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Nabuco ignorou importância de predecessor
DE SÃO PAULO
A nova marola em torno de
Luiz Gama ocorre junto com
outra efeméride, a do centenário de morte de Joaquim
Nabuco (1849-1910), o mais
notório abolicionista do país.
Tão surpreendente quanto
o desdém que perdura em relação a Gama é a constatação
de que Nabuco ignorou em
sua obra um predecessor que
lhe abriu tantos caminhos.
Podem ter contribuído para isto questões políticas (Nabuco se manteve monarquista mesmo proclamada a República; Gama fundou o Partido Republicano Paulista) e
de classe (este um mulato pobre; aquele, um branco aristocrata), mas um fato específico parece esclarecedor.
Luiz Gama atacou o pai de
Joaquim Nabuco -o senador, ministro da Justiça, presidente da província de São
Paulo e conselheiro de Estado Nabuco de Araújo.
Em um texto de 1880, dois
anos após a morte do político, Gama é mordaz ao criticar
atitudes de Nabuco de Araújo que ajudaram a perpetuar
o regime escravagista, entre
elas um parecer em que defendia estar revogada uma
lei de 1818 que proibia o tráfico de escravos.
"Aquele invocado "parecer" (...) e o "aviso confidencial" que acabo de referir foram escritos com penas de
uma só asa; são formas de
um só pensamento; representam um só interesse: sua
origem é o terror; seus meios,
a violência; seu fim, a negação do direito: os fatos têm a
sua lógica infalível", escreveu Gama referindo-se ao pai
de Joaquim Nabuco.
O texto é reproduzido, sem
o devido contexto, no livro de
Luiz Carlos Santos, para
quem Gama "mostrou a contradição dos que defendiam
a Abolição mas mantinham
escravos em casa".
(FV)
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