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Crítica/"Há Tanto Tempo que Te Amo"
Escritor premiado estreia no cinema com obsessão por efeitos de suspense
CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA
Com um título forte em
sugestões, "Há Tanto
Tempo que Te Amo" é a
estreia como cineasta do escritor francês Philippe Claudel,
num filme que não esconde seu
domínio nas estratégias da ficção literária, já reconhecido em
premiações de prestígio.
No longa, seu talento ficcional consiste em montar o relato
progressivamente, ao contrário
do cinema tradicional, em que
nos cinco primeiros minutos já
recebemos informações suficientes para saber quem é e para onde vai seu protagonista.
A opção de Claudel é pela revelação que mobiliza surpresas,
num modo que substitui o conhecimento página a página
pelo cena a cena. Parte-se de
uma situação de retorno a um
núcleo familiar, após uma longa ausência, que impõe a recomposição de um afeto interrompido e se avança, ao final,
rumo a temas como a culpa, a
punição e a redenção.
Para reverberar a situação de
claustrofobia moral da protagonista, o roteiro dispõe em
torno dela outros personagens
também reféns de encarceramentos simbólicos, como um
senhor vítima de um AVC que
acarretou a perda da fala e um
policial prisioneiro da solidão.
Na obsessão por efeitos de
suspense e de satisfação da expectativa, o filme se concentra,
por vezes em demasia, em torno de Juliette, personagem-mistério que, primeiro, tem de
nos manter atentos a seus movimentos de descobrimento
para, em seguida, guardar nosso interesse em torno das razões de seu drama.
Para alcançar esses efeitos, o
diretor estreante fez uma escolha acertada ao escalar Kristin
Scott Thomas para o papel. Pelo desempenho, Thomas recebeu indicações de melhor atriz
em premiações tão importantes como o Globo de Ouro, o
Bafta e o César. De fato, é inegável seu mérito ao emprestar à
personagem uma beleza já lapidada pelo tempo e garantir,
graças a um eficiente posicionamento de olhares, a opacidade necessária para que a personagem nos seja intrigante.
Depois, porém, que o filme
encerra seu jogo de revelações
graduais, a ficção se desvia para
o terreno pantanoso da psicologia sentimental. No cinema, o
melodrama requer habilidades
que não se resolvem em truques de roteiro ou nas qualidades de uma grande atriz.
Como ainda falta a Claudel
muita experiência para fazer o
público se entregar à tortura
emocional que consegue, por
exemplo, um Clint Eastwood,
não deixa de ser proveitoso
apreciar a dignidade que Thomas doa a sua Juliette.
HÁ TANTO TEMPO QUE TE AMO
Direção: Philippe Claudel
Produção: França/Alemanha, 2008
Com: Kristin Scott Thomas, Elsa Zylberstein
Onde: a partir de hoje nos cines Frei
Caneca Unibanco Arteplex 4, Reserva Cultural 1 e circuito
Classificação: 18 anos
Avaliação: bom
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