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ANÁLISE
Um colírio anti-Tiazinha no mundo cão
do enviado a Recife
Em primeiro lugar: não é para ser
levado a sério. Reginaldo Rossi, revalorizado, é daqueles fenômenos
tipo Gretchen e Sidney Magal, que
de tão desabusados conquistam
simpatia onde, em princípio, não
se esperava que conquistassem.
Ele, em si, é um mistério entre
duas possibilidades. É difícil entender se se leva a sério -e mimetiza, sem querer e de modo hilário,
os piores cacoetes de Roberto Carlos- ou se optou conscientemente por se impor como a mais inteligente paródia ao ídolo histórico.
A segunda hipótese é mais interessante e se casa a Reginaldo ser
melodista certeiro e haver participado dos momentos históricos do
iê-iê-iê (que a Sony, sua primeira
gravadora, mantém inéditos em
CD), inclusive no papel de desbravar, nos domínios roqueiros, o regionalista Brasil nordestino.
Se for assim, Reginaldo é um
pândego, um humorista que tira
barato de Roberto Carlos a todo
instante -mas que também, nessa
paródia, revela grande admiração
pelo alvo de sua chacota.
A coleção agora lançada pela
EMI recoloca em órbita uma quantidade nada desprezível de títulos
desse artista quando o vento não
estava assim tão a favor. Eram LPs
quase estritamente regionais, mitificados lá em cima, mas perdidos
na infinidade de produtos dantescos da grande indústria.
"Reginaldo Rossi" (76), de esculachos como "Rock from Brazil" e
"Arroz com Feijão", é o ocaso de
sua primeira "era de ouro". O mercado se fechara, e ele só reapareceria quatro anos mais tarde, com
-alguém duvida?- "A Volta".
Aí, ainda "Prisioneiro do Rock",
começa com "Recife" a operar o
refluxo nativo, que se prolongaria
nas piscadelas populistas "Recife,
Minha Cidade" (84), "Itamaracá
-Pedra Que Canta" (85), "Diário de
Pernambuco" (86) -!!!-, "Férias
em Itamaracá" (87).
Modesto, foi gravando releituras
de jovem guarda ("Pensando Nela", em 81, "Diana", em 83, "Namoradinha de um Amigo Meu", em
85) e se romantizando à náusea,
mas resistindo ainda em quase plágios matreiros de iê-iê-iê ("Eu Não
Presto, mas te Amo", de 86, "Mesmo Assim Eu te Amo", de 87) e inacreditáveis temas de inferninho
("A Raposa e as Uvas", de 82, e, renascido das trevas, "Garçom", 87).
Não dá para levar a sério, é preciso estômago para ouvir tudo. Reginaldo é mais um nome no inferno
mundo cão da indústria nacional
de música deste fim de século.
Mas, ainda que tido como tal, tanto
desempenha a vez de um Roberto
Carlos que não houvesse perdido a
alegria quanto faz colírio se comparado aos "músicos" Tiazinha e
seu "parente" Marcelo Rossi, entre
outros padres.
(PAS)
Coleção: Reginaldo Rossi (dez títulos)
Lançamento: EMI
Quanto: R$ 15, em média, cada CD
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