São Paulo, Quarta-feira, 26 de Maio de 1999
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ANÁLISE
Um colírio anti-Tiazinha no mundo cão

do enviado a Recife

Em primeiro lugar: não é para ser levado a sério. Reginaldo Rossi, revalorizado, é daqueles fenômenos tipo Gretchen e Sidney Magal, que de tão desabusados conquistam simpatia onde, em princípio, não se esperava que conquistassem.
Ele, em si, é um mistério entre duas possibilidades. É difícil entender se se leva a sério -e mimetiza, sem querer e de modo hilário, os piores cacoetes de Roberto Carlos- ou se optou conscientemente por se impor como a mais inteligente paródia ao ídolo histórico.
A segunda hipótese é mais interessante e se casa a Reginaldo ser melodista certeiro e haver participado dos momentos históricos do iê-iê-iê (que a Sony, sua primeira gravadora, mantém inéditos em CD), inclusive no papel de desbravar, nos domínios roqueiros, o regionalista Brasil nordestino.
Se for assim, Reginaldo é um pândego, um humorista que tira barato de Roberto Carlos a todo instante -mas que também, nessa paródia, revela grande admiração pelo alvo de sua chacota.
A coleção agora lançada pela EMI recoloca em órbita uma quantidade nada desprezível de títulos desse artista quando o vento não estava assim tão a favor. Eram LPs quase estritamente regionais, mitificados lá em cima, mas perdidos na infinidade de produtos dantescos da grande indústria.
"Reginaldo Rossi" (76), de esculachos como "Rock from Brazil" e "Arroz com Feijão", é o ocaso de sua primeira "era de ouro". O mercado se fechara, e ele só reapareceria quatro anos mais tarde, com -alguém duvida?- "A Volta".
Aí, ainda "Prisioneiro do Rock", começa com "Recife" a operar o refluxo nativo, que se prolongaria nas piscadelas populistas "Recife, Minha Cidade" (84), "Itamaracá -Pedra Que Canta" (85), "Diário de Pernambuco" (86) -!!!-, "Férias em Itamaracá" (87).
Modesto, foi gravando releituras de jovem guarda ("Pensando Nela", em 81, "Diana", em 83, "Namoradinha de um Amigo Meu", em 85) e se romantizando à náusea, mas resistindo ainda em quase plágios matreiros de iê-iê-iê ("Eu Não Presto, mas te Amo", de 86, "Mesmo Assim Eu te Amo", de 87) e inacreditáveis temas de inferninho ("A Raposa e as Uvas", de 82, e, renascido das trevas, "Garçom", 87).
Não dá para levar a sério, é preciso estômago para ouvir tudo. Reginaldo é mais um nome no inferno mundo cão da indústria nacional de música deste fim de século. Mas, ainda que tido como tal, tanto desempenha a vez de um Roberto Carlos que não houvesse perdido a alegria quanto faz colírio se comparado aos "músicos" Tiazinha e seu "parente" Marcelo Rossi, entre outros padres. (PAS)

Coleção: Reginaldo Rossi (dez títulos) Lançamento: EMI Quanto: R$ 15, em média, cada CD


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