São Paulo, domingo, 26 de junho de 2005

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Rei das massas



Folha mostra os bastidores do longa "Wallace e Gromit", que estréia em outubro no Brasil

DIEGO ASSIS
ENVIADO ESPECIAL A BRISTOL

Dentro de um quarto dentro de um estúdio dentro de um prédio de dois andares distante 190 km de Londres, o preguiçoso Wallace dorme o sono dos justos. Dentro das próximas semanas, ele vai permanecer ali (quase) inerte, esperando que o despertador toque e, subitamente, seja arremessado para a mesa onde religiosamente compartilha o chá da manhã com o seu fiel escudeiro, Gromit.
Estamos no set de filmagem de "Wallace e Gromit: A Batalha dos Vegetais", longa-metragem de animação em massinha que a produtora inglesa Aardman, de "A Fuga das Galinhas", vem realizando há quatro anos em seu discreto quartel-general em Bristol.
É fevereiro, e o frio lá fora parece ter congelado o relógio aqui dentro. Isolados em seus cenários-miniaturas construídos a pouco mais de um metro do chão, os animadores trabalham um dia inteiro para, com sorte, completarem mais dois segundos de filme.
Na praça central de uma vilazinha imaginária ao norte da Inglaterra, os moradores protestam sabe-se lá contra o quê. Teríamos de acompanhar o processo por dias até que, entre uma piscada de pálpebra ali e um movimento de sobrancelhas acolá, pudéssemos finalmente "ouvir" o que dizem as bocas dos furiosos manifestantes.
Como essa, existem aqui 32 outras salas em que, quadro a quadro, 260 funcionários do estúdio ajudam a dar vida ao monumental -ainda que ínfimo- universo de "A Batalha dos Vegetais". "Gostamos de dizer que o que está sendo feito aqui é um live-action [filme com atores reais] em miniatura", sugere o relações-públicas do estúdio Arthur Sheriff, hoje responsável por ciceronear a Folha e outros três jornalistas estrangeiros na visita à produtora.
Segurando uma réplica de Morph na mão, é Sheriff quem repassa a história da companhia. "Tudo começou com ele", aponta para o boneco tosco feito de massa de modelar que, em 1976, estreou em um programa infantil da BBC britânica. Como o nome indica, Morph contracenava com o apresentador e, a cada episódio, se transformava em outro animal, objeto ou no que a imaginação dos jovens animadores Peter Lord e David Sproxton ordenasse.
Em 1981, já tinha o seu próprio programa na TV e emprestava sua popularidade para que as animações em stop-motion da Aardman -o nome vem de um super-herói de quadrinhos criado por Lord- começassem a ser requisitadas também na publicidade.
Entre um comercial e outro, Lord fazia seus curtas e, em 1985, conheceu um universitário de nome Nick Park que lhe apresentou um projeto interessante: eram os primeiros esboços de "Dia de Folga" ("A Grand Day Out"), curta de 23 minutos que seria concluído em 1989, já com Park contratado pela produtora. A primeira história do inventor ingênuo e otimista Wallace, inglês até o último não-fio de cabelo, e do cachorro Gromit, eterna cobaia e contraponto racional ao dono, conquistou os espectadores ingleses no Natal de 1990 e rendeu a ele uma dupla indicação para o Oscar daquele ano.
Park perdeu para si mesmo. "Creature Comforts", outro curta em massinha da Aardman, que mostrava animais -demasiado humanos- confessando suas depressões, levou a estatueta.
Mas a vingança de Wallace e Gromit veio a galope. Quando os novos "As Calças Erradas" ("The Wrong Trousers", 93) e "Tosa Completa" ("A Close Shave", 95) chegaram aos jurados da Academia, foi Oscar na certa.
"Alguns dos primeiros trabalhos internacionais que a gente mostrou foram da Aardman. Além de tecnicamente perfeitos, eles trazem para a animação de massinha, que normalmente é infantilizada, os elementos da animação de cartum", avalia o brasileiro César Coelho, um dos diretores do festival Anima Mundi, que, no passado, já convidou Sproxton e Lord, fundadores da produtora, para participarem de diferentes edições do evento.
Para o festival deste ano, que abre em 8 de julho no Rio e vem a São Paulo no dia 20, os organizadores trazem a assistente de animação de "A Batalha dos Vegetais" Sara Barbas. Além de work- shops diários durante o evento, a funcionária da Aardman exibirá em uma palestra para o público os primeiros 20 minutos do longa, que só chega ao Brasil em outubro. Não agüenta esperar por essa "eternidade"? Então imagine só a ansiedade da equipe...


O jornalista Diego Assis viajou a convite da Universal Pictures


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