São Paulo, segunda-feira, 26 de maio de 2008

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61º FESTIVAL DE CANNES

Brasileira Sandra Corveloni é a melhor atriz em Cannes

  Ela compara prêmio por atuação em "Linha de Passe" com medalha de ouro em Olimpíada

  Júri do festival dá Palma de Ouro ao francês "Entre les Murs", dirigido por Laurent Cantet


Daniela Thomas/Divulgação
Sandra Corveloni interpreta Cleuza em "Linha de Passe"

SILVANA ARANTES
ENVIADA ESPECIAL A CANNES

LUCAS NEVES
DA REPORTAGEM LOCAL

O 61º Festival de Cannes terminou ontem com o prêmio de melhor atriz para a brasileira Sandra Corveloni, protagonista do longa "Linha de Passe", de Walter Salles e Daniela Thomas. A Palma de Ouro ficou com o filme francês "Entre les Murs" (entre os muros), de Laurent Cantet.
"Estou me sentindo como uma atleta que ganhou medalha de ouro na Olimpíada. É um prêmio para todo mundo, porque brasileiro batalha tanto para conseguir as coisas", disse a atriz à Folha por telefone, de sua casa, em São Paulo.
Os diretores receberam o prêmio em nome de Sandra, que não viajou a Cannes porque se recupera de um aborto espontâneo.
"Estava aqui brincando com o meu filho [Orlando, 6] quando a assessora do filme me ligou dizendo que o Walter e a Daniela estavam recebendo o prêmio por mim. Falei: "Meu Deus, como é que é?". Esperava um prêmio pelo conjunto dos atores; a gente fez um trabalho muito homogêneo. Jamais ia imaginar algo assim [o prêmio de melhor atriz]. Está uma loucura", comentou, sobre o assédio repentino da mídia.
Sandra, cujo currículo cinematográfico até então se resumia a dois curtas ("Flores Ímpares" e "Amor"), afirmou que suas atenções se voltam agora para o lançamento de "Linha de Passe", previsto para o segundo semestre deste ano: "Quero cuidar da divulgação do filme, para que tenha uma carreira linda. Vou continuar trabalhando no teatro [é atriz e diretora do grupo Tapa], como sempre trabalhei. Não sei o que vai acontecer. Quero viver este momento", diz ela, 22 anos depois de Fernanda Torres ganhar o prêmio de atriz em Cannes por "Eu Sei que Vou te Amar", de Arnaldo Jabor.

"Reflexo de uma nação"
Em Cannes, Salles disse se orgulhar "de fazer parte de uma profissão que é, antes de tudo, o reflexo de uma nação que se projeta na tela do cinema. Tenho um pouco mais de orgulho desse prêmio para uma atriz que debuta no cinema e que fez de tudo para tornar inesquecível essa experiência [das filmagens] coletiva".
Thomas agradeceu o prêmio em inglês e, em seguida, pediu licença para dirigir algumas palavras à atriz, em português: "Querida, você não esteve aqui conosco em carne e osso, mas a sua personalidade incrível, que nos trouxe para essa viagem de puro prazer que foi fazer este filme, está aqui com a gente".
Sandra foi selecionada para o papel da doméstica Cleuza, fã do Corinthians, mãe de quatro filhos e grávida do quinto, por meio de testes. "Depois que a vimos pela primeira vez, foi difícil ver outras pessoas. Ela realmente é extraordinária", afirmou Thomas. Salles, que define a atuação de Sandra como "ao mesmo tempo forte e contida", disse que "você vê, tanto com a Sandra como com esses jovens atores [do filme] que estréiam aqui, o quanto há de talento no Brasil que a gente não conhece".
Sandra concorreu em Cannes com atrizes como as norte-americanas Angelina Jolie ("Changeling", de Clint Eastwood), Julianne Moore ("Ensaio sobre a Cegueira", de Fernando Meirelles, não lembrado pelo júri), e a francesa Catherine Deneuve ("Un Conte de Noël", de Arnaud Desplechin).
A Folha apurou que, entre os nove membros do júri, oito votaram na brasileira para o prêmio. O presidente do júri, o ator e diretor norte-americano Sean Penn, declarou que foram decididos por unanimidade a Palma de Ouro e o prêmio de ator, para o norte-americano de origem porto-riquenha Benicio Del Toro, pelo papel de Ernesto Che Guevara em "Che", de Steven Soderbergh.
O diretor mexicano Alfonso Cuarón, integrante do júri, disse que "Che" e "Linha de Passe" são "filmes relevantes hoje" e que o júri reconheceu "o poder de interpretação desses personagens [Che e Cleuza], que levam os filmes adiante". Entre a crítica, as apostas para melhor atriz ignoravam Sandra e citavam a argentina Martina Gusmán, de "Leonera", de Pablo Trapero, dentre as prováveis ganhadoras.
"Sandra é muito sensitiva. Imagino que, se estivesse aqui, ela dividiria esse prêmio com outras atrizes latino-americanas espetaculares, como Martina Gusmán", observou Salles, em entrevista coletiva após a premiação. Os cineastas dizem que é preciso também "aplaudir e agradecer" o trabalho de Fátima Toledo, preparadora de elenco de "Linha de Passe".


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