São Paulo, terça-feira, 26 de maio de 2009

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NA REDE

A fábrica de personagens de David Lynch

Cineasta coordena projeto de 121 curtas que documentam a vida de pessoas desconhecidas pelos EUA; vídeos serão exibidos em site, um por um, durante um ano, a partir da próxima segunda-feira

FERNANDA EZABELLA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

De perto, ninguém é normal. Ou, numa variação cinematográfica do ditado popular: de perto, todo mundo tem um quê de personagem de filme de David Lynch. Para quem duvida, é só acompanhar os 121 curtas-metragens comissionados pelo diretor norte-americano de "Cidade dos Sonhos" e "A Estrada Perdida", que serão postados na internet, um a cada três dias, durante um ano, até junho de 2010.
O primeiro será liberado na próxima segunda-feira, inaugurando o "Interview Project" (interviewproject.davidlynch.com). Segundo o próprio Lynch, os curtas são documentários de três a cinco minutos, "retratando americanos comuns e, às vezes, bem incomuns, de todo o país".
A série de curtas foi realizada por um time de diretores, liderado pelo filho do cineasta, Austin, e por um misterioso Jason S. A equipe cruzou mais de 30 mil km da América profunda, durante 70 dias, para coletar dezenas de histórias.
"É um projeto pé na estrada, onde as pessoas foram sendo encontradas e entrevistadas", diz Lynch no vídeo de apresentação do site. "O time achou essas pessoas dirigindo pelas rodovias, indo a bares, em lugares diferentes. É tão fascinante ver e ouvir essas histórias. É uma chance de conhecer essas pessoas, é algo humano, que você não pode deixar passar."
"Como eu me descrevo?", pergunta uma mulher que teve sua história registrada e aparece no vídeo de apresentação. "Quais eram meus sonhos de criança?", diz outro entrevistado. "Meus planos para o futuro?", continua um terceiro.

Um aperitivo da série
Apesar de só começar na semana que vem, três vídeos já foram liberados, todos com introdução de David Lynch. Dois estão em tiny.cc/lynch853. O terceiro pode ser visto em tiny.cc/lynch210.
Em Bozeman (Montana), a equipe achou Jenny Brown, 17, cujo sonho era ser bailarina. Com sua voz infantil e corpo largo, ela conta que o pai a tratava mal quando criança e que a mãe tentava protegê-la. Imagens dela no sofá de casa são intercaladas com cenas de peixes num aquário e um cachorro branco de três pernas. Anthony é o protagonista do segundo curta. Lynch diz que ele foi encontrado andando de bicicleta em Dumas (Arkansas). Sem os dentes da frente, ele faz seu monólogo sentado numa cadeira no quintal malcuidado de sua casa, porém enfeitado com um anão de jardim.
O terceiro vídeo, que Lynch divulgou em twitter.com/DAVID_LYNCH, conta a vida do aposentado Sean Freebourn, 62, em Missoula (Montana), cidade natal do diretor.
"Tive câncer e precisei me aposentar", explica Freebourn. "Não fui a nenhum médico. Era uma noite de Ano Novo e eu desabei, fui parar no hospital, fiquei um mês por lá." Uma câmera estática colhe o depoimento do homem de barba branca, sotaque pesado, ao lado de uma cerca capenga. Poderia muito bem ser um personagem de "A História Real", filme de Lynch que, como outros, se passa numa cidadezinha.


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