São Paulo, segunda-feira, 26 de junho de 2006

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Ballet de Caracas mostra sedução em turnê no Brasil

INÊS BOGÉA
CRÍTICA DA FOLHA

O Ballet Contemporâneo de Caracas (BCC) inicia hoje a sua primeira turnê no Brasil, com um repertório que vai do neoclássico ao clássico-contemporâneo: "Juegos", coreografia de Mauro Galindo; "El Beso" e "Carmina Burana", de María Eugenia Barrios (co-fundadora e diretora artística da companhia), e "Carmen", de Giuseppe Carbone, com montagem de Barrios e Offer Zaks.
O BCC é uma companhia privada que se mantém com verba do governo venezuelano e financiadores particulares.
O grupo tem 16 bailarinos fixos, trabalhando com diversos coreógrafos. Tem se apresentado em muitos países, tais como Bósnia, Equador, China, Rússia, Colômbia, Cuba, Itália, Israel, Estados Unidos e Alemanha.

Programa
"Juegos" é um balé neoclássico, com música de Mozart (as "Danças Alemãs" e a "Gran Partita", para sopros). Galindo aqui explora com humor o jogo de sedução entre adolescentes, no qual medo e a provocação são a marca dos encontros.
"El Beso" é parte de um grande balé que aborda os diferentes tipos de beijo: "El Beso de La Mano", remete ao carnaval de Veneza; "El Beso de La Vida" é o beijo da mãe; "El Beso Apaixonado" inspira-se nas esculturas de Auguste Rodin; "La Despedida a Ilana" é dedicada às mulheres que sobreviveram ao Holocausto nazista; e "El Beso de La Danza" toma por base o famoso quadro "O Beijo", de Gustav Klimt. A música combina Bach, Mahler e Rachmaninov.
No Brasil, os venezuelanos apresentam apenas "El Beso Apaixonado", que trabalha o corpo como escultura em movimento.

O poder do destino
Antes de embarcar para cá, Offer Zaks -bailarino, diretor executivo e co-fundador da companhia (criada em 1993)- falou à Folha por telefone. Em "Carmina Burana" (que será dançada no Rio e em São Paulo), segundo Zaks a coreógrafa María Eugenia Barrios abordou "o poder do destino na vida das pessoas".
A obra modernista de Carl Orff, com acentos de medievalismo germânico, foi "adaptada para um ambiente urbano". Vida e morte mantém sua luta com a fortuna: "mesmo o poder do amor tem sempre algo da morte", diz Zaks.
Para ele, essas peças "não contam propriamente uma história, mas abordam temas centrais da vida através do movimento".
Somente em "Carmen" a narrativa é central, "numa combinação de ópera, teatro e dança". Aqui há um Dom José bailarino e outro cantor, de modo análogo à dupla Carmem. A peça se concentra no encontro dos dois, na noite anterior à execução de Dom José.
"Carmen", que será apresentada somente em Brasília, tem como protagonista a própria María Eugenia Barrios.
Baseia-se no texto original de Prosper Mérimée: "a história da cigana popular, supersticiosa e perigosa, a mulher conhecedora do seu destino, fiel às suas crenças e à sua liberdade antes de tudo, e que desafia todas as convenções sociais de uma época, a caminho da tragédia".
A música combina trechos da famosa ópera de Bizet ("Suite Carmen"), bem como de sua "Suíte L'Arlesienne", com peças para violão de Paco de Lucía, Fernando Sor e Isaac Albéniz ("Asturias").
Entre clássicos e neoclássicos, ninguém espera exatamente surpresas do Ballet de Caracas. Espera, sim, belezas e certezas, na linguagem perpetuamente surpreendente da dança.


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