits com potencial radiofônico similar aos de Ivete
Sangalo e, ao mesmo tempo,
gozar de prestígio artístico.
Uma espécie de Marisa Monte,
só que ainda mais popular.
Os olhos das gravadoras brilharam e Vanessa se tornou
uma espécie de "formulário"
para executivos aplicarem nas
novas cantoras.
Esse novo patamar, é bem
verdade, foi conquistado em
grande parte graças aos números que a música dela atingiu
(leia acima), especialmente em
"Essa Boneca Tem Manual"
(2004) e "Sim" (2007), os dois
últimos álbuns de estúdio.
O clique comercial se deu
justamente entre os dois discos, em 2006, quando um remix da canção "Ai Ai Ai", de
"Essa Boneca...", estourou nas
rádios, virou tema de novela e
alcançou o primeiro lugar entre
as mais tocadas do ano.
O feito seria repetido -com
ecos internacionais- em 2008,
graças a balada "Boa Sorte/
Good Luck", de "Sim", composta e cantada em dueto com o
americano Ben Harper.
Nascida em Alto Garças, no
Mato Grosso, Vanessa se mudou para São Paulo ainda na
adolescência e despontou como compositora em 1999,
quando Maria Bethânia gravou
"A Força que Nunca Seca".
O estouro popular demorou
sete anos para chegar. Bethânia, em entrevista recente à Folha, comentou a fase atual da
"afilhada", afirmando que Vanessa "mantém o jeitinho dela", apesar "desse bicho, dessa
faca de dois gumes que é o sucesso". E concluiu: "Mas ela está no momento do furacão. Daqui a um ano, vamos ver onde é
que ela vai se assustar".
Vanessa chegou a fazer terapia com medo do tal bicho.
"Nunca achei a fama um bem
aceitável", ela diz. "É uma coisa
que te tira do eixo, cria uma
imagem para você e te deixa ao
Deus dará. E você vira um "paradoido", um paraquedas de
gente maluca. As pessoas te julgam, te xingam e você não consegue ficar discreta no mundo."
Tem um truque para passar
despercebida: prende os cabelos e se transforma em outra.
De coque, ouve as pessoas cantando suas canções, sobretudo
os hits "Ai Ai Ai", "Boa Sorte" e
"Amado", sem se darem conta
de que a autora as observa.
"Faço pouca TV e minha vida
não costuma render em coluna
de fofoca. Então, minha imagem não foi tão assimilada. As
canções fazem sucesso, mas eu,
pessoalmente, tenho pouco a
ver com isso", diz. "Ainda consigo assistir anonimamente
minha música acontecendo. E
isso me dá um norte."
O show na Concha Acústica
abriu a última fase da turnê de
"Sim" -que rendeu, no ano
passado, o primeiro DVD de
Vanessa. Outro álbum de inéditas, só em 2011. Já estão prontas muitas candidatas a estar
nele, algumas compostas em
parceria com Gilberto Gil.
Até lá, pretende inaugurar
uma casa de shows no bairro de
Pinheiros, em São Paulo, em
sociedade com o músico Dominguinhos. Deve abrigar 450
pessoas sentadas ou mil em pé.
A obra começa agora.
No mesmo ano, pretende colocar o ponto final no romance
que está escrevendo, sua estreia na literatura. "É muito
mais assustador do que música", diz. "Vão acontecendo coisas ali que eu não manipulo. Escrevi cinco capítulos e ainda
não consegui entender nem o
tempo e nem o espaço em que
os personagens estão. Quero só
ver onde isso vai dar."
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