São Paulo, sexta-feira, 26 de maio de 2000


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NOITE ILUSTRADA

A Noite Ilustrada dos outros é refresco...

ERIKA PALOMINO

ANTES DE qualquer coisa, eu gostaria de agradecer as muitas dezenas de mensagens recebidas por esta coluna relativas ao texto sobre Andréia de Maio, publicado na última semana. Em oito anos de Noite Ilustrada, e o aniversário foi exatamente na segunda-feira, eu nunca havia visto tamanha integração. E é nesse clima que apresento a prometida versão da coluna feita pelos leitores, relatando suas próprias cenas (em si), seus personagens, seus hypes e bas-fonds. Chochos e elogios foram mantidos, não são meus, tá? Dez cartas foram selecionadas, em função de sua representatividade. Servem de mostra de como anda o povo -e seus babados- por aí...

"E ATÉ hoje não se sabe se é conversinha ou verdade: Belo Horizonte tem cena clubber ou tudo não passa de um grande carão que os pseudoclubbers daqui ostentam orgulhosamente? BHz não é São Paulo, mas queria (ou quer?) ser... e, nessa corrida desenfreada para ser up-to-date, os tropeços e atropelos são no mínimo lastimáveis. De um lado, temos o DJ Noise e o promoter Marcelo Marent, que abandonaram o underground (ou seria o contrário?), e agora têm suas festas lotadas de patricinhas e mauricinhos, equivocadíssimos, com seus óculos coloridos sorrindo na tela cacófona da MTV. Do outro, temos Ciano e sua turminha de descolados, puro underground, como deve ser, mas que faz muito carão e não inova, apenas assimila modelos padrão. Nos resta a cena gay, que esbanja descontração e divertimento. Mas o DJ Gabriel Fam não colabora musicalmente. E as noites do mix club da Savassi terminam incompletas e repetitivas. Sentar e esperar, essa é a solução." Paulo Raic Muniz, Belo Horizonte

"A BALADA para o pessoal mais mauricinho de Santo André geralmente rola na capital (São Paulo). Mas pra quem fica por aqui o point é a Ocean Drive (o nome da famosa rua de Miami mesmo). A casa foi fechada e reaberta inúmeras vezes, tantas que nem me lembro mais. O som que rola na pista da Ocean é o techno, trance (o som classificado como de mauricinhos e patricinhas) e suas vertentes, e um pouco de dance no começo da noite, daqueles que geralmente tocam em rádios como a Jovem Pan e que nem dão lá muita vontade de dançar. A grande moda na pista são os light-stickers, e os promoters geralmente dançam em cima de algo que até hoje não descobri o que é, mas me parecem caixas de som (o comentário é patético, eu sei, mas os coquetéis com vodca tomados antes de chegar à pista cheia não ajudam...)." Renata Ribeiro, 17 anos, Santo André, SP

"ACHO simplesmente uma lástima ter apenas 16 anos e não poder dirigir. Sendo assim, tive de recorrer ao coletivo e ir de metrô, já que mamãe não quis me levar ao Mundo Mix. Quando entrei no vagão, me senti uma criatura extraterrestre. Todos ficaram me olhando (faltou pedirem autógrafo!).Tudo isso, só porque eu estava com o cabelo azul basiquíssimo e um modelito nada convencional assinado pelo Alê Herchcovitch. Vai entender! Esse povo se impressiona com cada coisa comum!" Danilo Henrique Sorrino

"O BUNKER 94 fica no Rio, em Copacabana. Os personagens são diversos: gays, straights, clubbers, mauricinhos e patricinhas que estranham o povo da noite e até partem para a briga; artistas internacionais (como Offspring, The Vandals), turistas estrangeiros e pára-quedistas em geral. Obviamente não posso esquecer os habitués da cena, tipo Felipe Velloso, que, sempre que o lindo do Tatá toca, está lá com seus modelos maravilhosos. E também o André e o Lavoisier com suas saias-kilts lindas, arrasando na pista. O promoter, o popular Cabbet Araújo, é um dos responsáveis pelo prestígio atual da Bunker. Tipo incrível mesmo foi sábado passado, Laura de Vison, despindo-se e xingando todos os presentes... Bizarro!!" Michelle, Rio de Janeiro

"ADORO minha cidade, mas em termos de cultura clubber ela está tão pobrinha... Já perguntei para várias pessoas do meio; amigos, promoters... Ninguém sabe me responder o porquê dessa escassez de pessoas nas festas. A Liquid era a nossa salvação. Esperávamos um lugar moderno (e realmente é), aconchegante (perfeitamente) e com um som legal. Esse último item deixou muito a desejar: o ápice da noite é quando toca música árabe e todos começam a rebolar e a fazer carão!!!" Lucas, Porto Alegre

"CONFESSO que estou um pouco cansado da mesmice do circuito Gourmet, Torre, Lov.e e Lôca; então acabei caindo no Arouche. O lugar anda fervidíssimo, lotado de gente desde cedo. São três quarteirões cheio de bares, botecos dos mais diversos. É possível encontrar todos os tipos de "bi", muita gente desconhecida, o que eu acho ótimo, e algumas dos velhos tempos do HS estão lá reservadas!! Casais gays namoram tranquilamente pelas ruas da Vieira de Carvalho. Barracas de acarajé, pipoca e até churrasquinho de gato convivem com o tradicional La Casserole, logo do outro lado da praça. Todos se divertindo sem preconceito com nada e com ninguém. Para aqueles que vivem reclamando que não há nada para fazer, vale a pena uma visita ao velho e bom centro: é só abdicar do carão e se jogar." Normanda, São Paulo

"E NÃO é que rolou mesmo! O babado foi tão forte pros lados de São José dos Campos que a festança rolou até 5 da manhã. E o povo queria continuar num Habib's no centro da cidade, mas nestes tempos de violência... E teve uma drag que quase matou a outra para conseguir um pouco de um make-up da outra fofa. O produto em si era tipo "glow in the dark". Mas não deu o efeito esperado, porque o iluminador da boate Extase é uó e jogava a luz bem na cara da drag. Depois do show, a fofa abalada em si chegou a comentar que, além da luz, suas lentes brancas não estavam deixando ela enxergar nada. Fiasco pouco é bobagem." Marco Paulo, São José dos Campos

"O BABADO aqui é fraco mes-mo!! Boates (do babado) só duas, mas somente uma dá pra ir, pois a outra dispensa comentários. Boates caretas existem algumas, mas é aquela salada: axé, pagode, dance, forró etc. Em relação às festas, geralmente acontecem umas cinco por ano. Mas é aquilo né?, subprodução total. As bibas daqui se contentam com pouco, coitadas! A maioria delas é craquelê (SBP), e todas se jogam ao tocar qualquer hino craquelê (aquelas houses batidas e gritantes do tipo Whitney Houston, Taylor Dayne, Jennifer Holiday, que elas adoram), mas, se toca algo desconhecido e mais pesado... pronto! A pista se esvai!!" Urbano, Vitória

"MANAUS, Amazonas, bem no meio da floresta. A gente também tem uma ceninha que -mesmo lutando contra a tal "leseira baré'- consegue viver inspirada na cultura underground, na música eletrônica, na moda que sai das pistas, na figura do DJ como estrela da noite, nos principais fundamentos da cena club. E não é à toa que já tivemos (tocando) por aqui feras como os DJs Soul Slinger (que misturou jungle com toada de boi-bumbá, o ritmo folclórico que embala o povão em Manaus), George Actv, Andréa Gram, Felipe Venancio (a noitada foi tão boa e absurda que eu capotei no meu fusquinha, nada aconteceu com o povo no carro, que ainda saiu andando, tipo incrível), e até o DJ Wild, o francês que namora com a amazonense Suellen Monteiro. Para nós, que representamos a pequena tribo eletrônica da cidade, eles foram tudo, impagáveis, uma aula, uma visão inesquecível, com o bom vinil girando bem ali na frente da gente, em mixagens ao vivo, prática essa não utilizada pelos DJs de Manaus (será que dá para usar a sigla para eles?), que só tocam a base de CDs. Um dramalhão regional, portanto!" Alexandre Silva Prata, Manaus
E-mail - palomino@uol.com.br


ROTEIRO superbásico da semana. Hoje: comemoração do aniversário de Johnny Luxo na Disco Fever. Amanhã: Gioconda Vennuta na marginal Tietê; Jason Bralli toca e lança seu CD no Sirena de Maresias, e Renato Lopes toca na Bunker, no Rio. Domingo: última festa do Espaço Nation na Cardeal Arcoverde, com Dabolina, Yes América e Mau Mau. Kaká di Polly entrevista Veronika no Rainha Victoria. Ainda no domingo a volta do "Show do Milhão". Terça: aniversário da Grace Lesada no Lov.e. Quarta: festa da lista Psytrance Brasil na U-Turn, com os DJs da lista. Quinta: estréia da noite ACTVProject@DJClub, inauguração da nova pista de madeira do clubinho, com George Actv, Erik Caramelo, D-Júlio.


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