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Ballet de Caracas mostra sedução em turnê no Brasil
INÊS BOGÉA
CRÍTICA DA FOLHA
O Ballet Contemporâneo de
Caracas (BCC) inicia hoje a sua
primeira turnê no Brasil, com
um repertório que vai do neoclássico ao clássico-contemporâneo: "Juegos", coreografia de
Mauro Galindo; "El Beso" e
"Carmina Burana", de María
Eugenia Barrios (co-fundadora
e diretora artística da companhia), e "Carmen", de Giuseppe
Carbone, com montagem de
Barrios e Offer Zaks.
O BCC é uma companhia privada que se mantém com verba
do governo venezuelano e financiadores particulares.
O grupo tem 16 bailarinos fixos, trabalhando com diversos
coreógrafos. Tem se apresentado em muitos países, tais como
Bósnia, Equador, China, Rússia, Colômbia, Cuba, Itália, Israel, Estados Unidos e Alemanha.
Programa
"Juegos" é um balé neoclássico, com música de Mozart (as
"Danças Alemãs" e a "Gran
Partita", para sopros). Galindo
aqui explora com humor o jogo
de sedução entre adolescentes,
no qual medo e a provocação
são a marca dos encontros.
"El Beso" é parte de um grande balé que aborda os diferentes tipos de beijo: "El Beso de
La Mano", remete ao carnaval
de Veneza; "El Beso de La Vida"
é o beijo da mãe; "El Beso Apaixonado" inspira-se nas esculturas de Auguste Rodin; "La Despedida a Ilana" é dedicada às
mulheres que sobreviveram ao
Holocausto nazista; e "El Beso
de La Danza" toma por base o
famoso quadro "O Beijo", de
Gustav Klimt. A música combina Bach, Mahler e Rachmaninov.
No Brasil, os venezuelanos
apresentam apenas "El Beso
Apaixonado", que trabalha o
corpo como escultura em movimento.
O poder do destino
Antes de embarcar para cá,
Offer Zaks -bailarino, diretor
executivo e co-fundador da
companhia (criada em 1993)-
falou à Folha por telefone. Em
"Carmina Burana" (que será
dançada no Rio e em São Paulo), segundo Zaks a coreógrafa
María Eugenia Barrios abordou "o poder do destino na vida
das pessoas".
A obra modernista de Carl
Orff, com acentos de medievalismo germânico, foi "adaptada
para um ambiente urbano". Vida e morte mantém sua luta
com a fortuna: "mesmo o poder
do amor tem sempre algo da
morte", diz Zaks.
Para ele, essas peças "não
contam propriamente uma história, mas abordam temas centrais da vida através do movimento".
Somente em "Carmen" a
narrativa é central, "numa
combinação de ópera, teatro e
dança". Aqui há um Dom José
bailarino e outro cantor, de modo análogo à dupla Carmem. A
peça se concentra no encontro
dos dois, na noite anterior à
execução de Dom José.
"Carmen", que será apresentada somente em Brasília, tem
como protagonista a própria
María Eugenia Barrios.
Baseia-se no texto original de Prosper
Mérimée: "a história da cigana
popular, supersticiosa e perigosa, a mulher conhecedora do
seu destino, fiel às suas crenças
e à sua liberdade antes de tudo,
e que desafia todas as convenções sociais de uma época, a caminho da tragédia".
A música combina trechos da
famosa ópera de Bizet ("Suite
Carmen"), bem como de sua
"Suíte L'Arlesienne", com peças para violão de Paco de Lucía, Fernando Sor e Isaac Albéniz ("Asturias").
Entre clássicos e neoclássicos, ninguém espera exatamente surpresas do Ballet de
Caracas. Espera, sim, belezas e
certezas, na linguagem perpetuamente surpreendente da
dança.
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