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Caso de polícia
Correspondente vê a banda (que continua brigando) em Los Angeles
e diz que "é como voltar a fumar ou andar de bicicleta"; os fãs adoram
SÉRGIO DÁVILA
ENVIADO ESPECIAL A LOS ANGELES
Quem ainda precisa de Police?
No sábado, fui assistir à etapa
de Los Angeles da atual turnê
de reunião do trio pensando no
título da Ilustrada de 19 de
março ("Police para quem precisa", uma brincadeira com a
música dos Titãs), que anunciava a volta em comemoração
dos 30 anos da banda.
Aparentemente, não o próprio trio. Segundo relatos de
pessoas que acompanham a
banda desde a reunião, no começo do ano, assim que voltaram a ensaiar, em Vancouver,
no Canadá, as tensões que levaram o líder (e baixista) Sting, o
baterista Stewart Copeland e o
guitarrista Andy Summers a se
separar prematuramente, 23
anos atrás, voltaram junto.
Depois do segundo show,
ainda em Vancouver, no mês
passado, Copeland escreveu
em seu blog: "Isso é absolutamente vergonhoso. Nós somos
os poderosos Police e estamos
completamente perdidos". Faria ainda uma crítica feroz e
completa à apresentação,
apontando erros técnicos, desafinadas do vocalista e más escolhas musicais.
O criador do que viria a ser
uma das bandas de rock mais
influentes dos anos 80 foi também sempre um de seus maiores críticos. Tornaram-se históricos os bate-bocas entre esse norte-americano de 54 anos,
filho de um ex-funcionário da
CIA, e o ex-professor britânico
Gordon Matthew Sumner,
também conhecido como Sting
("ferrão"), 55, com o também
britânico Andy Summers, 64,
tentando apartar os dois.
Quem ainda precisa de Police?
Os três estão bem financeiramente, Sting à frente, sendo o
que se deu melhor na carreira
solo. Mas nenhum se encontra
mais no auge. E o verdadeiro
dinheiro da indústria musical
hoje vem dos shows ao vivo. A
venda de CDs nos EUA caiu de
785 milhões de unidades em
2000 para 588 milhões no ano
passado; no mesmo período, o
faturamento da indústria mundial foi de US$ 36,9 bilhões para US$ 31,8 bilhões.
Quem não faz shows não fatura. Seria essa a (única) explicação da volta? Aos poucos, os
fãs vão chegando ao estádio do
time de beisebol Dodgers, no
centro de Los Angeles, e lotando os 56 mil lugares. Fiction
Plane, a banda de abertura que
é um caso flagrante de nepotismo (Joe Sumner, filho de Sting,
é o líder), já se apresentou -e
não mudaria os rumos da noite
ou do rock.
Agora, Dave Grohl grita os
versos de "Best of You", música
que o ex-Nirvana compôs para
o quinto álbum de sua banda,
Foo Fighters, a segunda a se
apresentar na noite de hoje.
Enquanto isso, quarentões e
cinqüentões que mostram na
cabeça os sinais da batalha entre pele e pêlo começam a se
acomodar nas cadeiras.
Poucas alterações
Então, às 21h10, um gongo e
os primeiros acordes de "Message in a Bottle": "Just a castaway/an island lost at sea-ô". É
como voltar a fumar ou andar
de bicicleta. Reaparece tudo
que esteve sempre ali, adormecido. Os versos terminados em
"ô", os "i-ô-ô", "i-ô-ô". O vocal
metálico, pouca coisa mais aveludado nas bordas devido aos
anos.
Serão quase 30 músicas, que
o trio faz o favor de não "desconstruir" muito e tocar mais
ou menos como as originais.
Quando muda, geralmente é
para melhor. Vem "Sinchronicity II" ("Many miles away/Something crawls from the slime/At the bottom of a dark/
Scottish lake -Scottish
laaaaaake!"). Sting em melhor
forma que 90% do público.
"Walkinkg on the Moon"
("Some/ may say/I'm wishing
my days away/No way"), o sotaque forçado (jamaicano? de
alguma das ilhas?), a batida ska
de Copeland imitada à exaustão até hoje e que levou muita
gente boa a dizer que os Paralamas eram o Police brasileiro.
"Voices Inside My Head",
que começa com um baixo que
lembra o de "Maracatu Atômico" a esse brasileiro, com Sting
sendo um baixista melhor do
que era e a guitarra de Summers, menos dura. O susto de
"Don't Stand So Close to Me"
modificada, uma das únicas da
noite. Os primeiros fãs começando a sentar, pois ninguém é
(mais) de ferro.
"Every Little Thing She Does
Is Magic" ("everylittle, everylittle, everylittlethingshedoes!"
e no final "is magicmagicmagic,
magicmagicmaaagic, i-ô-ô, i-ô-ô, i-ô-ô-ô-ô-ô..."). Há dois momentos Raoni ("Walking in
Your Footsteps" e "Wraped
Around Your Finger"), o arrepio de lembrar que pós-Police
Sting teve a fase "world music".
Mas tudo logo passa com
"Roxanne", numa versão melhor que a tocada nos
Grammys, "Can't Stand Losing
You", "King of Pain" ("There's
a little black spot on the sun todaaaaay", o "todaaaaay" com
toda a melancolia possível).
Quem ainda precisa de Police? Talvez a resposta esteja no
mesmo post que Copeland escreveu em seu blog ainda em
Vancouver. "Dane-se, é apenas
música." E os fãs gostam.
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