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Comentário
Ao final, não se aplaude o filme, mas a memória do médium Chico Xavier
NINA LEMOS
COLUNISTA DA FOLHA
Na entrada da sala, cerca de
200 pessoas esperam agitadas.
"Aqui é a fila do Chico Xavier?".
A pergunta é feita a cada cinco
minutos. Parece que vamos, de
fato, encontrar o famoso médium para pedir um passe, uma
carta psicografada. A cena
ocorre num domingo no Shopping Frei Caneca, São Paulo.
Grupinhos de senhoras vestindo moletom chegam agitadas. A frequência do shopping,
famoso por ser point gay, é alterada graças à magia do espiritismo. Meninos abraçados convivem em harmonia com senhoras em cadeiras de rodas
conduzidas por suas filhas.
Prova de que Chico Xavier,
além de lotar cinemas, produziu o milagre da tolerância.
O clima de centro espírita é
reforçado pelas conversas na fila. Com ar de expectativa, os cinéfilos-espíritas falam sobre
coisas do além. "Você já viu no
Youtube a cena da morte dele, é
chocante, aparece uma luz",
conta às amigas a dona de casa
Valéria Pizzutti, 48, kardecista.
As conversas sobre as coisas
que acontecem "do lado de lá"
contagiam até quem não é espírita de carteirinha. "A gente
sempre tem curiosidade sobre
as coisas sem explicação, sou
meio mística", diz a cabeleireira Josefa dos Santos, 40.
Não estamos entrando para
uma exibição comum, mas numa espécie de sessão espírita.
O clima de culto aumenta na
sala de cinema lotada. Quando
Chico Xavier reza, as pessoas
rezam baixinho. Em outros
momentos, sussurram músicas
religiosas. A plateia vibra em
cada cena engraçada. Mas, mais
que isso, se acaba de chorar. De
verdade. Na cadeira ao lado,
uma senhora está aos prantos.
Quando o espetáculo acaba, ele
é aplaudido entusiasticamente.
Não, não estamos aclamando o
filme, mas sim Chico Xavier, e a
possibilidade de ter explicação
para aquelas coisas que acontecem "do outro lado".
"Que coisa mais linda! Falaram que em toda sessão é assim", comenta a vizinha de cadeira com sua amiga.
Na saída, o clima de alegre
expectativa muda. Todos estão
em silêncio. Respeitosos. Impossível não comparar isso
com a saída de uma missa. Ou
de um culto em um centro espírita de verdade. Mas, no fundo,
não foi isso que aconteceu na
sala de cinema do shopping?
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