|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
61º FESTIVAL DE CANNES
Brasileira Sandra Corveloni é a melhor atriz em Cannes
Ela compara prêmio por atuação em "Linha de Passe" com medalha de ouro em Olimpíada
Júri do festival dá Palma de Ouro ao francês "Entre les Murs", dirigido por Laurent Cantet
Daniela Thomas/Divulgação
|
|
Sandra Corveloni interpreta Cleuza em "Linha de Passe"
SILVANA ARANTES
ENVIADA ESPECIAL A CANNES
LUCAS NEVES
DA REPORTAGEM LOCAL
O 61º Festival de Cannes terminou ontem com o prêmio de
melhor atriz para a brasileira
Sandra Corveloni, protagonista
do longa "Linha de Passe", de
Walter Salles e Daniela Thomas. A Palma de Ouro ficou
com o filme francês "Entre les
Murs" (entre os muros), de
Laurent Cantet.
"Estou me sentindo como
uma atleta que ganhou medalha de ouro na Olimpíada. É um
prêmio para todo mundo, porque brasileiro batalha tanto para conseguir as coisas", disse a
atriz à Folha por telefone, de
sua casa, em São Paulo.
Os diretores receberam o
prêmio em nome de Sandra,
que não viajou a Cannes porque se recupera de um aborto
espontâneo.
"Estava aqui brincando com
o meu filho [Orlando, 6] quando a assessora do filme me ligou dizendo que o Walter e a
Daniela estavam recebendo o
prêmio por mim. Falei: "Meu
Deus, como é que é?". Esperava
um prêmio pelo conjunto dos
atores; a gente fez um trabalho
muito homogêneo. Jamais ia
imaginar algo assim [o prêmio
de melhor atriz]. Está uma loucura", comentou, sobre o assédio repentino da mídia.
Sandra, cujo currículo cinematográfico até então se resumia a dois curtas ("Flores Ímpares" e "Amor"), afirmou que
suas atenções se voltam agora
para o lançamento de "Linha
de Passe", previsto para o segundo semestre deste ano:
"Quero cuidar da divulgação
do filme, para que tenha uma
carreira linda. Vou continuar
trabalhando no teatro [é atriz e
diretora do grupo Tapa], como
sempre trabalhei. Não sei o que
vai acontecer. Quero viver este
momento", diz ela, 22 anos depois de Fernanda Torres ganhar o prêmio de atriz em Cannes por "Eu Sei que Vou te
Amar", de Arnaldo Jabor.
"Reflexo de uma nação"
Em Cannes, Salles disse se
orgulhar "de fazer parte de uma
profissão que é, antes de tudo, o
reflexo de uma nação que se
projeta na tela do cinema. Tenho um pouco mais de orgulho
desse prêmio para uma atriz
que debuta no cinema e que fez
de tudo para tornar inesquecível essa experiência [das filmagens] coletiva".
Thomas agradeceu o prêmio
em inglês e, em seguida, pediu
licença para dirigir algumas palavras à atriz, em português:
"Querida, você não esteve aqui
conosco em carne e osso, mas a
sua personalidade incrível, que
nos trouxe para essa viagem de
puro prazer que foi fazer este
filme, está aqui com a gente".
Sandra foi selecionada para o
papel da doméstica Cleuza, fã
do Corinthians, mãe de quatro
filhos e grávida do quinto, por
meio de testes. "Depois que a
vimos pela primeira vez, foi difícil ver outras pessoas. Ela
realmente é extraordinária",
afirmou Thomas. Salles, que
define a atuação de Sandra como "ao mesmo tempo forte e
contida", disse que "você vê,
tanto com a Sandra como com
esses jovens atores [do filme]
que estréiam aqui, o quanto há
de talento no Brasil que a gente
não conhece".
Sandra concorreu em Cannes com atrizes como as norte-americanas Angelina Jolie
("Changeling", de Clint Eastwood), Julianne Moore ("Ensaio sobre a Cegueira", de Fernando Meirelles, não lembrado
pelo júri), e a francesa Catherine Deneuve ("Un Conte de
Noël", de Arnaud Desplechin).
A Folha apurou que, entre os
nove membros do júri, oito votaram na brasileira para o prêmio. O presidente do júri, o
ator e diretor norte-americano
Sean Penn, declarou que foram
decididos por unanimidade a
Palma de Ouro e o prêmio de
ator, para o norte-americano
de origem porto-riquenha Benicio Del Toro, pelo papel de
Ernesto Che Guevara em
"Che", de Steven Soderbergh.
O diretor mexicano Alfonso
Cuarón, integrante do júri, disse que "Che" e "Linha de Passe" são "filmes relevantes hoje"
e que o júri reconheceu "o poder de interpretação desses
personagens [Che e Cleuza],
que levam os filmes adiante".
Entre a crítica, as apostas para melhor atriz ignoravam Sandra e citavam a argentina Martina Gusmán, de "Leonera", de
Pablo Trapero, dentre as prováveis ganhadoras.
"Sandra é muito sensitiva.
Imagino que, se estivesse aqui,
ela dividiria esse prêmio com
outras atrizes latino-americanas espetaculares, como Martina Gusmán", observou Salles,
em entrevista coletiva após a
premiação. Os cineastas dizem
que é preciso também "aplaudir e agradecer" o trabalho de
Fátima Toledo, preparadora de
elenco de "Linha de Passe".
Texto Anterior: Mônica Bergamo Próximo Texto: Raio-X Índice
|