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ARTES PLÁSTICAS
Volume sobre a vida do artista é lançado hoje na Pinacoteca
Seis décadas de Ianelli
são registradas em livro
CAUÊ ALVES
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Para os que acreditam que um
bom artista é aquele que domina
o desenho, os retratos de Arcângelo Ianelli dos anos 40 irão agradar. Mas sua monumental obra
vai além do mero domínio técnico. Após um período de cerca de
20 anos ligado à figuração, Ianelli,
81, se despojou de elementos naturalistas e encaminhou-se, nos
anos 60, para a abstração.
Com lançamento previsto para
hoje, a partir das 11h, na Pinacoteca de São Paulo, o livro "Ianelli" é
resultado de uma pesquisa de
dois anos e meio. A edição, com
amplo material iconográfico,
apresenta um panorama de sua
produção e uma cronologia feita
por sua neta, a escritora Mariana
Ianelli. O livro traz ainda textos de
Paulo Mendes de Almeida, José
Roberto Teixeira Leite, Eduardo
Rocha Virmond, Juan Acha e prefácios de Emanuel Araújo e Fábio
Magalhães. Mesmo após problemas de saúde no final de 2002, o
artista acompanhou de perto o
projeto editorial coordenado pela
sua filha Katia Ianelli.
Em ensaio publicado no livro, o
pintor é considerado um autodidata, apesar de ter freqüentado
por curto período aulas particulares com Colette Pujol, em 1942, e o
ateliê de Waldemar da Costa, em
1944. Segundo Teixeira Leite, prevaleceu seu temperamento, que
desde o início procurou "soluções
pessoais" e insistiu em "seguir rumo próprio".
Na década de 50, o artista integrou o Grupo Guanabara ao lado
de Manabu Mabe, Tikashi Fukushima e Wega Nery. Num processo
gradual, a partir de sua obra anterior e sem mudanças bruscas e inconseqüentes, abandonou definitivamente a representação em
1961. Continuou a desenvolver
sua pesquisa abstrata e geométrica num período em que essa já
não era a tendência dominante.
Cada passo e conquista possui refinada sabedoria pictórica. Como
define Almeida: "Ele é o contrário
da biruta, sempre dócil às variações do vento, o contrário da borboleta, que vai de flor em flor...".
Ao receber o Prêmio de Viagem
ao Exterior, em 1964, Ianelli realizou exposições em diversos países da Europa. Por volta de 1968,
seus quadros apresentam grafismos e pincelada mais matéricas.
A cor, sóbria e com predominância de tons terrosos, é interceptada por gestos mais descontraídos.
A partir dos anos 70, sobreposições de cores e formas geométricas dominam suas obras. Telas vibrantes, compostas basicamente
por triângulos e quadriláteros, foram associadas ao concretismo.
Nesse período, o artista abandona
o uso da tinta a óleo, por recomendação médica, e passa a pintar com têmpera, o que lhe permite explorar transparências e a leveza de tons foscos.
Nos anos 80 em diante, Ianelli
prossegue com sua pesquisa cromática e tende para o abandono
da forma com limites definidos. A
obtenção de uma cor pura e luminosa é simultânea à eliminação da
linha. Seu trabalho celebra o
triunfo da sensibilidade, mas sem
deixar de lado o rigor de sua pesquisa.
Premiado com a retrospectiva
"60 Anos de Pintura", realizada
em 2003 na Pinacoteca, Ianelli
não pára de surpreender. Após a
série "Vibrações", dedicou-se à
escultura como se a praticasse
desde a juventude. As formas de
mármore, sinuosas e sensuais,
dialogam diretamente com sua
pintura. Ativo e em plena maturidade, Ianelli atingiu como poucos
um elevado grau de simplicidade.
IANELLI. Coordenação editorial: Katia
Ianelli e Alfredo Aquino. Quanto: R$ 100
(274 págs.). Lançamento: hoje, das 11h
às 14h, na Pinacoteca (pça. da Luz, 2, SP).
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