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Rei das massas
Folha mostra os bastidores do longa "Wallace e Gromit", que estréia em outubro no Brasil
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DIEGO ASSIS
ENVIADO ESPECIAL A BRISTOL
Dentro de um quarto dentro de
um estúdio dentro de um prédio
de dois andares distante 190 km
de Londres, o preguiçoso Wallace
dorme o sono dos justos. Dentro
das próximas semanas, ele vai
permanecer ali (quase) inerte, esperando que o despertador toque
e, subitamente, seja arremessado
para a mesa onde religiosamente
compartilha o chá da manhã com
o seu fiel escudeiro, Gromit.
Estamos no set de filmagem de
"Wallace e Gromit: A Batalha dos
Vegetais", longa-metragem de
animação em massinha que a
produtora inglesa Aardman, de
"A Fuga das Galinhas", vem realizando há quatro anos em seu discreto quartel-general em Bristol.
É fevereiro, e o frio lá fora parece
ter congelado o relógio aqui dentro. Isolados em seus cenários-miniaturas construídos a pouco
mais de um metro do chão, os
animadores trabalham um dia inteiro para, com sorte, completarem mais dois segundos de filme.
Na praça central de uma vilazinha imaginária ao norte da Inglaterra, os moradores protestam sabe-se lá contra o quê. Teríamos de
acompanhar o processo por dias
até que, entre uma piscada de pálpebra ali e um movimento de sobrancelhas acolá, pudéssemos finalmente "ouvir" o que dizem as
bocas dos furiosos manifestantes.
Como essa, existem aqui 32 outras salas em que, quadro a quadro, 260 funcionários do estúdio
ajudam a dar vida ao monumental -ainda que ínfimo- universo de "A Batalha dos Vegetais".
"Gostamos de dizer que o que está
sendo feito aqui é um live-action
[filme com atores reais] em miniatura", sugere o relações-públicas do estúdio Arthur Sheriff, hoje
responsável por ciceronear a Folha e outros três jornalistas estrangeiros na visita à produtora.
Segurando uma réplica de
Morph na mão, é Sheriff quem repassa a história da companhia.
"Tudo começou com ele", aponta
para o boneco tosco feito de massa de modelar que, em 1976, estreou em um programa infantil da
BBC britânica. Como o nome indica, Morph contracenava com o
apresentador e, a cada episódio,
se transformava em outro animal,
objeto ou no que a imaginação
dos jovens animadores Peter Lord
e David Sproxton ordenasse.
Em 1981, já tinha o seu próprio
programa na TV e emprestava
sua popularidade para que as animações em stop-motion da Aardman -o nome vem de um super-herói de quadrinhos criado por
Lord- começassem a ser requisitadas também na publicidade.
Entre um comercial e outro,
Lord fazia seus curtas e, em 1985,
conheceu um universitário de nome Nick Park que lhe apresentou
um projeto interessante: eram os
primeiros esboços de "Dia de Folga" ("A Grand Day Out"), curta
de 23 minutos que seria concluído
em 1989, já com Park contratado
pela produtora. A primeira história do inventor ingênuo e otimista
Wallace, inglês até o último não-fio de cabelo, e do cachorro Gromit, eterna cobaia e contraponto
racional ao dono, conquistou os
espectadores ingleses no Natal de
1990 e rendeu a ele uma dupla indicação para o Oscar daquele ano.
Park perdeu para si mesmo.
"Creature Comforts", outro curta
em massinha da Aardman, que
mostrava animais -demasiado
humanos- confessando suas depressões, levou a estatueta.
Mas a vingança de Wallace e
Gromit veio a galope. Quando os
novos "As Calças Erradas" ("The
Wrong Trousers", 93) e "Tosa
Completa" ("A Close Shave", 95)
chegaram aos jurados da Academia, foi Oscar na certa.
"Alguns dos primeiros trabalhos internacionais que a gente
mostrou foram da Aardman.
Além de tecnicamente perfeitos,
eles trazem para a animação de
massinha, que normalmente é infantilizada, os elementos da animação de cartum", avalia o brasileiro César Coelho, um dos diretores do festival Anima Mundi,
que, no passado, já convidou
Sproxton e Lord, fundadores da
produtora, para participarem de
diferentes edições do evento.
Para o festival deste ano, que
abre em 8 de julho no Rio e vem a
São Paulo no dia 20, os organizadores trazem a assistente de animação de "A Batalha dos Vegetais" Sara Barbas. Além de work-
shops diários durante o evento, a
funcionária da Aardman exibirá
em uma palestra para o público os
primeiros 20 minutos do longa,
que só chega ao Brasil em outubro. Não agüenta esperar por essa
"eternidade"? Então imagine só a
ansiedade da equipe...
O jornalista Diego Assis viajou a convite
da Universal Pictures
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