São Paulo, sexta-feira, 26 de junho de 2009

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Crítica/"Há Tanto Tempo que Te Amo"

Escritor premiado estreia no cinema com obsessão por efeitos de suspense

CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA

Com um título forte em sugestões, "Há Tanto Tempo que Te Amo" é a estreia como cineasta do escritor francês Philippe Claudel, num filme que não esconde seu domínio nas estratégias da ficção literária, já reconhecido em premiações de prestígio.
No longa, seu talento ficcional consiste em montar o relato progressivamente, ao contrário do cinema tradicional, em que nos cinco primeiros minutos já recebemos informações suficientes para saber quem é e para onde vai seu protagonista.
A opção de Claudel é pela revelação que mobiliza surpresas, num modo que substitui o conhecimento página a página pelo cena a cena. Parte-se de uma situação de retorno a um núcleo familiar, após uma longa ausência, que impõe a recomposição de um afeto interrompido e se avança, ao final, rumo a temas como a culpa, a punição e a redenção.
Para reverberar a situação de claustrofobia moral da protagonista, o roteiro dispõe em torno dela outros personagens também reféns de encarceramentos simbólicos, como um senhor vítima de um AVC que acarretou a perda da fala e um policial prisioneiro da solidão.
Na obsessão por efeitos de suspense e de satisfação da expectativa, o filme se concentra, por vezes em demasia, em torno de Juliette, personagem-mistério que, primeiro, tem de nos manter atentos a seus movimentos de descobrimento para, em seguida, guardar nosso interesse em torno das razões de seu drama.
Para alcançar esses efeitos, o diretor estreante fez uma escolha acertada ao escalar Kristin Scott Thomas para o papel. Pelo desempenho, Thomas recebeu indicações de melhor atriz em premiações tão importantes como o Globo de Ouro, o Bafta e o César. De fato, é inegável seu mérito ao emprestar à personagem uma beleza já lapidada pelo tempo e garantir, graças a um eficiente posicionamento de olhares, a opacidade necessária para que a personagem nos seja intrigante.
Depois, porém, que o filme encerra seu jogo de revelações graduais, a ficção se desvia para o terreno pantanoso da psicologia sentimental. No cinema, o melodrama requer habilidades que não se resolvem em truques de roteiro ou nas qualidades de uma grande atriz.
Como ainda falta a Claudel muita experiência para fazer o público se entregar à tortura emocional que consegue, por exemplo, um Clint Eastwood, não deixa de ser proveitoso apreciar a dignidade que Thomas doa a sua Juliette.


HÁ TANTO TEMPO QUE TE AMO
Direção: Philippe Claudel
Produção: França/Alemanha, 2008
Com: Kristin Scott Thomas, Elsa Zylberstein
Onde: a partir de hoje nos cines Frei Caneca Unibanco Arteplex 4, Reserva Cultural 1 e circuito
Classificação: 18 anos
Avaliação: bom


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