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NO CORAÇÃO DOS DEUSES
Filme rodado inteiramente no novo Estado é apresentado em praça pública para 5.000 pessoas
Aventura do cinema chega ao Tocantins
JOSÉ GERALDO COUTO
enviado especial ao Tocantins
O filme "No Coração dos Deuses", de Geraldo Moraes, foi visto
sábado à noite por cerca de 5.000
pessoas -incluindo os índios que
participaram do elenco- numa
sessão ao ar livre na praça de Porto
Nacional (TO), cidade à margem
do rio Tocantins.
Primeiro longa-metragem realizado totalmente no Estado do Tocantins, o filme teve sua primeira
exibição nacional sexta-feira, em
duas sessões para convidados, no
futurista Teatro Municipal de Palmas, capital do Estado. A estréia
nacional está prevista para julho.
A pré-estréia tocantinense coincidiu com as comemorações do
décimo aniversário de Palmas
-uma cidade planejada geometricamente, à maneira de Brasília.
Em contraste com a platéia bem
comportada das sessões de gala de
Palmas, o público que se apinhou
diante da bela igreja de Nossa Senhora das Mercês, em Porto Nacional, vibrava a cada vez que via
na tela um ator famoso -como
Antonio Fagundes ou Roberto
Bomfim-, ou reconhecia lugares
e pessoas da região.
O filme, dirigido prioritariamente ao público infanto-juvenil, narra
a aventura de um grupo de aventureiros do século 20 que busca o
"ouro dos Martírios", descoberto
pelo bandeirante Anhanguera no
século 17.
Em sua busca, os aventureiros
modernos vão parar magicamente
no tempo dos bandeirantes e interagem com personagens históricos, como Fernão Dias, Borba Gato e o próprio Anhanguera.
Descoberta do cinema
Grande parte do público que viu
"No Coração dos Deuses" na praça
de Porto Nacional (uma cidade de
quase 200 anos e 54 mil habitantes)
nunca tinha visto antes uma sessão
de cinema.
De acordo com o prefeito Otoniel Andrade (PFL), o cinema da
cidade foi desativado por volta de
1980. Recentemente, a prefeitura
exibiu num telão, no auditório
municipal, o filme "Titanic".
Ao final da sessão de "No Coração dos Deuses", um dos espectadores mais entusiasmados era Pedro Fernandes, 18, que trabalha
como balconista numa loja de ferramentas e frequenta a primeira
série do segundo grau.
"Meu sonho é ser ator", disse o
rapaz, que não sabia quem foi Fernão Dias, mas não teve dificuldade
em acompanhar a narrativa.
Entre os atores do filme, Pedro
reconheceu Antonio Fagundes
(""O Rei do Gado" foi uma novela
que me marcou muito"), "a bruxa"
(Regina Dourado) e "aquele neguinho" (Cosme dos Santos, o Saci
do "Sítio do Pica-Pau Amarelo").
Detalhe: Pedro Fernandes também
é negro.
Índios
Além dos krahôs do Norte do Estado que participaram do filme
(fazendo as vezes da extinta tribo
dos araés), a sessão de Porto Nacional foi vista por xerentes e carajás convidados pela produção.
Ao contrário dos krahôs, que ao
fim da sessão só falavam em voltar
logo para sua aldeia, os carajás e
xerentes conversaram animadamente sobre o filme.
O xerente Sõpré, engenheiro florestal de 33 anos, disse ter gostado
muito do filme pelo modo como
combinou dois tempos diferentes,
o presente e o século 17, e "pela
mensagem final, de que alcançar o
mito é destruí-lo".
Para o carajá Arilson, 25, estudante de direito na Universidade
do Tocantins, o filme "retratou
bem a história". O último filme
com índios de que ele havia gostado tinha sido "A Missão", de Roland Joffé, com Robert De Niro.
"Gostei de "No Coração dos Deuses" porque não é como filme americano, em que o índio só entra para morrer", disse Paulinho Xerente, 23, estudante de administração
e uma espécie de porta-voz de seu
povo junto aos brancos.
A produção contou com 250 figurantes do Estado do Tocantins,
além de 50 índios krahôs.
A família do diretor Geraldo Moraes participa em peso do filme.
Sua mulher, Mallú Moraes, é atriz e
produtora executiva. O filho mais
novo, Bruno Torres, é um dos protagonistas, e o mais velho, André
Moraes, fez a trilha sonora, que
conta com a participação do percussionista Igor Cavalera e do guitarrista Andreas Kisser, ambos da
banda de rock Sepultura.
O jornalista
José Geraldo Couto viajou ao Tocantins a convite da produção do filme "No Coração dos Deuses".
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