São Paulo, quinta, 26 de março de 1998

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CINEMA
O primeiro projeto aprovado foi "Orfeu", de Cacá Diegues, que tem Isabel Fillardis e Zezé Motta no elenco
Rede Globo entra no mercado de filmes

ANNA LEE
da Sucursal do Rio

O produtor Luiz Carlos Barreto acertou com a Globo Filmes a co-produção de "Senhorita Simpson", baseado no livro homônimo de Sérgio Sant'Anna e com direção de Bruno Barreto.
O acordo foi feito na sexta-feira, antes de Barreto embarcar para Los Angeles, onde assistiria à cerimônia do Oscar. Ele produziu "O Que É Isso, Companheiro?", indicado ao prêmio de melhor filme estrangeiro.
A Globo Filmes é o novo investimento das Organizações Globo na área de audiovisual e é um núcleo da Rede Globo.
A empresa é dirigida por Daniel Filho (direção-geral e artística), Marco Aurélio Marcondes (distribuição e comercialização) e Tom Flórido (planejamento), mas todos os projetos e decisões devem passar pela avaliação de Marluce Dias da Silva, superintendente-executiva da TV Globo.
"Senhorita Simpson" é o segundo projeto escolhido pela Globo. Existem mais seis em avaliação das pelo menos 30 propostas que já foram enviadas para a emissora.
O primeiro projeto aprovado foi "Orfeu", de Cacá Diegues, que começou a ser filmado durante o Carnaval, mesmo antes do acordo.
"Foi um contrato atípico, pois, quando fechamos, já tínhamos feito captações no mercado. Estamos contando com a Globo para a divulgação e distribuição, a cargo do Marco Aurélio, que tem know-how no assunto. Isso é uma tranquilidade até para a venda posterior para a televisão", disse Renata Magalhães, produtora do filme de Diegues.
O que é tranquilidade para Magalhães é preocupação para o escritor Alcione Araújo. "O nome Globo tem um poder de persuasão muito grande diante das empresas investidoras. Isso significa uma certa ameaça à medida que ela pode absorver todas as verbas e não sobrar nada para os produtores independentes", disse Araújo.
Para o escritor, investindo em um filme co-produzido pela Globo Filmes, "as empresas poderão, além de usufruir da Lei do Audiovisual (que prevê isenção de até 4% do imposto líquido devido para investimentos em cultura), ter outros benefícios".
"Os empresários sabem que, trabalhando com a Globo Filmes, terão anúncios e divulgação em massa da TV Globo", disse.
Segundo Araújo, que participou da elaboração da Lei do Audiovisual, as Organizações Globo não poderão, "a princípio", beneficiar-se diretamente da lei.
"Não é permitido que uma empresa tenha isenção fiscal aplicando dinheiro em seus próprios projetos, mas, dependendo da constituição societária das Organizações Globo, pode ser que suas empresas também sejam beneficiadas nesse aspecto", disse.
"A Globo não vai concorrer com os produtores independentes. Ao contrário, ela vai se associar aos que apresentem projetos, que evidentemente sejam de interesse dela. Acredito que os investidores vão se pautar pela qualidade dos projetos e não pela presença da Globo" disse Barreto.
Para ele, "o acirramento da concorrência no mercado cinematográfico brasileiro aconteceu desde a Lei do Audiovisual, de 1994, e não vai sofrer grandes alterações por causa da Globo Filmes".
"Os produtores brasileiros têm que se acostumar ao critério de performance, que hoje é a realidade do mercado. Não é porque a Globo está entrando que a competição vai ficar desleal. Se for assim, a presença da L.C. Barreto também é desleal. Os investidores deveriam preferir minha produtora por tudo que já fiz, e nem sempre é assim", disse Barreto.



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