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NOITE ILUSTRADA
A Noite Ilustrada dos outros é refresco...
ERIKA PALOMINO
ANTES DE qualquer coisa, eu
gostaria de agradecer as muitas
dezenas de mensagens recebidas
por esta coluna relativas ao texto
sobre Andréia de Maio, publicado na última semana. Em oito
anos de Noite Ilustrada, e o aniversário foi exatamente na segunda-feira, eu nunca havia visto tamanha integração.
E é nesse clima que apresento a
prometida versão da coluna feita
pelos leitores, relatando suas próprias cenas (em si), seus personagens, seus hypes e bas-fonds.
Chochos e elogios foram mantidos, não são meus, tá? Dez cartas
foram selecionadas, em função
de sua representatividade. Servem de mostra de como anda o
povo -e seus babados- por aí...
"E ATÉ hoje não se sabe se é conversinha ou verdade: Belo Horizonte tem cena clubber ou tudo
não passa de um grande carão
que os pseudoclubbers daqui ostentam orgulhosamente? BHz
não é São Paulo, mas queria (ou
quer?) ser... e, nessa corrida desenfreada para ser up-to-date, os
tropeços e atropelos são no mínimo lastimáveis. De um lado, temos o DJ Noise e o promoter
Marcelo Marent, que abandonaram o underground (ou seria o
contrário?), e agora têm suas festas lotadas de patricinhas e mauricinhos, equivocadíssimos, com
seus óculos coloridos sorrindo na
tela cacófona da MTV. Do outro,
temos Ciano e sua turminha de
descolados, puro underground,
como deve ser, mas que faz muito
carão e não inova, apenas assimila modelos padrão. Nos resta a cena gay, que esbanja descontração
e divertimento. Mas o DJ Gabriel
Fam não colabora musicalmente.
E as noites do mix club da Savassi
terminam incompletas e repetitivas. Sentar e esperar, essa é a solução." Paulo Raic Muniz, Belo Horizonte
"A BALADA para o pessoal mais
mauricinho de Santo André geralmente rola na capital (São Paulo). Mas pra quem fica por aqui o
point é a Ocean Drive (o nome da
famosa rua de Miami mesmo). A
casa foi fechada e reaberta inúmeras vezes, tantas que nem me
lembro mais. O som que rola na
pista da Ocean é o techno, trance
(o som classificado como de
mauricinhos e patricinhas) e suas
vertentes, e um pouco de dance
no começo da noite, daqueles que
geralmente tocam em rádios como a Jovem Pan e que nem dão lá
muita vontade de dançar. A grande moda na pista são os light-stickers, e os promoters geralmente
dançam em cima de algo que até
hoje não descobri o que é, mas
me parecem caixas de som (o comentário é patético, eu sei, mas os
coquetéis com vodca tomados
antes de chegar à pista cheia não
ajudam...)." Renata Ribeiro, 17
anos, Santo André, SP
"ACHO simplesmente uma lástima ter apenas 16 anos e não poder dirigir. Sendo assim, tive de
recorrer ao coletivo e ir de metrô,
já que mamãe não quis me levar
ao Mundo Mix. Quando entrei no
vagão, me senti uma criatura extraterrestre. Todos ficaram me
olhando (faltou pedirem autógrafo!).Tudo isso, só porque eu
estava com o cabelo azul basiquíssimo e um modelito nada
convencional assinado pelo Alê
Herchcovitch. Vai entender! Esse
povo se impressiona com cada
coisa comum!" Danilo Henrique
Sorrino
"O BUNKER 94 fica no Rio, em
Copacabana. Os personagens são
diversos: gays, straights, clubbers,
mauricinhos e patricinhas que estranham o povo da noite e até
partem para a briga; artistas internacionais (como Offspring,
The Vandals), turistas estrangeiros e pára-quedistas em geral.
Obviamente não posso esquecer
os habitués da cena, tipo Felipe
Velloso, que, sempre que o lindo
do Tatá toca, está lá com seus modelos maravilhosos. E também o
André e o Lavoisier com suas
saias-kilts lindas, arrasando na
pista. O promoter, o popular
Cabbet Araújo, é um dos responsáveis pelo prestígio atual da
Bunker. Tipo incrível mesmo foi
sábado passado, Laura de Vison,
despindo-se e xingando todos os
presentes... Bizarro!!" Michelle,
Rio de Janeiro
"ADORO minha cidade, mas em
termos de cultura clubber ela está
tão pobrinha... Já perguntei para
várias pessoas do meio; amigos,
promoters... Ninguém sabe me
responder o porquê dessa escassez de pessoas nas festas. A Liquid
era a nossa salvação. Esperávamos um lugar moderno (e realmente é), aconchegante (perfeitamente) e com um som legal. Esse
último item deixou muito a desejar: o ápice da noite é quando toca
música árabe e todos começam a
rebolar e a fazer carão!!!" Lucas,
Porto Alegre
"CONFESSO que estou um pouco cansado da mesmice do circuito Gourmet, Torre, Lov.e e Lôca;
então acabei caindo no Arouche.
O lugar anda fervidíssimo, lotado
de gente desde cedo. São três
quarteirões cheio de bares, botecos dos mais diversos. É possível
encontrar todos os tipos de "bi",
muita gente desconhecida, o que
eu acho ótimo, e algumas dos velhos tempos do HS estão lá reservadas!! Casais gays namoram
tranquilamente pelas ruas da
Vieira de Carvalho. Barracas de
acarajé, pipoca e até churrasquinho de gato convivem com o tradicional La Casserole, logo do outro lado da praça. Todos se divertindo sem preconceito com nada
e com ninguém. Para aqueles que
vivem reclamando que não há
nada para fazer, vale a pena uma
visita ao velho e bom centro: é só
abdicar do carão e se jogar." Normanda, São Paulo
"E NÃO é que rolou mesmo! O
babado foi tão forte pros lados de
São José dos Campos que a festança rolou até 5 da manhã. E o
povo queria continuar num Habib's no centro da cidade, mas
nestes tempos de violência... E teve uma drag que quase matou a
outra para conseguir um pouco
de um make-up da outra fofa. O
produto em si era tipo "glow in
the dark". Mas não deu o efeito esperado, porque o iluminador da
boate Extase é uó e jogava a luz
bem na cara da drag. Depois do
show, a fofa abalada em si chegou
a comentar que, além da luz, suas
lentes brancas não estavam deixando ela enxergar nada. Fiasco
pouco é bobagem." Marco Paulo,
São José dos Campos
"O BABADO aqui é fraco mes-mo!! Boates (do babado) só duas,
mas somente uma dá pra ir, pois
a outra dispensa comentários.
Boates caretas existem algumas,
mas é aquela salada: axé, pagode,
dance, forró etc. Em relação às
festas, geralmente acontecem
umas cinco por ano. Mas é aquilo
né?, subprodução total. As bibas
daqui se contentam com pouco,
coitadas! A maioria delas é craquelê (SBP), e todas se jogam ao
tocar qualquer hino craquelê
(aquelas houses batidas e gritantes do tipo Whitney Houston,
Taylor Dayne, Jennifer Holiday,
que elas adoram), mas, se toca algo desconhecido e mais pesado...
pronto! A pista se esvai!!" Urbano, Vitória
"MANAUS, Amazonas, bem no
meio da floresta. A gente também
tem uma ceninha que -mesmo
lutando contra a tal "leseira baré'- consegue viver inspirada na
cultura underground, na música
eletrônica, na moda que sai das
pistas, na figura do DJ como estrela da noite, nos principais fundamentos da cena club. E não é à
toa que já tivemos (tocando) por
aqui feras como os DJs Soul Slinger (que misturou jungle com
toada de boi-bumbá, o ritmo folclórico que embala o povão em
Manaus), George Actv, Andréa
Gram, Felipe Venancio (a noitada
foi tão boa e absurda que eu capotei no meu fusquinha, nada aconteceu com o povo no carro, que
ainda saiu andando, tipo incrível), e até o DJ Wild, o francês que
namora com a amazonense Suellen Monteiro. Para nós, que representamos a pequena tribo eletrônica da cidade, eles foram tudo, impagáveis, uma aula, uma
visão inesquecível, com o bom vinil girando bem ali na frente da
gente, em mixagens ao vivo, prática essa não utilizada pelos DJs
de Manaus (será que dá para usar
a sigla para eles?), que só tocam a
base de CDs. Um dramalhão regional, portanto!" Alexandre Silva Prata, Manaus
E-mail - palomino@uol.com.br
ROTEIRO superbásico da semana.
Hoje: comemoração do aniversário
de Johnny Luxo na Disco Fever. Amanhã: Gioconda Vennuta na marginal
Tietê; Jason Bralli toca e lança seu CD
no Sirena de Maresias, e Renato Lopes toca na Bunker, no Rio. Domingo:
última festa do Espaço Nation na Cardeal Arcoverde, com Dabolina, Yes
América e Mau Mau. Kaká di Polly entrevista Veronika no Rainha Victoria.
Ainda no domingo a volta do "Show
do Milhão". Terça: aniversário da Grace Lesada no Lov.e. Quarta: festa da
lista Psytrance Brasil na U-Turn, com
os DJs da lista. Quinta: estréia da noite ACTVProject@DJClub, inauguração da nova pista de madeira do clubinho, com George Actv, Erik Caramelo, D-Júlio.
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