São Paulo, terça-feira, 26 de abril de 2011

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Arquitetura no Brasil está repetitiva, diz Portzamparc

Ganhador do Pritzker critica falta de planejamento urbano no país

Para ele, profissionais locais não recebem razoavelmente nem têm chance de pesquisar ou criar algo diferente

DO RIO

Comercial e repetitiva, a arquitetura brasileira hoje pode, segundo Portzamparc criar tristeza. À Folha ele crítica esse aspecto e a falta de debate sobre o tema no país. (MARCELO BORTOLOTI)

 


Folha - O que o senhor acha da arquitetura feita hoje no Brasil?
Christian de Portzamparc -
É uma arquitetura muito comercial, que repete o mesmo modelo. Tenho a impressão de que não se pode fazer nada diferente. É claro que existem prédios muito interessantes e grandes nomes, como Paulo Mendes da Rocha e outros da nova geração.
Mas acho que os arquitetos não são pagos de maneira razoável nem têm chance de fazer pesquisa para algo criativo. São obrigados a fazer tudo rápido e a apresentar a primeira solução.
Não existe debate, também. Hoje temos um assunto importante no Rio: a Marina da Glória, que será reconstruída sobre o aterro do Flamengo, uma obra importantíssima de urbanismo e paisagismo do século 20.
Fazer um projeto nesse lugar é alguma coisa maior, como se fosse a pirâmide do Louvre. Mas ninguém sabe...

Qual é a consequência no futuro da arquitetura feita hoje?
Essa repetição pode criar tristeza, falta de energia vital. A cidade mais bonita do mundo merece que nós nos questionemos sobre arquitetura. Na Barra da Tijuca, por exemplo, existem muitos prédios frios ou banais, embora existam casas de qualidade, geralmente escondidas. É a natureza que salva tudo, mas os prédios não são realmente fascinantes.
Não é específico da Barra. Existem bairros na periferia de Paris onde há grandes áreas com prédios de baixa qualidade. Tecnicamente, eles são corretos, mas são tristes e não têm espírito.
Comparando isso com a cidade que nossos ancestrais fizeram no século passado, não parece uma evolução.
Creio que mais perigoso é um urbanismo sem transporte público, que não organiza a ligação entre espaços e com grande número de condomínios fechados.
Isso acontece na Barra, onde condomínios organizam uma vida separada do comércio. Sei que tudo isso aconteceu por questões de segurança, mas o futuro dessas regiões não é fácil.

Este é um momento importante para a renovação?
Todo o planeta está olhando para o Brasil agora, e existe um movimento de amor pelo país. A sucessão de presidentes -Fernando Henrique, Lula e Dilma- é algo admirado no mundo todo. É um país jovem que cresceu.
As futuras gerações têm uma grande oportunidade. Há muitas coisas a fazer no Rio, como hospitais, estradas, escolas e a urbanização das favelas. Se forem feitas com inteligência e arquitetura, vão custar só um pouco mais caro, e o benefício será enorme para a comunidade.


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